Por
Eduardo Martins e Gustavo Magnusson
Reportagem Especial
Neste mês de março, o futebol brasileiro completou um ano sem torcida nos estádios, em virtude da pandemia. Um ano singular, sombrio, em que o próprio futebol e os torcedores forçosamente reinventaram a forma de acompanhar os clubes do coração. O Hora Campinas mostra, em uma série de quatro reportagens, histórias de bugrinos e pontepretanos para reforçar que uma paixão repousa, mas não morre. Que o futebol é alento e esperança. São tempos difíceis, porém, ainda há alegria em ver a bola rolar. Da maneira que der. Acompanhe a seguir a segunda parte da história, sobre dois jovens que são rivais na torcida e companheiros na saudade.
Torcedora apaixonada pelo Guarani, a estudante Fernanda Machado está distante do Brinco de Ouro há mais de um ano, tempo em que tenta driblar a saudade de acompanhar uma partida de perto. A jovem lamenta a distância de tudo que envolve o clima das arquibancadas: de fazer a festa com a torcida, sofrer e vibrar, sentir a energia e também dividir todas essas sensações especiais com a família e os amigos.
“O que mais sinto falta é a companhia dos amigos e daquela festa com a torcida lá fora. Normalmente, fico nas Vitalícias, mas também gosto de ficar no Tobogã em alguns jogos mais importantes. Adoro aquela muvuca, os jogos com bandeirão e o corredor verde. Também gosto da companhia do meu pai. É um momento de ficarmos juntos (no estádio) e um momento que tiramos de pai e filha para conversar sobre o Guarani”, ressalta.
Neste último ano, a torcedora conta que a partida que mais teve vontade de acompanhar de perto foi o Dérbi do dia 16 de março de 2020. Já sem torcida nos estádios em virtude da pandemia da Covid-19, o Guarani venceu a rival Ponte Preta por 3 a 2 e o jogo foi o último antes da longa paralisação do futebol em 2020. “Tinha muita expectativa por esse jogo e veio o balde de água fria de que não podíamos comparecer por causa das restrições em decorrência do vírus que estava chegando até a gente”, relembra.
Apesar da saudade, Fernanda encontrou uma outra alternativa para não ficar longe do time do coração. “Vira e mexe assisto a alguns vídeos antigos do Guarani no YouTube. Vejo partidas que me marcaram bastante como a final do Paulistão de 2012, o próprio Dérbi de 2012, além final da Série A2 de 2018 e vídeos de caravanas. Tento me apegar a isso para amenizar a saudade do Brinco, dos amigos e do Guarani”, destaca a torcedora de 26 anos, que desde o início da pandemia acompanha pela televisão as partidas do clube do coração.
O último jogo com presença de público no Brinco foi em 28 de fevereiro de 2020, no empate por 0 a 0 com o Água Santa, pelo Paulistão. Já a última vez que o Moisés Lucarelli recebeu torcedores foi no dia 12 de março, quando a Ponte bateu o Afogados-PE por 3 a 0, pela Copa do Brasil.
Não menos ansioso pelo retorno às arquibancadas está o pontepretano Alexandre Aranha, de 25 anos. “Tem sido difícil demais porque o Majestoso é como uma segunda casa. É um local muito simbólico e motivo de orgulho porque foi construído pela nossa gente. A torcida da Ponte é a força, o que faz com que o time tenha um gás a mais no final das partidas. Acredito que não seja à toa as últimas campanhas irregulares”, associa.
A relação de Alexandre Aranha com o estádio começou em 2007, quando ia a jogos esporádicos, acompanhado do avô. “A partir de 2011, quando já era um pouco mais velho, passei a ir sozinho, então a frequência aumentou bastante e desde então vou sempre que consigo”, diz Aranha, que antes da pandemia tinha uma média de dois jogos presenciais por mês. “Nunca tinha passado por esse sentimento de não poder ir por motivos tão graves. É diferente de quando eu era pequeno e não podia ir sozinho”, compara.
O remédio para aliviar a angústia é relembrar. “Quando bate aquela saudade muito forte, assisto a vídeos no YouTube de jogos importantes e de festa da torcida antes dos clássicos. É o jeito que encontrei para driblar a falta do clima que o Majestoso proporciona. Outra coisa que também fiz nessa pandemia é pegar o carro e dirigir até o estádio só para vê-lo e senti-lo perto de mim novamente”, destaca.
Jornalista, Alexandre Aranha alega dificuldade em assistir aos jogos da Ponte Preta pela televisão, sem sentir o calor da torcida e a vibração a que está acostumado quando pisa no Moisés Lucarelli.
“Para mim, é muito difícil ficar longe do estádio porque eu me acostumei a estar lá, gritar, pular e cantar, então não consigo porque não tem a mesma emoção. São raros os jogos da Ponte que eu acompanhei nesse último ano por conta disso, mas sigo ficando nervoso e acompanhando as notícias”, afirma Aranha.
“Apesar da falta que faz a rotina de ir para o estádio, este momento exige o cuidado com a vida por parte de todos, torcedores, dirigentes, comissão técnica e jogadores. De nada adianta o futebol estar acontecendo e os hospitais estarem lotados. Não é difícil encontrar grupos de torcedores, não só da Ponte, reunidos em bares ou em confraternizações para acompanhar os jogos”, conscientiza.