Após 12 anos, um jogador campineiro volta a representar a Seleção Brasileira na disputa do torneio mais importante do futebol: a Copa do Mundo. Nascido em Campinas, no dia 23 de outubro de 1993, o volante Fabinho foi convocado pelo técnico Tite no início deste mês de novembro e está à disposição da comissão técnica para o duelo entre Brasil e Sérvia, na tarde desta quinta-feira (24), às 16h, no Estádio Lusail, no Catar, pela 1ª rodada do Grupo G do Mundial de 2022.
Ídolo do Liverpool, da Inglaterra, sendo constantemente convocado para a Seleção Brasileira, Fabinho entrará em campo para disputar a primeira Copa do Mundo de sua carreira. No topo do esporte, o atleta está realizando um sonho que começou nos primeiros anos da sua vida, quando foi criado no DIC VI e começou a lutar em busca de uma oportunidade no futebol.
Quem ofereceu a primeira chance à Fabinho, ainda na infância do campineiro, foi o Paulínia Futebol Clube. Quando tinha 11 anos, o menino determinado que sempre teve a educação e o respeito como princípios fundamentais começou a frequentar um projeto no município que fica a pouco menos de 30 quilômetros de Campinas. A partir desse momento, nunca mais ficou distante da bola.
“O Fabinho chegou ao Paulínia Futebol Clube entre o final de 2004 e o início de 2005, junto com outros meninos, através do Fábio Brusco, mentor do projeto cujo objetivo era ensinar mais do que futebol, para iniciar o trabalho de formação que nós começamos naquele ano. Nós sempre demos muita liberdade para a garotada. A infância é uma época muito lúdica em que eles vão conhecendo o futebol e o nosso objetivo sempre foi ensinar mais do que o futebol”, destaca Marcos Bortoloti, dirigente do Paulínia Futebol Clube.
Atualmente consagrado como um dos melhores volantes do futebol mundial, Fabinho chegou ao Paulínia ainda sem saber a posição que atuaria dentro de campo e ali começou a sua formação. Para o clube, era fundamental levar ensinamentos da vida àquelas crianças, e dentro das quatro linhas Fabinho também foi se encontrando aos poucos como se estivesse brincando de bola na rua.

“O Fabinho chegou como lateral-direito e depois jogou muito como volante. Nós sempre treinamos os garotos para atuarem em várias posições. Nosso treinamento não era somente de parte física, sempre treinamos com bola, como se fosse uma brincadeira de rua. Fazíamos o preparo físico da garotada com a bola e todo treinamento físico era com a bola”, relembra Bortoloti.
“A mãe do Fabinho fazia marmita para ele almoçar e ele vinha comendo dentro do ônibus. Ele fez isso durante dois anos”, acrescenta Marcos Bortoloti, dirigente do Paulínia Futebol Clube.
“O Fabinho é um menino muito focado no que quer, sempre foi assim. É muito legal a admiração que ele tem pelo pai, que infelizmente faleceu no ano passado. O pai do Fabinho sempre foi o grande incentivador da carreira dele, acompanhava todos os jogos. O Fabinho ia para a escola de manhã e pegava condução para ir treinar em Paulínia. Tínhamos um ônibus que saía do Largo do Pará para levar os meninos aos treinos”, recorda.
Companheiro e rival nos tempos de base
Atleta com passagem pelas categorias de base do Guarani, o ex-atacante Dressano Neto possui a mesma idade de Fabinho, 29 anos, porém um pouco mais velho, e atuou por alguns meses no Paulínia ao lado do jogador campineiro que agora veste a camisa da Seleção Brasileira. Neto também enfrentou Fabinho em diversas partidas nas categorias de base em Campinas e conta momentos desses duelos.
“Nós chegamos a jogar juntos por três ou quatro meses no Paulínia, quando tínhamos entre 12 e 13 anos. Também nos enfrentamos muitas vezes quando eu atuava na base do Guarani. Ele é um enorme caso de sucesso no futebol e um jogador que não parou de evoluir. Lembro muito de jogar aberto pela esquerda, no ataque, e em vários momentos o Fabinho me marcava, já que atuava na lateral-direita”, lembra Neto.
“Mesmo não tendo amizade com o Fabinho, conversávamos bastante durante os jogos. Ele é uma pessoa muito respeitosa, sempre me chamava pelo nome e brincava pedindo para eu parar de correr, além de sempre me cumprimentar antes e depois dos jogos. Também enfrentei o Fabinho jogando futebol de salão aqui. Ele atuava como fixo [defensor]. Cheguei a enfrentá-lo até quando tínhamos cerca de 15 anos, mas depois não tive mais contato”, acrescenta o ex-atacante, que encerrou a carreira no futebol precocemente, em 2014, quando tinha 21 anos.

Curiosamente, o único jogo de Neto na equipe principal do Guarani aconteceu na mesma cidade onde Fabinho iniciou a sua história no futebol. Na ocasião, em duelo disputado no dia 12 de abril de 2014, Neto marcou um dos gols da derrota do Bugre por 3 a 2 para o Rio Branco de Americana, no Estádio Luís Perissinoto, em Paulínia, pela última rodada da primeira fase da Série A2. A partida, com mando bugrino, não pôde ser disputada no estádio Brinco de Ouro devido à reforma no gramado visando à Copa do Mundo de 2014. O local recebeu treinamentos da seleção da Nigéria, que escolheu a cidade de Campinas como base durante o Mundial.
Trajetória de Fabinho
No início de sua carreira, Fabinho atuou nas categorias de base do Paulínia por seis anos, disputando as categorias sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17, chegando a disputar a tradicional Copa São Paulo de Futebol Júnior. No começo de 2011, quando tinha 17 anos, o atleta se destacou na Copinha vestindo a camisa do time de Paulínia e chamou a atenção do Fluminense, que realizou uma parceria com a equipe da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e contratou o jogador.
“Essa geração do Fabinho, com meninos nascidos em 1991, 1992 e 1993, foi a melhor safra do Paulínia. Ganhamos campeonatos e também formamos vários jogadores que estão no cenário nacional e internacional. O Fabinho é um desses jogadores e isso é muito gratificante para nós. Depois que solidificamos todo o projeto, a cidade de Paulínia começou a ser sede da Copa São Paulo de Futebol Júnior. O Fabinho disputou a competição em 2011 pelo Paulínia, jogando no município”, conta Marcos Bortoloti.
Em 2011, quando terminou a Copinha, Fabinho se mudou para as categorias de base do Fluminense junto com outro companheiro do Paulínia: o atacante Matheus Cassini.
Na parceria com o Tricolor Carioca, o campineiro ficou um período por lá, ainda na base, e foi observado de perto por um olheiro do famoso empresário Jorge Mendes, que agencia a carreira de Cristiano Ronaldo. O olheiro que trabalhava com Jorge Mendes gostou do futebol de Fabinho e a partir disso o português começou a agenciar a carreira do atleta de Campinas.
Em 2012, o Fluminense não iria utilizar Fabinho na equipe profissional e ele acabou negociado com o Rio Ave, equipe de Portugal. Logo em seguida, o campineiro foi para o Real Madrid Castilla, equipe B do clube merengue, chegou a treinar no time principal sob comando do consagrado técnico José Mourinho, mas também foi pouco aproveitado. Até que, em 2013, surgiu a oportunidade de se transferir para o Monaco, da França, e a carreira do menino de Campinas decolou.
“O Fabinho estava na hora certa, no momento certo e deu tudo certo”, destaca Marcos Bortoloti.
No Monaco, Fabinho atuou duas temporadas emprestado pelo Rio Ave e, em 2015, acabou comprado pela equipe francesa, onde primeiramente atuou como lateral-direito e depois se fixou como volante. Na época, o Paulínia recebeu aproximadamente 1,25% do valor total da negociação por ter participado da formação do atleta.
Na transferência de Fabinho do Rio Ave para o Monaco, os valores da transação foram divididos entre Paulínia, Fluminense, Rio Ave e Real Madrid, todos os clubes que participaram da formação do Fabinho até os 21 anos.
“Esse valor ajudou a manter o Paulínia em ordem, mas como o clube hoje não está ativo por conta de questões políticas, não recebemos mais valores das negociações envolvendo jogadores revelados aqui. Hoje o Paulínia é um clube que está licenciado e não deve nada para ninguém. Nós resolvemos nos licenciar para não acumular dívidas. Estamos conversando muito para reativar o clube. O prefeito de Paulínia, Du Cazellato, tem nos apoiado para retomarmos esse projeto na cidade”, explica Bortoloti.

Em 2018, Fabinho deixou o Monaco e foi comprado pelo Liverpool por 50 milhões de euros – equivalente a R$ 215 milhões na época. Pelo fato de estar licenciado, o Paulínia até hoje não recebeu a porcentagem de cerca de 1,25% do valor total da negociação por ter participado da formação do jogador. O clube luta para receber o dinheiro.
“No Brasil, só é possível assinar um contrato profissional quando o atleta tem 16 anos de idade, mas no caso de Fabinho não é reconhecida essa formação desde os 11 anos porque a FPF não tinha categorias de base para essa idade na época. Agora eles instituíram o passaporte esportivo do atleta, até estamos tentando uma diferença da última negociação envolvendo o Fabinho, com o objetivo de comprovar que ele chegou ao Paulínia com 11 anos. O Liverpool reconhece isso, mas precisa desse passaporte atualizado. Ainda não conseguimos atualizar, mas estamos tentando junto a um advogado. Queremos esse dinheiro para poder retomar os trabalhos que fizemos lá atrás”, ressalta Marcos Bortoloti.
“Chegamos a atender 1.100 crianças, com psicólogo, assistente social, todo um trabalho que garantia um futuro melhor para os garotos, mesmo se eles não se tornassem jogadores de futebol. Todos tinham que estudar, inclusive mostrar boletim escolar para nós. O Fabinho mesmo tem intenção futuramente de apoiar essa garotada. Não temos mais as brincadeiras de ruas e as crianças precisam de projetos como esse. A relação com o Fabinho é muito boa. Não nos falamos sempre, mas ele atende a gente sempre que o procuramos. Em muitas entrevistas ele fala do Paulínia. Nosso relacionamento com ele é muito legal”, completa.

Fabinho: uma carreira gloriosa
Graças a Fabinho, Campinas volta a ter um representante na Seleção Brasileira na disputa da Copa do Mundo depois de 12 anos. O último campineiro a vestir a amarelinha no Mundial foi o ex-atacante Luís Fabiano, titular absoluto no torneio de 2010, realizado na África do Sul.
Pela Seleção, Fabinho foi convocado pela primeira vez em 2015, sob comando do técnico Dunga, à época para atuar como lateral-direito na Copa América. No ano seguinte, também disputou a competição continental na função.
Depois disso, passou um período sem ser chamado e voltou a receber diversas oportunidades, já com o técnico Tite. Em 2021, o campineiro foi vice-campeão da Copa América disputando posição no meio-campo com Casemiro.

Atualmente com 29 anos, Fabinho tem carreira gloriosa no Liverpool e conquistou pelo menos uma vez todas as competições que disputou desde 2018 pelo time inglês. O brasileiro já foi campeão do Campeonato Inglês, Liga dos Campeões da Europa, Mundial de Clubes, Copa da Inglaterra, Supercopa da Europa, Supercopa da Inglaterra e Copa da Liga Inglesa.
Comandado pelo treinador alemão Jurgüen Klopp, o campineiro entrou em campo 191 vezes com a camisa dos Reds até o momento, marcou 11 gols, contribuiu com sete assistências e se tornou um dos maiores jogadores brasileiros que já atuaram na Inglaterra.
Antes de chegar ao Liverpool, quando jogava pelo Monaco, Fabinho foi campeão francês atuando ao lado do craque Mbappé e superando o poderoso PSG. Além disso, também conquistou a Copa da Liga Francesa pela equipe do Principado.
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