Quando o termo globalização passou a fazer parte do dicionário cotidiano, pesquisadores, pensadores e analistas já tinham observado que as fronteiras e barreiras da dinâmica entre os países haviam sido derrubadas pelas próprias circunstâncias da modernização. Uma sociedade em constante movimento forjou o advento dos novos tempos.
Entre vantagens e desvantagens deste imã que aproxima a todos no planeta, seja pela tecnologia, pelo conhecimento ou pelos portos e aeroportos, a globalização passou a ser um resultado inexorável de uma vida contemporânea, gostemos ou não.
Na geopolítica, há movimentos cíclicos de formação de blocos econômicos movidos por interesses comuns.
Há também iniciativas de êxodo destes grupos, sob argumentos de preservação e fortalecimentos internos. Foi o caso do Brexit, que acaba de completar cinco anos. O Brexit foi o movimento de saída do Reino Unido da União Europeia, e que se deu em 2020 após forte polêmica. Um plebiscito cravou o veredito.
Já havia ao longo dos anos um descontentamento de parte dos britânicos, liderados por partidos e alianças da sociedade local, com a UE. Argumentos de que se gastava muito para pertencer ao bloco, de que a imigração sufocava a economia e os serviços sociais e, sobretudo, de que o Reino Unido era autônomo e forte o suficiente para se isolar e seguir seu rumo sem ajuda de ninguém, pois tinha moeda forte e poder político.
Essa tese prosperou, mesmo com dúvidas sobre o futuro e divergências a respeito dos impactos práticos na vida comum. Decorridos cinco anos da saída – triunfal – do Reino Unido da União Europeia, há sérias dúvidas sobre os ganhos efetivos.
A economia europeia e também global seguem sujeitas às idiossincrasias gerais, vivendo atropelos aqui e ali. A guerra na Ucrânia, por exemplo, que acaba de completar três anos, trouxe impacto negativo para todos. A migração de milhões de pessoas em razão de crises humanitárias não poupa ninguém.
Já não é mais possível viver isolado, sob a falsa sensação de que uma bolha protegerá quem quer que seja.
Neste sentido, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) oferece um bem-sucedido exemplo, uma verdadeira história boa a ser contada para o mundo em termos de gestão pública, debates regionais e busca por soluções comuns.
A formação do bloco regional está completando incríveis 25 anos. O órgão foi criado pela Lei Complementar nº 870 de 19 de junho de 2000 e instalado por meio do Decreto nº 46.057 de 27 de agosto de 2001.
Tem caráter deliberativo e normativo, composto por um representante de cada Município que integra a RMC e por representantes do Estado nos campos funcionais de interesse comum, assegurada a paridade das decisões.
A Região Metropolitana de Campinas tem 20 municípios e é a segunda maior região metropolitana do Estado de São Paulo em população, com mais de 3,1 milhões de habitantes, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2017.
O estado paulista tem hoje nove regiões metropolitanas: São Paulo, Vale do Paraíba e Litoral Norte, Ribeirão Preto, Baixada Santista, Sorocaba, Campinas, Piracicaba, Jundiaí e São José do Rio Preto.
Os municípios integrantes da RMC são Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.
Na verdade, a RMC começou com 19 cidades. Depois, foi agregado o município de Morungaba. Elias Fausto, perto de Capivari, desejou ingressar no bloco, mas não houve avanço nas negociações até hoje.
O que se percebe, de forma prática, é que a visão de união entre pares é hoje mais consolidada do que buscas por isolacionismo. Os arroubos do atual presidente Donald Trump, incluindo bravatas por “anexação” do Canadá e Groenlândia, por exemplo, estão no anedotário dos séculos passados, quando potências e aspirantes a países-líderes empunharam o movimento do colonialismo.
Cooperar, sentar-se à mesa e buscar soluções colegiadas são atitudes civilizadas que a RMC já faz há muito tempo. Para ficar em exemplos recentes, a pandemia exigiu que houvesse entendimento entre as cidades para enfrentar a Covid-19. A expansão do Aeroporto Internacional de Viracopos, hoje um hub importante do Brasil, levou prefeitos de vários cidades da região a integrar frentes de discussões e deliberações pelo fortalecimento regional.
Ainda que haja particularidades específicas de cada cidade que compõe o bloco regional, a conurbação e o perfil metropolitano da RMC exigem projetos integrados.

Foi isso que o ex-presidente do Conselho da RMC, Gustavo Reis, observou em seu discurso de despedida no concorrido evento que aconteceu no último sábado, no Royal Palm Plaza, com a presença do governador Tarcísio de Freitas. Tem sido esse argumento que o ex-prefeito de Jaguariúna, que liderou o Conselho por cinco mandatos, tem usado em palestras e artigos.
Foi também isso que pregou o atual presidente, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, reforçando a necessidade de união entre os 20 integrantes. Ele, inclusive, já definiu os temas prioritários de sua gestão: Saúde e mudanças climáticas.
Os dois assuntos, aliás, interessam a todos os moradores da Região Metropolitana de Campinas. Um morador de Cosmópolis, por exemplo, pode depender de um atendimento da Saúde em Campinas. E um morador de Pedreira, por outro lado, pode ser surpreendido por uma inundação numa avenida de Campinas.
Um estudante de Sumaré pode viajar todos os dias para Campinas. E um comerciante de Valinhos pode se deslocar semanalmente para buscar mercadorias na sede da RMC.
Enfim, não há barreiras nem entraves para circulação dos milhões de habitantes da RMC.
O que se abre como frente de aperfeiçoamento é, justamente, a busca de soluções comuns para os problemas regionais, como, por exemplo, o esforço por uma mobilidade urbana mais eficiente e menos onerosa e também por uma estruturação eficaz para o suporte aos atendimentos em hospitais.
É por isso que o esperado Trem Intercidades e o prometido Hospital Metropolitano carregam, em comum, a certeza de obras prioritárias para uma das mais importantes regiões do Brasil.
Ao chegar à maturidade, mesmo com muitos desafios por enfrentar, a RMC oferece um bom exemplo de gestão integrada. Que o Brexit, como solução mágica, sirva de contra-exemplo de um mundo que precisa de mais diálogo, mais interação e mais empatia.











