“E o Centro de Convivência, como vai?” Essa é uma das perguntas mais comuns que o produtor cultural de Campinas Reginaldo Menegazzo ouve quando sai da cidade para realizar apresentações pelo Brasil afora. E a resposta há 11 anos é sempre a mesma: “Está fechado”.
De referência na terra de Carlos Gomes e orgulho campineiro, o Centro de Convivência Cultural, na Praça Imprensa Fluminense, no Cambuí, se transformou em símbolo de lamentação. Em função do descaso do poder público, o espaço de arquitetura ousada e que era endereço certo para grandes espetáculos “agonizou” e ficou esquecido. No entanto, há quem diga que Menegazzo já pode mudar sua resposta quando perguntarem sobre o Centro de Convivência. E o secretário de Infraestrutura da Prefeitura, Carlos Barreiro, explica o porquê.
“O espaço cultural que a cidade perdeu, vamos entregar com padrão de primeiro mundo”, definiu nesta segunda-feira (24) Barreiro, destacando que 80% da reforma estrutural está concluída após dois anos de obra, completados neste mês de outubro.
“O que existe de melhor disponível no mercado será aplicado no Centro de Convivência”, completa, garantindo uma ressurreição da área. “O objetivo é voltar a tornar aquele ambiente vivo.” A reinauguração, no entanto, vai levar um tempo, já que uma outra fase do projeto ainda terá início. “Talvez em agosto ou setembro de 2024 entregaremos”, calcula o secretário.
Histórico
Esperar dois anos para ver o Centro de Convivência revitalizado é até reconfortante para uma cidade que quase presenciou seu desaparecimento. O ator e diretor de teatro Hélcio Henriques viu de perto a degradação da estrutura com “dor no coração”.
“Em 2010, um ano antes da interdição, levei para lá o espetáculo da escola onde eu dava aula de balé e foi triste”, recorda. “Fiquei na técnica matando escorpião. Havia vazamento, os camarins estavam fechados e deteriorados e a iluminação estava horrível”, conta Hélcio, antigo proprietário do Cine Paradiso, no Centro, espaço fechado em 2009.
Menegazzo teve experiência semelhante nas últimas apresentações que realizou na casa de espetáculo. “Uma vez estava chovendo e a água jorrava pelas paredes. Nem deveria mais estar aberto naquela ocasião”, recorda.
Novela e, enfim, as obras
Barreiro explica que a estrutura foi completamente afetada e a Prefeitura teve que interditar o local em 2011 para avaliar o que fazer. O caso virou uma novela. Em 2013, o Executivo anunciou que a área seria reformada, mas o início das obras foi adiado de forma sucessiva.
Uma licitação também chegou a ser suspensa, pois houve questionamento técnico das empresas participantes. “Era um trabalho bem complexo e exigia muitos recursos”, detalha o secretário de Infraestrutura.
Só em outubro de 2020 as obras começaram graças a um convênio da Prefeitura com o Governo do Estado, que se comprometeu a custear a reforma, orçada em cerca de R$ 44 milhões (R$ 19 mi na primeira etapa e R$ 25 mi na segunda).
Após o processo licitatório, a Construtora Progredior passou a executar a primeira fase, que contemplou reestruturação do sistema elétrico, hidráulico e de acessibilidade, além de eliminação de rachaduras e infiltrações no concreto. A perspectiva era encerrar a etapa inicial em dezembro, mas um detalhe essencial para a eficácia do trabalho adiou a conclusão, que deve acontecer em março de 2023.
“A impermeabilização da estrutura para evitar novas infiltrações nos levou a fazer uma ampla pesquisa de mercado”, justifica o secretário. “Após intensa investigação, selecionamos uma empresa especialista, que está importando o produto. A aplicação tem de ser muito cuidadosa e leva um tempo”, justifica. “É uma capa protetora que impede definitivamente qualquer tipo de infiltração.”
A segunda fase da obra
O projeto para a realização da segunda fase está em elaboração e deve ser concluído no final de novembro. A previsão é de que o processo licitatório aconteça ainda neste ano e no início de 2023 as obras tenham início. A etapa envolve a reestruturação de toda parte técnica, como sistema de iluminação, imagem e som.
O objetivo é aplicar tecnologia avançada em cada detalhe que envolve a apresentação de um espetáculo. A Prefeitura convidou a classe artística de Campinas para contribuir com sugestões e, segundo Barreiro, as propostas foram incorporadas ao projeto.
O secretário ainda ressalta que cada sala do Centro de Convivência foi redesenhada para melhor abrigar os espetáculos e as exposições. A Orquestra Sinfônica de Campinas terá o seu espaço no local para ensaios e armazenamento dos instrumentos. Uma área ainda pode servir para projeções de filmes. A volta do tradicional Café La Recoleta no interior do complexo está nos planos. E os espetáculos no Teatro de Arena, na área externa, prometem ser mais empolgantes, após as reformas nas arquibancadas e refletores.
Manutenção
Um dos principais desafios depois da obra entregue será o trabalho de manutenção por parte da secretaria de Cultura, afirma Barreiro. “Um bibelô tem que cuidar, senão quebra”, compara, lembrando que a preservação será essencial para a “continuidade do espetáculo”. A opinião é compartilhada pelo produtor cultural Menegazzo, que ressalta a necessidade também de manter equipes especializadas nas áreas técnicas.
“Hoje, no Castro Mendes, por exemplo, falta gente no apoio. E é o único grande teatro da cidade”, aponta, criticando ainda a falta de espaços culturais em Campinas. “Os que têm estão em situação precária.”
Saudade
O Centro de Convivência Cultural de Campinas foi inaugurado em 9 de setembro de 1976 e o projeto original é do arquiteto Fábio Penteado. São 6 mil metros quadrados de área total (4 mil de área externa e 2 mil de área interna). E o espaço nunca passou por uma reforma estrutural completa, segundo a administração municipal.
Para a atriz Neusa Doretto, que participou do Rotunda, importante grupo teatral de Campinas no final dos anos 70, o Centro de Convivência foi o responsável pelo pulsar da cultura na cidade. “Lamento que tenha sido abandonado. Mas, como se diz, a esperança é a última que morre. Aguardamos ansiosamente pelo seu retorno.”
O ator e diretor Hélcio Henriques também aguarda com expectativa a reabertura. Ele espera que o local volte a ser de fato um lugar de convivência cultural. E ainda tem a esperança de que o calçadão em frente seja novamente um estacionamento, “como era antigamente.” “Hoje, o que afasta muito as pessoas dos espetáculos é a falta de lugar para estacionar”, acredita.
Também é do seu desejo que o MIS (Museu da Imagem e do Som) retorne ao Centro de Convivência, como era no passado, por considerar o endereço atual, no Centro, sem segurança. No entanto, levando em conta que o MIS passa também por reforma, assim como a região central por uma revitalização, o secretário de Infraestrutura já adiantou que não haverá mudança.