Em setembro assistimos virtualmente ao I Seminário Municipal de Educação Básica – Educação Antirracista promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Campinas, que ocorreu de forma integrada em amplo sentido: I) foram apresentados trabalhos desenvolvidos nas escolas de educação infantil e de ensino fundamental – regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA), de educação integral, e também nos centros de educação infantil cogeridos (Bem-Querer), assim como nas escolas privadas de educação infantil de organizações sociais colaboradoras; II) participaram deste Seminário os profissionais de todos os cargos das escolas e demais setores da SME, servidores concursados, profissionais terceirizados, profissionais das unidades cogeridas ou conveniadas, o que expressa a diversidade e a potência de um Sistema Municipal de Ensino como o nosso, cujas ideologias não hierarquizam nem diminuem o lugar de cada um.
Mas a grandiosidade da Rede de Campinas não se dá somente numericamente, por atender um elevado número de alunos e ter um quadro expressivo de profissionais da Educação.
Também se dá pelo empreendimento em construir um currículo dinâmico, cultural, científico, artístico, inclusivo, crítico, voltado para as comunidades e seus contextos, que se pauta nos princípios democráticos e nas concepções avançadas de educação, sociedade e cultura. A noção de igualdade e laicidade fundamenta o atendimento aos direitos garantidos por lei, desafiando-nos a lidar com as contradições de uma sociedade ainda injusta e desigual.
A Rede de Campinas sempre se colocou à frente rumo às políticas de atendimento aos sujeitos historicamente excluídos da educação formal. Como exemplo, no final dos anos 1980 as escolas municipais já matriculavam alunos com Síndrome de Down, quando somente nos anos 1990 as políticas de inclusão passaram a elaborar a legislação que regulamentou esse atendimento de modo oficial em todo o Brasil e no mundo.
E agora, mais uma vez, a Secretaria Municipal de Educação de Campinas oficializa uma política de Educação Antirracista desenvolvida de forma contundente, através da formação voltada para todos os profissionais, e da construção do currículo e projeto pedagógico das escolas em que sejam feitas todas as problematizações e mudanças necessárias, através das metodologias próprias de cada nível de ensino, em que se consolidem práticas e valores que se contraponham ao racismo.
Tal política vislumbra a superação dessa forma de opressão que persiste socialmente, apesar das leis, através das violências desferidas contra cidadãos e cidadãs negros e negras, adultos ou crianças. Esse enfrentamento cultural dá-se em conjunto com outras lutas contra o preconceito como o de gênero, de orientação sexual, etc., que não podemos aceitar nem silenciar.
Assim, nos formamos em eventos como esse – um Seminário que traz reflexões e debates a partir dos trabalhos apresentados por profissionais das escolas sobre a produção de conhecimentos e as experiências didáticas junto às crianças, adolescentes, jovens e adultos – educandos e educadores – pois expressam as mais valiosas ações educativas e suas estratégias críticas e criativas que nos ensinam a enfrentar, lutar e superar o racismo estrutural presente no nosso cotidiano.
Campinas ficou com o peso histórico de ser a última cidade do país a abolir a escravidão. Mas também Campinas desponta como uma Rede Pública Municipal de Educação Básica que é uma das pioneiras no país a implantar uma política antirracista no ano de 2024, da qual nos orgulhamos e partilhamos desse compromisso.
Eliana Nunes da Silva, pedagoga, é doutora em Educação pela Unicamp e supervisora educacional na Secretaria Municipal de Educação de Campinas. E-mail eli.nunes@uol.com.br











