A convivência mais estreita em casa imposta pelo isolamento colocou em evidência uma característica das pessoas, que talvez passasse despercebida noutros tempos: como oscilam o humor e o estado de ânimo das pessoas!
Vemos uns adolescentes sonolentos, de pijama e mal-humorados diante do computador assistindo aulas on-line – com o microfone e a câmeras desligados, é claro – pela manhã. Os mesmos que de noite estarão elétricos e falando alto. Por outro lado, pais e mães oscilam entre uma alegria matinal, a preocupação durante o dia e a irritação ao cabo de muito trabalho. Enfim, ficou mais patente o papel que os sentimentos desempenham na nossa vida e como afetam o relacionamento com os demais.
Classicamente se tem elencado a inteligência e a vontade como potências superiores do ser humano, colocando o sentimento num segundo plano. O mundo atual, porém, o põe em destaque, tanto que se pode atribuir ao sentimentalismo uma marca do tempo em que vivemos. Como encontrar um equilíbrio que permita alcançar a felicidade e uma saudável convivência entre as pessoas?
O problema dos sentimentos é que [aparentemente] não temos controle sobre eles. De fato, podemos decidir se iremos levantar ou não ao primeiro toque do alarme celular; podemos escolher entre dar uma resposta grosseira ou não a uma pessoa que nos aborrece; mas não podemos dizer para nós mesmos: “fique feliz”, “fique triste”, “não fique irritado” etc. Não temos um controle direto sobre esse estado de ânimo.
Mas, se por um lado não temos total controle sobre os nossos sentimentos, eles são muito importantes. Basta reparar a diferença entre ter um colega de trabalho bem-humorado de outro frequentemente carrancudo, uma espécie de cacto, que fere quem se aproximada demais dele. Também é patente a diferença numa mesa de jantar entre pais alegres e que dizem coisas agradáveis, de outros taciturnos e lamurientos.
Embora não tenhamos um controle direto sobre os sentimentos, podemos sim educá-los para que nos ajudem a fazer aquilo que a nossa inteligência nos aponta como ações boas. Por exemplo, se sabemos que quando acordamos em cima da hora para iniciar o trabalho ficaremos com mau-humor, podemos acordar um pouco antes e fazer uma atividade física.
Se ficamos o dia todo lendo tragédias, número de mortos pelo coronavírus, acidentes etc., é muito provável que isso nos causará tristeza e abatimento. Por outro lado, se usamos o tempo livre para ler bons livros, assistir um bom filme, do gênero que gostamos, mas que nos traga um sentido positivo da vida, ou ainda se ouvimos músicas alegres, que nos colocam para cima, então estaremos indiretamente cuidando para ter bons sentimentos.
Mas há um remédio infalível para combater a tristeza e o mau-humor: pensar nos outros. Não há uma explicação cientificamente provada para isso. Mas é certo que as pessoas que pensam nos demais, que procuram compreender as pessoas que convivem ao seu redor, prestar-lhes pequenos serviços, fazer alguma surpresa, esforçar-se para agradar, são pessoas invariavelmente alegres e bem-humoradas.
E se você não está convencido da eficácia terapêutica desse remédio, podemos meditar nas pessoas que com as suas vidas nos legaram esse ensinamento. Por exemplo: “Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz” (Madre Teresa de Calcutá).
Fábio Henrique Prado de Toledo, casado com a Andréa Toledo, pai de 11 filhos e avô de 2 netas. Moderador em cursos de orientação familiar do Instituto Brasileiro da Família – IBF. Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC, é Juiz de Direito em Campinas. Site: www.familiaeeducação.com.br. E-mail: [email protected]