Levantamento realizado pela Regional Campinas do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) aponta que metade das indústrias da região acredita que, por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, haverá um recuo na globalização, o que demandará um processo de reindustrialização do Brasil. O ponto positivo dessa situação seria a menor dependência de insumos importados, por outro lado, o custo brasil é um entrave para o investimento em novos setores industriais.
Para o diretor do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, o processo de globalização ocorrido sobretudo nos anos 90, fez com que houvesse a transferência do emprego industrial dos países produtivos da Europa, dos Estado Unidos e do Brasil, para a Ásia.
“Com a pandemia a gente começou a ver que somos carentes, quase reféns da China, do Vietnã, da Indonésia, da Malásia, da Coreia, em produtos muito necessários. Se a gente tiver do lado de cá do mundo fábricas de chips e componentes, produtos farmacêuticos, químicos e siderúrgicas, a gente consegue uma melhor competitividade, mas não só, o mundo ficaria menos dependente e carente de produtos que estão na mão desses países”, avalia.
Ainda segundo José Henrique Toledo Corrêa, o processo de reversão da globalização deve acontecer em médio e longo prazo e será benéfica.
“A necessidade dessa reversão é, de certa maneira, benéfica, porque ela vai gerar novas fábricas, novas linhas de produção, e o Brasil é um país amigo de todos esses grandes produtores de alta tecnologia. Um exemplo, há alguns anos a gente lembrou que o Brasil perdeu uma fábrica da Intel para a Costa Rica, mas se nós tivéssemos uma fábrica da Intel aqui no Brasil, seria benéfico, a gente estaria fornecendo chip para o mundo todo e alto valor agregado”, aponta.
Desindustrialização
O diretor do Ciesp-Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, afirma que apesar da desindustrialização ocorrida nos últimos anos, são necessárias ações efetivas para reverter esse quadro, como a Jornada de Transformação Digital.
“Queremos empresas adequadas à quarta geração da indústria. Nesse sentido, o Ciesp juntamente com o Senai e Sebrae lançaram a Jornada da Transformação Digital. Esse programa prevê oferecer consultoria e suporte profissional para que 40 mil indústrias no Estado de São Paulo, nos próximos quatro anos modernizem seus sistemas. A previsão é aumentar em até 50% a produtividade das empresas que aderirem ao programa”, explicou.
Contudo, de acordo com ele, para que haja uma reindustrialização do país, é preciso a redução do chamado custo Brasil.
“A desindustrialização aconteceu por causa do custo Brasil. Ficou muito caro fabricar. Por exemplo, para fazer uma bicicleta saía R$ 200, enquanto para você trazer da China pagava R$ 50. Por que eu vou comprar aqui do Brasil se eu posso comprar da China? Isso é um exemplo de desindustrialização na prática”, comenta.
“É o custo Brasil que estraga a atividade produtiva no Brasil”, afirma.
Para diminuir esse custo, o diretor da Ciesp defende a privatização de estatais, uma CPI nos órgãos públicos para acabar com o que chamou de privilégios e a redução de cargos comissionados e de políticos em todas as esferas da administração.
Indicadores
Na Sondagem Industrial de maio, o volume de produção diminui para 45% das empresas associadas. Em abril, 29% das respondentes apontaram diminuição na produção. Em decorrência disso, o faturamento também diminuiu para 55% das associadas. Em abril, 35% das empresas informaram diminuição no faturamento. A inadimplência permaneceu inalterada em maio para 95% das respondentes.
Para 50% das indústrias da região, o nível de utilização da capacidade instalada de produção ficou entre 70,1% a 100% em maio. Já em abril, 76% das indústrias afirmavam estar nessa mesma faixa de capacidade instalada.
Nessa pesquisa, 54% das empresas informaram que não irão realizar investimentos na ampliação da capacidade produtiva para os próximos 12 meses.
Na avaliação do diretor José Henrique Toledo Corrêa, essa diminuição na produção, faturamento, utilização da capacidade instalada e investimentos não devem representar necessariamente uma tendência, mas refletem as incertezas do momento econômico, tanto do ponto de vista interno, como externo.