O Comdema (Conselho Municipal do Meio Ambiente) e a Comissão de Arborização Urbana da Câmara de Campinas irão contestar em laudo a necessidade de extração de 108 árvores no Bosque dos Jequitibás, apontada pela Secretaria de Serviços Públicos. Ao Hora Campinas um técnico revelou que o resultado dos estudos paralelos sobre as condições das árvores no local será bem diferente do apresentado pela Prefeitura. A previsão é de que o trabalho seja concluído em cerca de 15 dias.
“O que a gente encontra é um número bem menor de árvores que necessitam de remoção”, diz o agrônomo e engenho florestal José Hamilton de Aguirre Junior, que participa da comissão de estudos. “Estamos na fase de tabelamento dos dados, de contabilização e realização da análise comparativa para poder emitir a conclusão.”
Tecnologias da Unicamp foram aplicadas nos estudos sobre as condições das árvores no Bosque dos Jequitibás. Os técnicos utilizaram equipamentos como tomógrafo e resistógrafos para fazerem as avaliações. A intenção do Comdema e da comissão da Câmara é de que o resultado do laudo seja levado em consideração pelos órgãos municipais e estaduais.
O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) já autorizou em março a remoção de 108 árvores do Bosque. A Prefeitura, no entanto, ainda aguarda a posição do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) para começar as extrações.
Bosque dos Jequitibás fechou ao público depois que figueira branca caiu sobre um carro e matou motorista no final de 2022 Fotos: Hora Campinas
O Bosque dos Jequitibás está fechado ao público desde o início do ano. No final de 2022, uma figueira do local caiu sobre um veículo na rua General Marcondes Salgado e matou o técnico em eletrônica Guilherme da Silva de Oliveira Santos, de 36 anos. Nesta semana, o teor de laudos técnicos foi divulgado e reforçou a polêmica sobre as causas da queda da figueira.
Polêmica
O laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) datado do dia 14 de fevereiro destaca que “o tombamento da árvore de figueira-branca ocorreu devido a ausência de raízes tubulares e outras para sustentação do lado voltado para o gradil e passeio público e um sistema radicular pouco profundo do lado tracionado”. Cita ainda que “o dobramento dessas raízes ocorreu devido a interferência da base de concreto do gradil e do passeio público”.
O resultado está de acordo com laudo apresentado pelo Comdema, que aponta corte nas raízes da árvore para a construção de calçada e instalação de alambrado.
Por outro lado, a Prefeitura mantém sua posição de que o problema aconteceu em função do encharcamento do solo, destacando um outro trecho do laudo do IPT: “O grande tamanho e peso próprio indicaram ser o principal fator associado ao seu pivotamento. Como agravante, o acúmulo de água da chuva no tronco, galhos e folhas, relatada no horário e local do acidente, pode ter aumentado ainda mais seu peso; a existência de ventos fortes ou rajadas, que também poderiam estar associadas à sua queda, não foi confirmada pelas medições climáticas disponíveis.”
Imagens contidas em laudo técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas sobre as causas do tombamento da figueira Fotos: Reprodução
Para a Prefeitura, o documento não considera a calçada e o gradil como fatores principais para o tombamento.
“O passeio público foi construído há 80 anos e a via é de grande movimento de veículos, o que contribui para a compressão do solo. Com relação ao gradil, já existia uma estrutura do tipo no local, um alambrado, e a Secretaria de Serviços Públicos apenas realizou a substituição por um material metálico, em 2017”.
Já os laudos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e do Instituto Biológico (IB) destacam como resultados a ausência de fungos, bactérias, cupins, entre outros agentes que pudessem comprometer a figueira branca. O documento do IB ainda sugere que as condições de drenagem do solo podem ser apontadas como uma das causas do tombamento da árvore.