O ataque na Catedral Metropolitana de Campinas, em 11 de dezembro de 2018, que deixou incrédula a população da cidade, além de ter virado os olhos de todo o País e de várias partes do mundo para cá, acaba de completar três anos. Apesar do duro golpe, a comunidade paroquial se manteve firme, por meio da fé, e a igreja seguiu sua atuação sem alteração da rotina.
Naquele dia, o analista de sistemas, Euler Fernando Grandolpho, de 49 anos, morador em Valinhos, entrou na igreja, se sentou em um dos bancos, esperou a missa acabar, se levantou e passou a atirar aleatoriamente contra os fiéis da missa que tinha começado às 12h15. Ele entrou na Catedral, por volta das 13h e o ataque ocorreu às 13h15. Ao menos 20 tiros foram disparados por ele, que portava duas armas.
Sidnei Vitor Monteiro, de 39 anos, José Eudes Gonzaga Ferreira, de 68, Cristofer Gonçalves dos Santos, de 38, e Elpídio Alves Coutinho, de 67, morreram na hora. No dia seguinte, no hospital, morreu a quinta vítima, Heleno Severo Alves, de 84 anos.
A polícia invadiu o local e houve troca de tiros. Ao ser alvejado pela polícia, Grandolpho se suicidou com um tiro.
A Polícia Civil fez extensa investigação sobre o caso, analisou computador, celular e outros dispositivos do atirador e concluiu que ele agiu sozinho. Segundo as investigações, Grandolpho tinha problemas psiquiátricos, se sentia perseguido e por isso cometeu o crime. Ele já tinha feito tratamento contra depressão e provavelmente teve um surto psicótico por conta da doença.
Em frente
Padre Caio Augusto de Andrade, pároco da Catedral, diz que foi criada uma rotina celebrativa em memória das vítimas.
“Já faz três anos. Nós temos celebrado, em sufrágio das almas, sempre no dia 11 de dezembro, a missa das 12h15, que foi a missa do atentado. Criou uma rotina celebrativa, de fazer a memória, de fazer um momento de reivindicação de segurança, de pedir por paz”, diz.
Mas a rotina do templo não foi alterada por conta do atentado, segundo Padre Caio.
“Não houve grande mudança. O que mudou bastante foi mais a pandemia do que o fato do atentado. O atentado é um fato isolado, e nunca na história de Campinas aconteceu algo assim, principalmente no Centro, em um prédio histórico. O que mudou muito a rotina foi a pandemia, o distanciamento, tivemos de criar mais missas”, explica o pároco.
A empresa de segurança também foi trocada nesse período.
“Rompemos contrato com a empresa de segurança porque nós não achávamos que ela prestava um bom serviço. Temos dois seguranças contratados em nome da diocese, mas é só isso”, reforça.
Padre Caio conta que tentou manter a presença da Guarda Municipal, mas não teve êxito.
“Fiz algumas reuniões com os vereadores, tinha proposto para que colocasse, durante a abertura, a Guarda Municipal, já que é um prédio histórico, tombado, patrimônio da cidade. A Catedral é um patrimônio público só que não foi para a frente. Segundo eles dizem, a lei não permite porque seria favorecimento. Então, não consegui progredir para garantir mais segurança no prédio público”, conta.
Tragédia repetida
Essa tragédia que marcou a história da cidade e da igreja, porém, não foi a única a ocorrer no solo sagrado da Catedral Metropolitana de Campinas, conforme narra o advogado, historiador e presidente da Academia Campinense de Letras (ACL), Jorge Alves de Lima, em seu livro Carlos Gomes – A Última Morada, de 2019.
De acordo com ele, outra morte aconteceu na porta da igreja. Por coincidência ou não, a confusão que gerou essa morte ocorreu em 8 de dezembro de 1898, no Dia de Nossa Senhora da Conceição.
“Houve uma missa cantada, com comunhão dos fiéis e um sermão feito pelo Cônego Manoel Vicente. Mas ao meio-dia, houve uma gritaria no interior da Matriz Nova da Conceição – atual Catedral Metropolitana de Campinas –, seguida de luta entre pessoas que usavam suas bengalas como armas, e na sequência um sinistro ruído de tiro”, diz.
O jornal Diário de Campinas, na edição de sábado, dia 10, informou que o evento teve consequências traumáticas e lamentáveis.
Segundo o jornal, Clodomiro Salustiano de Souza, escrivão da Fazenda Santo Antônio, e Antônio Salles Nogueira, ajudante de guarda livros, mantinham uma longa e estreita amizade, mas que por questões familiares desconhecidas, esfriou. No domingo anterior ao fato, ambos estavam passeando pelo bairro Guanabara, quando passaram a discutir e fazer ameaças.
De acordo com a fonte jornalística, na quinta-feira, 8, ao meio-dia, Salustiano saiu da igreja acompanhado do professor Francisco da Costa Ribeiro, quando desceu o primeiro degrau da escada da porta principal, foi abordado por Nogueira, que foi tirar satisfações da discussão anterior e lhe deu uma bofetada. Salustiano tentou revidar com uma bengalada, mas não o acertou.
Ribeiro, em defesa do amigo, deu uma bengalada na nuca de Nogueira. Salustiano, na sequência, acertou uma sequência de golpes.
“Desesperado, como o disse na polícia, vendo-se agredido por tal forma, sacou de um revólver, apontou contra os agressores no intuito único de os atemorizar, desfechando-o por fim, ao ver que não cessavam de o espancar. A bala foi atingir Salustiano pelas costas e penetrando no quinto espaço intercostal e foi alojar-se no pulmão esquerdo”, traz trecho da reportagem do Diário de Campinas.
Nogueira afirmou às autoridades que não mirou no antigo amigo e que disparou o revólver inconscientemente. Salustiano foi levado à Farmácia Salles, onde foi examinado pelos médicos Domingos de Azevedo e Castro de Menezes. Após o exame, foi transportado para o Hotel de França, onde morreu na manhã seguinte, às 9h40.
“Nogueira foi preso em flagrante por dois guardas municipais que o entregaram ao delegado de polícia Benjamim Reinhardt”, completa a publicação.
Jorge Alves de Lima reforça que essa foi a primeira tragédia na Catedral. “O templo sagrado da Catedral Metropolitana de Campinas, já naquele ano de 1898, foi palco de uma tragédia. Aqui se encaixa perfeitamente o bordão: a história sempre se repete”, conclui.