A economista-chefe e diretora de Macroeconomia do Banco Santander, Ana Paula Vescovi, descreveu em entrevista exclusiva ao Hora Campinas um cenário positivo para o Brasil neste ano. Esse “copo cheio” da economia, na sua avaliação, surpreendeu os agentes econômicos quando 2023 começou, já que ele vinha pressionado por forte instabilidade derivada do ambiente político, incertezas fiscais e uma complexa conjuntura internacional. Afinal, guerra, desaquecimento do consumo e embates dos principais agentes geopolíticos globais, como EUA e China, mexeram no tabuleiro de quem movimenta as peças do jogo econômico.
Com uma carreira de muita experiência em economia, política pública e gestões fiscais e financeiras, Ana Paula Vescovi visitou Campinas na semana passada para participar do ciclo de palestras “Quintou no Work/Café”. O evento é uma estratégia do banco Santander para estabelecer diálogo com correntistas e não-correntistas. O encontro ocorreu na loja Santander que fica no Shopping Iguatemi.
Para Ana Paula, o ano que caminha para seu encerramento surpreendeu porque sinalizava desafios hercúleos, que foram atenuados por um ambiente de maior estabilidade com a aprovação do marco fiscal, com a postura equilibrada do ministro Fernando Haddad e com outros três componentes decisivos: 1) a reação/resiliência dos números do emprego em todo o País; 2) desinflação e 3) queda gradativa da taxa de juros.
A executiva considera esse combo um quadro que traz tranquilidade, pelo menos momentaneamente.
“Há variáveis que podem tornar esse ambiente cíclico”, pondera, referindo-se a situações internacionais, que podem trazer ondas agitadas ao barco brasileiro que navega em certa calmaria.
Sobre a tão aguardada estabilidade econômica, Ana Paula Vescovi não considera a política a única vilã que pode fazer desandar o bolo. Ela entende que se os pilares econômicos não forem seguidos de forma estruturante e fundamentada, não há solidez que resista nesta simbiose de política e economia.
Ana Paula Vescovi admitiu que projetar cenários e orientar rumos em cenário de polarização política é um grande desafio. Mas, segundo a executiva, é preciso trabalhar afastando qualquer “viés” que possa interferir na condução da análise. Ela salienta que, no Santander, os pilares e os fundamentos econômicos são levados muito a sério, de forma a blindar o banco de interferências. Ana Paula lembra ainda da importância global do Santander, condição que dá à instituição uma visão macro e não açodada de uma realidade turbulenta, por exemplo.
Taxa de juros
O ambiente desenhado pelo Banco Central de queda de juros ao longo das próximas reuniões favorece a estabilidade, argumenta a economista-chefe do Santander. Mas isso, complementa, terá impacto ainda mais à frente, porque leva um tempo para que as operações de crédito e o próprio consumo se beneficiem de uma taxa Selic menor.
O cenário hoje e nos próximo meses sinaliza para uma redução da taxa, conforme indicou, em ata, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comprou briga para a derrubada da taxa no primeiro semestre do seu governo, verborragia que arrefeceu nos últimos dois meses.
Hoje, a Selic está em 12,75%. Faltam ainda duas reuniões para o término do ano e a tendência é de queda gradativa, mas que não deve chegar em um dígito.
Na entrevista que deu por reunião on-line ao Hora Campinas, a executiva do Santander exaltou a força do agro brasileiro, um pilar do PIB que dá sustentação à economia e que ajudou nesse cenário positivo de 2023, pelo menos até agora.
Importância estratégica de Campinas
A economista-chefe do Santander fez questão de dimensionar a força econômica de Campinas. Não só como estratégia do banco junto a correntistas, mas também como um pilar de desenvolvimento no País. “É uma cidade inovativa” resumiu. Ela enxerga Campinas como referência brasileira na tecnologia, na inovação e na indústria, entre outros segmentos, e reconhece que os projetos do Santander levam isso em consideração.
O próprio movimento de “interiorização” do banco, que se acentuou nos últimos anos, coloca Campinas na primeira prateleira.
A loja de Campinas onde aconteceu o evento do Work/Café, aliás, foi a primeira instalada fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Hoje são 12 unidades no País, com espaços estruturados para estreitar o relacionamento entre o banco e os clientes. São unidades pensadas estrategicamente para estar em locais com grande fluxo de pessoas, em pontos valorizados, com boa visibilidade e perfil de média e alta renda.
O primeiro evento, em setembro, reuniu a head do Santander Corretora PF, Sandra Gouveia, e o estrategista de Renda Variável, Ricardo Peretti.
Currículo
Ana Paula Vescovi tem longa carreira na administração pública direta e em Conselhos de Administração de empresas estatais e privadas. Foi ainda secretária-executiva do Ministério da Fazenda e secretária do Tesouro Nacional. Ocupou cargos como presidente dos Conselhos de Administração da Caixa e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), e ainda membro do Conselho de Administração da Eletrobrás. Possui experiência executiva nas três esferas de governo, especialmente estadual e federal e no Poder Legislativo Federal.