Temas espinhosos e complexos vieram à tona, de forma explícita, na cerimônia de entrega da nova estrutura funcional do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, na manhã desta sexta-feira (1). O evento marcou a entrada em operação de mais quatro pontes de embarque e desembarque e a finalização da obra de reforma da pista para pousos e decolagens. O investimento total foi de R$ 66 milhões, valor bancado pelo Consórcio Brasil Viracopos, que está completando dez anos à frente da concessão.
A cerimônia, porém, abriu espaço para que personagens importantes das esferas pública e privada pudessem deixar recados contundentes sobre a necessidade de aproveitar o grande potencial econômico e social de Viracopos e, também, de desamarrar os nós e entraves burocráticos que atrapalham ou atrasam o voo de cruzeiro do aeroporto.
Os recados foram direcionados a representantes de governos e de instâncias que têm responsabilidade na gestão, apoio ou fiscalização de assuntos relacionados a Viracopos. Sobrou até para a Azul Linhas Aéreas, a companhia que adotou Campinas como hub, cobrada pelo valor de suas tarifas, consideradas altas e pouco competitivas em relação aos demais aeroportos da Grande São Paulo, Guarulhos e Congonhas.
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O presidente do Conselho de Administração da Aeroportos Brasil Viracopos, João Villar Garcia, foi quem abriu os discursos. E foi dele, inclusive, o primeiro recado. “Não permita que esse sonho de transformar Viracopos no maior aerotrópole do Brasil se acabe”, pontuou, dirigindo-se para o prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis, presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (RMC).

Garcia integra o consórcio privado e reiterou que o poder público precisa dar respaldo não só ao investidor, mas também ao empreendimento como indutor de crescimento econômico. O conceito de aerotrópole diz respeito a um cenário em que o aeroporto e toda a sua cadeia de atendimento constituem-se numa espécie de sub-metrópole, conectando infraestrutura, geração de renda e emprego, desenvolvimento e expansão urbana.
O pano de fundo desse primeiro recado é a necessidade, defendida por lideranças regionais, de não reduzir o tamanho do sítio aeroportuário.
O processo de relicitação de Viracopos tem gerado capítulos de uma novela que se arrasta há vários anos. Estão nessa lista de dificuldades a recuperação judicial do consórcio que assumiu o aeroporto, entraves no Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental, a complexidade do edital de um novo leilão e a redução, depois revista, do tamanho do sítio aeroportuário, de 27km2 para 13km2.
De acordo com o diretor de Operações de Viracopos, Marcelo Mota, uma eventual redução teria impacto severo no projeto de expansão do aeroporto, inviabilizando a criação de mais espaço logístico para cargas e de novos terminais de passageiros. Viracopos é o maior aeroporto de cargas do País. Por ele entra – e sai – boa parte de bens de consumo e de insumos vitais para a sociedade. Um exemplo citado no evento foi o envio das vacinas contra a Covid-19, carregamentos que chegaram para salvar vidas.

Defesa intransigente
Os prefeitos de Campinas e Jaguariúna fizeram defesas assertivas de Viracopos, cobrando esforços colegiados por sua vocação econômica e papel estratégico regional. “Nem sempre Viracopos foi assim. É preciso relembrar como chegamos até aqui. Desde os anos 1960, quando se esperava que fosse ampliado, optou-se por mais um aeroporto em Guarulhos. E Campinas, perto da Capital, estava mais que condicionada. Ao invés de ampliar esse aqui, vimos no passado ele decadente e obsoleto”, narrou Gustavo Reis, também presidente do Conselho da RMC, recordando décadas anteriores.
Ele aproveitou a presença no evento do secretário nacional de Aviação Civil, Ronei Saggioro Glannzmann, para pedir que sua Pasta interceda de forma assertiva junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que o tamanho do sítio aeroportuário de 27km2 seja mantido. O secretário consentiu e garantiu que isso está assegurado. “Isso está contemplado na nossa modelagem no TCU”, disse, sobre o edital.
Gustavo Reis também cutucou a Azul Linhas Aéreas sobre a sua política tarifária das taxas de embarque, motivo de críticas dos usuários. “Faço um apelo à Azul para que pratique uma política tarifária justa”, pregou.
Em nota, a Azul esclareceu “que os preços praticados na comercialização de seus bilhetes variam de acordo com alguns fatores importantes como trecho, sazonalidade, compra antecipada, disponibilidade de assentos, entre outros.” E acrescentou. “Além disso, a companhia ressalta que a alta do dólar e do combustível, algo que vem ocorrendo sistematicamente, também são elementos que influenciam nos valores das passagens”.
Ainda sobre tarifas, o secretário nacional de Aviação Civil revelou que haverá uma redução geral no Brasil desse valor a partir de 1º de janeiro de 2023, fruto de lei sancionada recentemente. Ele refere-se à Lei do Voo Simples, sancionada pelo governo federal no último dia 15 de junho. Seu objetivo, de acordo com a gestão dos órgãos da aviação brasileira, é apostar na “simplificação”, em “maior eficiência” e em “menos custos”.

Ronei Glanzmann afirmou que a redução das tarifas aeroportuárias girará em torno de 35%. A tarifa média de embarque para voo doméstico passará, segundo ele, de R$ 35 para R$ 25. E de voos internacionais, de R$ 60 para R$ 45. “É uma desoneração para os passageiros e para as empresas aéreas”, reforçou.
Ele fez questão de elogiar a gestão privada de Viracopos, que mesmo com as incertezas do processo de relicitação manteve o cronograma de investimentos. “Viracopos não pode parar até que todas esssas questões sejam resolvidas”, defendeu. “Sabemos da qualidade da gestão de Viracopos. Viracopos segue perfomando”, parabenizou.
Pilar estratégico
O prefeito de Campinas, Dário Saadi, resumiu o aeroporto como “estratégico e fundamental” para Campinas, RMC e o País. Para ele, o aeroporto é importante não só como “indutor de desenvolvimento, mas para que o País possa retomar o crescimento econômico” pós-pandemia.
E também cobrou as instâncias federais sobre a necessidade de o tamanho do sítio aeroportuário ser mantido em 27km2, tema que mobilizou prefeitos da região, capitaneados por ele e por Reis. “O futuro do aeroporto depende da área. Sabemos que enfrentaremos problemas de desapropriação, mas Viracopos não pode deixar de crescer”, pregou.

O que foi entregue
Das quatro novas pontes de embarque e desembarque, duas serão destinadas aos voos domésticos e as outras duas serão híbridas, ou seja, podem ser usadas eventualmente em voos domésticos ou internacionais. São elas: B11, B12, B13 e B14. Com isso, todas as 28 pontes de embarque e desembarque do aeroporto estão em operação.
Esses quatro portões já estavam com a infraestrutura pronta, mas passaram por obras de acabamento. As escadas rolantes e os elevadores foram colocados em operação, incluindo a instalação de longarinas, pontos de energia, sanitários e painéis de informação de voos.
Excelência
Viracopos foi eleito o Melhor Aeroporto do Brasil em 2021 na categoria acima de 10 milhões de passageiros/ano em pesquisa de satisfação de passageiros realizada pela Secretaria de Aviação Civil (SAC). Esta foi a terceira vez que Viracopos conquistou o título anual, sendo que nas duas outras vezes anteriores o aeroporto ganhou na categoria geral, superando 20 aeroportos.
Viracopos é até agora o maior vencedor da história do prêmio, que é realizado pelo governo federal desde o início das concessões, em 2013. Além dos 3 títulos anuais, Viracopos já venceu 13 vezes a pesquisa trimestral de melhor do País.
Nos cinco primeiros meses deste ano, o fluxo no Aeroporto de Viracopos foi de 4,6 milhões de passageiros. No mesmo período, em 2021, foi de 3,5 milhões. Em maio último, bateu na casa do 1 milhão de passageiros transportados. A projeção para 2021, celebrada no evento desta sexta-feira, é que Viracopos alcance o recorde 12 milhões de passageiros anuais.
Em escalada mundial, Viracopos é considerado o 10º melhor do mundo, segundo o ranking AirHelp Score 2022.
Além de prefeitos da RMC, autoridades do Legislativo e do Judiciário e executivos do Consórcio, também participaram do evento representantes do governo federal, da Polícia Federal, do Ciesp e os secretários municipais de Desenvolvimento Econômico, Adriana Flosi; e de Trabalho e Renda, Gustavo Tella. O presidente da Sanasa, Manuelito Magalhães Júnior, também marcou presença.