James Ocan tinha apenas 7 anos de idade quando foi obrigado a fugir de casa com a mãe e os irmãos mais novos em função de um ataque de guerrilheiros no norte de Uganda. Ao voltar ao local com a família após três dias, ele encontrou o pai morto. Um ano depois, a mãe também faleceu e o garoto se viu sozinho com os irmãos em meio a uma guerra civil que assolava o país africano. Hoje, James tem 26 anos de idade, é recém-formado em Administração de Negócios e nesta terça-feira estará em Campinas para contar sua história.
James é baterista do Coral de Crianças Watoto, de Uganda, que se apresentará a partir das 19h30 na Igreja Presbiteriana de Campinas. No repertório do grupo, que está em turnê pelo Brasil, as músicas têm como tema a celebração. E não poderia ser diferente. Seus integrantes são parte de uma causa envolvida na reestruturação de famílias e recuperação de crianças que têm histórias de vida semelhantes à de James no país centro-africano.
“Quando eu tinha 9 anos, uma assistente social veio para a nossa vila à procura de crianças vulneráveis em virtude da guerra. E foi assim que eu e minha irmã chegamos ao Watoto. Nossas vidas foram totalmente transformadas. Recebemos um lar, roupas, comida e uma mãe que nos amou por todos esses anos como se fôssemos filhos dela mesma”, conta James.
O Watoto, que significa Criança em suaíli, idioma falado em Uganda e outros países africanos, é uma ONG definida em sua plataforma como uma grande Família. O projeto é integrado por três grandes vilas na capital Kampala, estruturadas por várias casas de arquitetura padronizada com três quartos cada uma, além de espaços para educação, saúde e lazer.
Crianças órfãs e mães que perderam seus filhos e maridos, principalmente em função da guerra, são encaminhadas aos locais por assistentes sociais espalhados pelo país. Nas vilas, novas famílias são estruturadas. A ONG, de acordo com sua plataforma, tem metas ousadas, como formar lideranças no país com base no amor fraternal.
“Não importa o tamanho da dificuldade pela qual a pessoa passa. Sempre há uma esperança”, é a mensagem de James.
O Watoto existe há 39 anos e já reabilitou mais de 5 mil crianças, de acordo com a ONG. O idealizador foi o casal missionário canadense Gary e Marilyn Skinner. Hoje, além de Uganda, o Sudão do Sul também recebe atendimento. O sistema de apoio às famílias é mantido através de doações. O apadrinhamento também é uma alternativa, por meio do qual o colaborador tem a oportunidade de manter contato com a criança que escolhe apadrinhar (https://www.watoto.com/apadrinhe/crianca/?lang=pt-br)
O coral
O Coral de Crianças Watoto surgiu em 1994 em função da habilidade natural que o africano tem para a música que é aperfeiçoada com aulas específicas nas vilas. São vários grupos que fazem apresentações. Cada criança envolvida viaja apenas uma vez acompanhando o coral, e novas turmas são formadas a cada viagem para fora do país.
É a segunda vez que a Igreja Presbiteriana de Campinas recebe a apresentação. A primeira foi em 2018 e a deste ano faz parte da turnê “We Will Go” (Nós iremos), que começou em Curitiba e se estenderá pelos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal durante três meses. As apresentações marcam a volta do coral às atividades depois do período da pandemia.
O grupo que se apresentará em Campinas é formado por dez adultos e 16 crianças entre 9 e 12 anos de idade. Além cantar e dançar, os integrantes também contam suas histórias de vida. Uma das crianças que fazem parte do coral, por exemplo, foi resgatada ainda bebê, depois de ser abandonada na porta de uma pousada.
“Todas são muito alegres, apesar das circunstâncias de onde elas vêm. Isso contagia as pessoas que assistem”, atesta o pastor da Igreja Presbiteriana, Carlos Eduardo Aranha, que espera lotação máxima no templo nesta terça.
SERVIÇO
Coral de Crianças Watoto, de Uganda – apresentação da turnê “We Will Go” (Nós iremos)
Local: Igreja Presbiteriana de Campinas
Data e horário: Terça-feira, 20/6, às 19h30
Endereço: Rua General Osório, 619, Centro
Entrada: gratuita