Bolsonaro ou Lula? Lula ou Bolsonaro? A disputa presidencial historicamente é o centro das atenções nas eleições brasileiras. No entanto, o grau de importância que o embate atual ganhou em função da forte polarização na briga pelo poder, amplia um vácuo nas Eleições-2022: a briga por uma cadeira no Legislativo está ainda mais ofuscada.
“Os deputados atuam normalmente como cabos eleitorais dos cargos majoritários. Sempre foi assim e nas eleições atuais isso está mais evidenciado”, avalia Victor Kraide, um dos três cientistas políticos entrevistados pelo Hora Campinas para analisar a importância do voto aos cargos de deputados estadual, federal e de senador.
Segundo Kraide, um dos fatores que contribuem para o desinteresse que o eleitor demonstra na escolha do candidato ao Legislativo é a falta de informação. “Seria importante esclarecer o papel da democracia a partir da escola, com as crianças”, afirma, enfatizando que o problema começa na educação. “Não se informa quais são as funções do Poder Legislativo, executivo”, lamenta.
“E, como complemento ao processo formativo deficitário, vem o desserviço que alguns candidatos eleitos prestam. Muitos desempenham mal o seu papel e não dão satisfação aos seus eleitores.”
Kraide ainda chama a atenção para os candidatos “aventureiros”, que ajudam a afastar o eleitor de algum compromisso com os postulantes a uma cadeira no Legislativo. “Me refiro aos novos candidatos, que veem sua ocupação, muitas vezes, como um complemento de renda, e não como um compromisso de serviço ao País.”
O cientista político Vitor Barletta é didático ao explicar a função dos integrantes do Poder Legislativo. “São eles que ajudam na elaboração e votação de leis, fiscalizam o Poder Executivo e votam orçamentos para a Educação, Saúde e políticas públicas”, aponta.
“Temos a tendência em atribuir mais valor às disputas pelos cargos do Executivo, como os de presidente e governador, e nos esquecemos da importância que representa os deputados e senadores”, alerta.
Pulverização
Mas diante de tantos nomes, em quem votar? O número de candidaturas para a Câmara dos Deputados, por exemplo, é recorde e contabiliza um total de 10.246. “Realmente é um número elevado”, avalia Kraide. “Se de um lado as opções para o eleitor são ampliadas, do outro o cenário pulveriza demais o voto. Há muitos candidatos que não estão preparados para assumir a função.”
Focar nas propostas é o caminho para não desperdiçar o voto nas urnas, orientam os especialistas. “Descarte aqueles que falam muito de si mesmos”, ensina Kraide. “Se o candidato é da sua região, avalie a sua plataforma. Verifique também se ele se alinha politicamente com o seu escolhido para governador ou presidente. Tudo isso é importante na hora de votar”, complementa Barletta.
Responsabilidade
O cientista político Pedro Rocha Lemos complementa. “Se o eleitor vota por votar, ou só porque é o nome mais conhecido, corre o risco de perder todos os direitos já garantidos. A responsabilidade do eleitor é imensurável.”