A atividade de personal organizer mais que nunca está em alta no País. Com a pandemia e a permanência maior em casa, a organização ganhou destaque nos lares brasileiros. Para os profissionais que atuam no setor surgiram cursos, encontros anuais e até uma associação nacional que luta pelo reconhecimento da atividade. A pressão da classe tem sido grande, tanto que a partir do próximo ano a ocupação vai passar a existir na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), passo importante para que no futuro os profissionais possam conquistar a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE), junto ao Ministério da Fazenda.
De acordo com a Associação nacional de profissionais de organização e produtividade (ANPOP), o personal organizer ou profissional de organização é aquele que cria condições para uma vida melhor. É um especialista em colocar as coisas em ordem, minimizando o tempo e o estresse que a desorganização pode trazer.
“Ele ajuda na otimização de espaços, encontrando soluções que tragam benefícios para residências e escritórios. Entendendo a vida e a rotina dos clientes, o profissional os ajuda a planejar melhor o dia a dia. São muitas as possibilidades de trabalho: organização de armários, roupas, cozinha, área de serviço, documentos, coleções, treinamento de funcionários domésticos. E nas empresas, organização de arquivos, rotinas de trabalho, utilização de ferramentas e aplicativos”, detalha a apresentação da associação.
A personal organizer Elisa Ribeiro, de 56 anos, moradora em Campinas, afirma que o trabalho é totalmente personalizado, pois o que funciona para uma pessoa, para uma casa, não funciona para outras.
“A gente analisa um ambiente da casa do cliente, escritório, ou empresa, loja, restaurante. A nossa função é avaliar o ambiente, verificar o que pode ser melhorado, otimizar os utensílios, espaços, dar praticidade para a pessoa usar aquele lugar com facilidade. O segredo é ter tudo organizado e não só arrumado. O arrumado sai em poucos dias. Na organização a gente cria um sistema para que aquilo perdure”, explica.
Um dos segmentos com alta demanda para os organizadores atualmente é o home office por conta da pandemia. “A pessoa não sabe como vai trabalhar em casa. Eu ajudo, por exemplo, a decidir onde vai a bancada, as prateleiras, o gaveteiro. Quais itens que vão em cada lugar. A gente estuda o que vai usar mais, os arquivos, documentos, recibos de pagamento. Quais os itens que vai usar naquele espaço, onde vão ficar, tudo para ter um espaço mais confortável e funcional para trabalhar. Cada coisa precisa ter o seu lugar”, diz.
Não é só mão na massa, cada ambiente é considerado um projeto.
“A gente conversa com o cliente para entender o perfil e exatamente o que ele precisa. Eu prefiro os clientes que participam e se envolvem no projeto. A intenção é que aprendam a organização de acordo com suas necessidades, criem um hábito novo e não que fiquem dependentes”, diz Elisa.
Elisa é uma profissional mais voltada para a organização de ambientes residenciais, mas os profissionais atuam nas mais diversas frentes. “Em geral nós temos nichos, então, tem alguns que só trabalham com organização das coisas de recém-nascido, outros de estoque de lojas, restaurantes, empresas. Tem gente que trabalha com mudança, ajudando nos detalhes de uma casa para outra para quando os donos chegarem já estar tudo pronto”, exemplifica.
Elisa também presta a consultoria de forma remota, seja para a organização completa de um cômodo, o que demanda um projeto maior, ou orientações pontuais. Ela dá exemplos de como organizar livros. “Pode ser por cores, depende de como é o leitor. Se e uma pessoa mais visual pode ser por tamanho, do maior para o menor, pode ser por grupo de autores pode ser por assunto, como religiosos, viagens. Não se deve encapar porque podem aparecer traças, não se deve usar plástico porque vai abafar”, ensina.
Esse campo de atuação cresceu nos Estados Unidos a partir da década de 1980.
“Aqui no Brasil apareceu tem cerca de uns 10, 12 anos. Nos últimos cinco anos tem sido mais forte, mas o boom está sendo agora. Tem muitos cursos livres de formação, tem personal dando minicursos também, treinando funcionários de casas, comércios, com técnicas de organização e limpeza”, conta.
Elisa, por exemplo, foi professora de inglês por mais de 35 anos, mas sempre teve a organização presente em sua vida por conta os ensinamentos da mãe. “Por volta de 2017, 2018, eu descobri como profissão aquilo que eu já fazia normalmente. Tive contato com outros personal organizers, fiz cursos livres e especialização”, conta.
Após muitas discussões, pedidos e reuniões, o pedido feito ao Ministério da Economia para o reconhecimento da ocupação foi aceito, no final de março deste ano. Ela foi reconhecida e não significa que foi regulamentada.
“Muitas pessoas fizeram parte desse processo para consolidar nossa posição como profissionais atuantes no Brasil. E felizmente, na data de 30 de março de 2021, ocorreu a última etapa do processo, em que finalmente foi concedido nosso código. Porém, pelos procedimentos internos do Ministério da Economia, todas as novas publicações oficiais de códigos só serão disponibilizadas entre os meses de janeiro e fevereiro de cada ano. Portanto, o nosso código estará disponível somente em fevereiro de 2022”, afirma a ANPOP. O próximo passo é tentar a conquista do CNAE.
Marie Kondo, a famosa personalidade da arrumação
A personalidade mais famosa no mundo da arrumação é a japonesa radicada nos Estados Unidos, Marie Kondo, de 36 anos. Ela já escreveu quatro livros sobre organização pessoal, que venderam milhões de cópias e ganharam tradução para mais de 40 idiomas, incluindo o português.
Ela criou o método conhecido como KonMari, que consiste em reunir todos os seus pertences e manter apenas aqueles que trazem alegria genuína. Os que serão descartados recebem um agradecimento especial de seus proprietários, com direito a uma espécie de ritual de agradecimento pelo tempo em que foram úteis.
Ela ganhou uma série na Netflix em janeiro de 2019, chamada Ordem na Casa com Marie Kondo. Na série, com auxílio de uma intérprete, ela visita famílias norte-americanas e põe em prática as dicas dadas em seus livros.
Marie Kondo auxilia as famílias a identificarem quais de seus pertences lhes trazem alegria. Ao longo dos episódios, enquanto orienta as famílias, Kondo fornece dicas sobre como dobrar roupas e armazenar objetos pequenos, entre outras. Apenas no Instagram a japonesa acumula quatro milhões de seguidores.