A notícia da morte do baterista inglês Charlie Watts, aos 80 anos, na última terça-feira (24), em Londres, pegou de surpresa a comunidade do rock e causou comoção entre milhares de fãs espalhados ao redor do mundo. Um deles, muito mais do que um simples fã, é o jornalista e músico brasileiro Tony Monteiro, nome artístico de Antônio Carlos Monteiro, de 63 anos, guitarrista da banda Jack Flash, que presta tributo aos Rolling Stones há mais de 10 anos, em Campinas.
“É uma perda incomensurável! A importância de Charlie Watts para o som dos Stones é quase indescritível, pois saía, antes de tudo, das mãos dele. Nunca se preocupou em ser um virtuoso da bateria, mas era absolutamente imprescindível para que a banda soasse como soou durante todos esses anos. Não tinha a exuberância de Keith Moon, a técnica de Ginger Baker ou a pegada de John Bonham, mas nenhum baterista do planeta consegue chegar perto do que ele fazia na banda”, ressalta Tony Monteiro.
“Sempre evitei a palavra ídolo, já que isso envolve muito mais do que apenas talento, mas Charlie era um dos músicos que eu mais gostava”
“Sempre evitei a palavra ídolo, já que isso envolve muito mais do que apenas talento, mas Charlie era um dos músicos que eu mais gostava. A expressão de tédio comedido em alguns shows e vídeos, a discrição e a precisão absurda na condução das músicas estão entre os fatores que me faziam admirá-lo demais”, acrescenta o músico.
Além do aspecto musical, Tony Monteiro define a posição de Charlie Watts na banda como “algodão entre os cristais”, mantendo os Rolling Stones unidos durante tanto tempo.
“Ele era sempre o mediador das brigas entre Mick Jagger e Keith Richards, que aconteciam mais ou menos a cada 15 minutos nos anos 80”, pontua Monteiro.
Formado em 1962, o grupo inglês está prestes a completar 60 anos de existência em 2022, embora Charlie Watts torcesse o nariz para essa contagem. “Com aquele típico humor inglês, ele reclamou das comemorações dos 50 anos da banda em 2012. Ele entrou nos Stones em 1963, então para ele o ano que deveria valer seria 2013”, relata Tony Monteiro.
Em abril do ano passado, no início da pandemia de Covid-19, Charlie Watts protagonizou momento cômico impagável em uma apresentação virtual dos Rolling Stones, no evento beneficente “One World: Together At Home”, promovido pelo Global Citizen em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Na falta de uma bateria real, ele usou cases e o braço do sofá para tocar ‘You Can’t Always Get what You Want’. Foi um pouco daquele humor britânico que ele tão bem representava”, destaca Tony Monteiro.
“Apesar de ser muito fã dos Stones, em minha opinião, a banda deveria encerrar atividades, tanto por respeito a ele como para preservar o som que acostumamos a ouvir. Os Stones não podem correr o risco de substituí-lo e passarem a soar como um cover deles mesmos”, clama o guitarrista da Jack Flash.
“Apesar de ser muito fã dos Stones, em minha opinião, a banda deveria encerrar atividades, tanto por respeito a ele como para preservar o som que acostumamos a ouvir”
Ao todo, Tony Monteiro assistiu a seis dos 12 shows que os Rolling Stones fizeram em quatro visitas ao Brasil, entre 1995 e 2016.
“No primeiro deles, no estádio do Pacaembu, quando Mick Jagger apresentou a banda e anunciou Charlie, o que se viu foi uma das maiores ovações que um artista já recebeu. A cara dele em close no telão mostrava alguém entre o surpreso e o sinceramente emocionado. Teve que vir ao Brasil para receber o aplauso que sempre mereceu”, relembra Tony Monteiro, que também marcou presença em apresentações das turnês brasileiras de 1998 e 2016.
Ele só não estava na passagem marcada pelo histórico show gratuito em 2006, na Praia de Copacabana, que reuniu cerca de um milhão e meio de espectadores.
Jack Flash Tribute
Formada em 2006, em Campinas, a banda Jack Flash nasceu com o objetivo de prestar tributo aos Rolling Stones, sempre respeitando a abordagem musical e os timbres do grupo original, mas sem a intenção de fazer cover, isto é, com caracterização e representação dos músicos homenageados.
Após algumas reformulações em seus primeiros anos de vida, a Jack Flash possui a mesma formação desde 2009, com o vocalista André Hellmeister, os guitarristas e backing vocals Tony Monteiro e Chico Marinelli, o baixista Ralf Crow e o baterista César Pinheiro.
O repertório da banda traz clássicos indispensáveis como “Start Me Up”, “Brown Sugar” e “Saint Of Me”, além de canções não tão conhecidas, mas nem por isso menos importantes, a exemplo de “Mother’s Little Helper” e “Connection”.
“Infelizmente, o Jack Flash está absolutamente parado por conta da pandemia. A gente ama tocar, mas estamos diante de algo muito sério, que é a Covid-19. Estamos prestes a retomar os ensaios, já que muito em breve todos os músicos terão tomado as duas doses da vacina. Já estou rabiscando alguma coisa que deve virar um show especial, já que no ano que vem os Stones completam 60 anos, então vem novidade por aí”, avisa Tony Monteiro.