Com os WhatsApp e outros sistemas instantâneos de hoje, os usuários humanos não estão realmente se falando, ou melhor, se comunicando, mas estão apenas sendo alertados.
Parece que devemos estar em constante prontidão e, neste contexto, o termo correto, alertas, é usado para descrever a deliberada incitação ou empurrão do software em direção a resultados específicos. Até podemos chamar de ‘melhores práticas para engenharia de comunicação rápida.’
Os usuários, é claro, também estão agindo cada vez mais ‘como se estivessem.’ Também eles devem se envolver em atos de emulação, brincando, conversando de maneiras amigáveis, suspendendo qualquer descrença sobre a experiência do texto preditivo, para manter os contatos sempre próximos é preciso se tornar um produtor de conteúdo. Entradas de alta qualidade são recompensadas com saídas de alta qualidade; esses softwares são uma espécie de espelho do usuário, alimentando-o com feedback em loop. O que está acontecendo é a troca de dados entre pessoas, se forem dados bons, somam, se forem dados ruim, machucam.
Eu sempre gostei de tecnologia, e posso dizer que minha vida passou por modernas experiências desde 1974, até hoje trabalho com algoritmos e lógica quântica. Mas me preocupo com o excesso de conexões que pouco contribuem, ao mesmo tempo que geram frustrações e ansiedade.
Uma busca crônica de uma geração pela experiência otimizada pode ser um risco. Os tweets, shitposts, comentários, memes, resenhas e tiques lexicais, entre outros, muito me preocupam.
Isso tudo, sem contar o risco que uma adesão digital precoce é para as crianças, elas acabam perdendo suas infâncias. E se pensarmos que a infância vai até os 12 anos isso é muito triste.
Pois o brincar com amigos, na natureza, se perder na leitura de um livro é algo tão potente para formar bons seres humanos.
O intelectual é constantemente traído por sua vaidade. E, nestes dias, se você não tem WhatsApp, você não existe.
Neste sentido, prefiro ler muito mais e ser visto como não intelectual, ou não ser visto em geral.
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.