Isabela Tiburcio Fermino, de apenas 7 anos, se transformou na segunda vítima fatal, em menos de um mês, de tragédias ocasionadas por quedas de árvores em Campinas. Esta terça-feira era para ser um dia de diversão na Lagoa do Taquaral, para a menina comemorar o aniversário da prima. No dia 28 de dezembro, o técnico em eletrônica Guilherme da Silva, de 36 anos, morreu próximo ao Bosque, quando o carro que dirigia foi atingido por uma figueira branca de 35 metros. Era para ser um dia normal de trabalho de Guilherme.
A queda do eucalipto de aproximadamente 20m de altura que matou a menina dentro do Parque Taquaral reforça a discussão em Campinas a respeito das condições das árvores na cidade. A cidade ainda tentava reparar as falhas que levaram à morte de Guilherme, cujo carro foi atingido na Rua General Marcondes Machado. Somente na última semana, foram registradas a queda de mais de 200 árvores em função do alto volume de chuvas.
O secretário de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Paulella, esteve presente no Taquaral nesta terça-feira (24) logo depois do acidente. Ele acompanhou a remoção da árvore junto aos técnicos e garantiu que o eucalipto estava saudável. A justificativa dada pelo secretário para a queda foi a saturação do solo. “O solo está encharcado”, argumentou. “Em janeiro, a precipitação pluviométrica foi de 550mm, sendo que a média histórica é de 270mm”, constatou. “Esse alto volume de chuva tira a sustentação das raízes.”
A saturação do solo também foi a justificativa para a queda da figueira branca do Bosque dos Jequitibás que provocou a morte de um homem na última semana de 2022. O argumento foi reforçado depois que a árvore passou por uma análise do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). De acordo com o laudo, a figueira estava saudável.
Paulella garante que a manutenção das árvores em Campinas ocorre com frequência. O trabalho mais comum consiste em “podas preventivas”. “O objetivo é diminuir o peso das copas para que elas fiquem menos suscetíveis à queda”, explica. O secretário ainda afirmou que a pasta realiza de 20 a 30 vistorias por dia das árvores localizadas em frente às residências. Segundo ele, a média é de dez remoções diárias de árvores adultas comprometidas na cidade.
Contestações
Ambientalistas, engenheiros florestais, agrônomos e vereadores de Campinas acreditam que a queda de árvores na cidade é resultado da negligência da Prefeitura. E a falta de comprometimento por parte do poder público se arrasta por algum tempo, de acordo com aqueles que cobram o Executivo.
O vereador Cecílio Santos (PT), por exemplo, lembrou do não comparecimento de Paulella na Comissão de Enchente da Câmara Municipal no ano passado. E chama a atenção também para a resposta da secretaria a um requerimento da Câmara que cobrava explicações sobre as condições das árvores de Campinas em setembro de 2022.
“Havia um acúmulo de 4 mil pedidos de remoções de árvores em aberto”, relata Cecílio por meio de sua assessoria. “Era um total de 800 solicitações de remoções por mês e só metade desse total era atendido.”
Já o vereador Paulo Gaspar (Novo) acredita que a concessão dos 25 parques públicos de Campinas à iniciativa privada pode evitar tragédias como a que aconteceu nesta manhã de terça. “Volto a defender a nossa proposta de concessão dos parques públicos. Uma empresa tem mais eficiência para fiscalizar e tomar as providências do que o poder público.”
Para o engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton de Aguirre Junior, há alguns anos a arborização urbana em Campinas não é tratada com o devido respeito e conhecimento técnico.
“A Prefeitura dispõe de apenas seis técnicos e dois diretores para gerenciar as árvores no município. O número de profissionais teria de ser de, pelo menos, 50”, acredita.
Segundo Aguirre Junior, o município carece de um inventário de árvores. “O inventário vai permitir critérios de análise de risco. Trata-se de uma fonte básica de informações para a tomada de decisões com arborização”, explica.
Segundo Paulella, esse levantamento, chamado de avaliação fitossanitária, está em elaboração na Prefeitura. “Já é um processo de dois anos e temos 30 mil árvores catalogadas. Em um universo de mais de 700 mil árvores, é um trabalho que não se faz num piscar de olhos”, afirma.