Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a cada cinco segundos, um adulto perde a visão no mundo. A cada minuto, uma criança enfrenta o mesmo problema. No Brasil, há pelo menos um milhão de pessoas cegas, e quatro milhões têm deficiências visuais, possuindo até 30% da capacidade de visão, conforme dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Os especialistas, no entanto, alertam que de 60% a 80% desses casos poderiam ser evitados com diagnósticos precoces.
Atualmente, as principais causas de cegueira no mundo, segundo a Agência Internacional de Prevenção à Cegueira, são os erros de refração não corrigidos (miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia), a catarata, a degeneração macular relacionada à idade e o glaucoma. Outra causa significativa é a retinopatia diabética (lesão na retina causada pela diabetes).
“Na população infantil, a principal causa de cegueira é o erro refrativo não corrigido. Estima-se que 2% a 10% das crianças apresentam erro refrativo significativo. Outras causas de cegueira infantil são infecções congênitas [rubéola, sarampo e toxoplasmose congênita], retinopatia da prematuridade, catarata congênita e distrofias retinianas”, informa a médica oftalmologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Érika Sayuri Yasaki, especialista em retina e vítreo pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Uso excessivo de telas prejudica a visão
O uso cada vez maior e mais cedo de celulares e outras telas tende a agravar o cenário. A OMS calcula que, até o ano de 2050, metade da população mundial será míope e terá dificuldade de ver à distância.
“Há uma expectativa de aumento da miopia nas próximas décadas como resultado da urbanização e mudança no estilo de vida, tais como menor tempo exposto ao ar livre e ampliação das atividades de perto, como o uso das telas. Houve ainda um crescimento da prevalência global de diabetes como resultado dos avanços da urbanização, consumo de alimentos menos nutritivos e hábitos sedentários que contribuem para a obesidade. Esse cenário favorece não somente o aumento do diabetes, mas também os casos de baixa de visão não acompanhados relacionados à diabetes, que é a retinopatia diabética”, alerta a oftalmologista.
Possíveis causas para o aumento dos casos evitáveis
A alta prevalência de doenças oculares no Brasil pode ser atribuída a diversos fatores, segundo especialistas ouvidos pela Agência Einstein. Entre elas, a insuficiência dos serviços de cuidados oculares frente à crescente demanda de prevenção e tratamento, o acesso restrito de atendimento oftalmológico nos postos de saúde e a ausência do uso de proteção ocular para indivíduos com atividades específicas.
Além do acesso limitado a intervenções eficazes, os oftalmologistas explicam que há uma porcentagem baixa de pessoas recebendo tratamentos adequados para condições como erro refrativo e catarata. Há, ainda, o próprio processo natural de envelhecimento da população brasileira, que também faz com que os casos de problema de visão aumentem.
“As variações geográficas e econômicas também influenciam nas causas de deficiência visual. Por fim, existem desafios específicos relacionados ao tratamento de certas enfermidades, como a necessidade de cirurgiões especializados para catarata e a facilidade de correção do erro refrativo com o uso de óculos ou lentes de contato”, destaca o médico oftalmologista Paulo Phillipe Moreira, chefe do setor de córnea nos hospitais Hospital Federal de Bonsucesso e do Hospital de Olhos de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Diagnóstico precoce é essencial
A realização regular de exames oftalmológicos completos é essencial para a detecção precoce de doenças oculares. Esses exames devem incluir toda a avaliação clínica dos olhos, como acuidade visual, percepção de profundidade, alinhamento e movimento dos olhos, além de exame de pressão ocular e de fundo de olho.
Já para os recém-nascidos, um exame importante é o Teste do Olhinho, que deve ser feito pelo pediatra logo após o nascimento. “Essa triagem detecta possíveis alterações que possam causar obstrução no eixo visual, como catarata, glaucoma congênito, entre outros problemas”, pontua Yasaki, do Einstein.
Caso considere necessário, o pediatra irá encaminhar o bebê ao oftalmologista, que orientará os pais em relação ao tratamento adequado. As maternidades públicas e particulares são obrigadas por lei a realizar o exame até a alta do recém-nascido. Depois, os pais devem levar o bebê a consultas regulares com o oftalmologista, além do acompanhamento com o pediatra.
A recomendação geral para consultas ao oftalmologista é anual, desde a infância até a velhice. No entanto, para pessoas com sintomas visuais ou histórico familiar de alguma condição ocular específica, é aconselhável um acompanhamento mais individualizado.
“Para crianças, é recomendada a triagem visual, pelo menos, uma vez ao ano. Indivíduos com diabetes devem se submeter a um mapeamento de retina anualmente. Já pessoas com alto risco de desenvolver glaucoma, incluindo afro-americanos acima de 40 anos e adultos em geral acima de 60 anos, devem realizar esses exames, no mínimo, a cada dois anos”, orienta Moreira.
Importância de um desenvolvimento e estímulos visuais adequados
É comum que as crianças atravessem uma fase de desenvolvimento visual enquanto estão aprendendo a enxergar. Durante esse período, é crucial que o cérebro receba imagens claras e focadas por igual nos dois olhos para garantir um desenvolvimento visual saudável. Se isso não ocorrer, a falta de estímulo visual apropriado pode resultar em alterações anatômicas e funcionais significativas.
“Neste sentido, é muito importante corrigir o erro refrativo com óculos, além do estrabismo com o uso de tampão (oclusor) e ainda tratar a ambliopia (chamado popularmente de “olho preguiçoso”) nas crianças o mais precocemente possível para que os danos provocados na visão não sejam irreversíveis”, esclarece a oftalmologista do Einstein.
Diversos estudos sugerem que uma maior exposição à luz natural e mais tempo gasto olhando para objetos distantes podem ser fatores-chave para a prevenção de doenças oculares, como a miopia. “A luz natural está relacionada à liberação de dopamina, substância que, na retina, contribui para o controle da miopia. Sendo assim, são recomendadas atividades ao ar livre por pelo menos três horas por dia, sobretudo para as crianças, além do controle dos minutos de tela”, orienta Yasaki.
A OMS recomenda que crianças menores de dois anos não tenham acesso a telas. Entre dois e cinco anos, o tempo máximo diário recomendado é de uma hora. Dos seis aos dez anos, o tempo máximo é de uma a duas horas por dia. Para jovens de 11 a 17 anos, o limite é de duas a três horas por dia. A orientação da OMS ressalta a importância de os pais ou responsáveis supervisionarem sempre os conteúdos que os filhos acessam.
Fonte: Agência Einstein