Depois de dirigir uma moto de brinquedo pelos corredores, Pedro, de 5 anos, deitou na cama e ficou observando o painel com o tema “fundo do mar” projetado no quarto. Mas ainda não era hora de descansar, afinal, o pequeno nem estava em sua casa. No hospital, ele se preparava para um procedimento anestésico antes de passar por uma cirurgia de hérnia umbilical.
Pedro foi uma das primeiras crianças a testar a recém-lançada experiência lúdica da ala de cirurgia pediátrica do Hospital Vera Cruz, de Campinas. Essa foi a alternativa encontrada pela instituição para suavizar um momento natural de tensão num ambiente hospitalar que antecede uma cirurgia. Segundo estudos, a medida gera efeitos positivos no ato do procedimento e na recuperação das crianças.
“Soubemos que meu filho poderia ir até o centro cirúrgico dirigindo uma motinho”, diz, surpresa, Maria Aparecida Luspa, mãe de Pedro.
“Ele simplesmente amou. Achamos a ideia fantástica. Tirou o foco do problema e deixou todos mais calmos. Pedro não comentou nada, mas reagiu de forma muito favorável. Antes, estava com muita fome, mas quando chegou a moto, tudo passou”, detalha a mãe.
De acordo com a psicóloga Natali Antunes, pesquisas na área mostram que a forma como as crianças pensam e sentem antes de uma cirurgia pode afetar a capacidade de recuperação.
“A preparação pré-cirúrgica, incluindo recursos lúdicos e o brincar, linguagem própria do universo infantil, reduz sentimentos negativos, como o medo e a insegurança, e contribui para a melhor colaboração da criança nas etapas que ela irá vivenciar”, explica.
“Pensando nisso, os recursos de distração disponíveis no contexto do processo cirúrgico poderão ativar aspectos cognitivos e afetivos positivos, retirando o foco dos aspectos aversivos e trazendo benefícios ao cuidado integral”, continua.
O chamado projeto de humanização começa na chegada da criança. Na recepção, ela já recebe um livrinho de colorir e giz de cera. Mas o ponto alto da diversão é, curiosamente, a ida para o centro cirúrgico. A tensão e preocupação são amenizadas com a possibilidade de dirigir uma moto ou um minicarro elétrico de controle remoto.
Quem contribui com o projeto é o Grupo Dahruj, formado por 26 concessionárias de veículos em São Paulo e no interior do estado. A empresa doou, no mês passado, quatro minicarros elétricos modelo Audi R8 Spyder para as alas de cirurgia pediátrica das unidades Vera Cruz.
Pedro, citado no início da matéria, adorou a experiência. A cirurgia pela qual passou foi um sucesso e, agora, ele pode descansar em paz sonhando, talvez, com a moto do hospital.