O julgamento de que fazer terapia é caro costuma surgir como uma defesa psíquica antiga, quase um reflexo de autopreservação que tenta evitar o encontro com aquilo que realmente dói. Na psicanálise, entendemos que esse argumento não nasce apenas de uma avaliação financeira, mas de um medo inconsciente: o medo de entrar em contato com aquilo que foi recalcado, com o sofrimento que pede elaboração, não anestesia. Assim, muitas vezes o sujeito declara que a sessão é “cara”, mas não hesita em buscar paliativos que prometem alívio rápido, a bebida no bar, o final de semana regado a excessos, a fuga momentânea em estímulos que ocupam, mas não transformam.
O paradoxo é evidente: o que se investe nesses anestésicos acaba custando mais que qualquer sessão, embora não devolva ao sujeito nada além de ressacas emocionais e um retorno, sempre igual, ao ponto de partida. Posso convidar você minha querida leitora, meu caro leitor para refletir com você sobre esse julgamento precipitado? Que bom, então venha comigo, por gentileza.
Do ponto de vista psicanalítico, o bar não funciona apenas como um espaço social, mas como um cenário simbólico. Ali, o sujeito encontra uma forma de calar a angústia por algumas horas, colocando entre si e seu mal-estar uma camada de álcool, ruído e dispersão. É um modo de suspender o pensamento e não de compreendê-lo.
O problema é que, ao recusar a escuta e optar por esses atalhos, prolonga-se o ciclo de repetição: o mesmo vazio retorna, a mesma ferida lateja, a mesma angústia reaparece sob novos disfarces. A falsa economia financeira se revela uma economia psíquica falha, pois não há elaboração, não há simbolização, não há trabalho psíquico. Há apenas adiamento.
Terapia, ao contrário, não é uma despesa: é um investimento na possibilidade de não mais precisar se anestesiar. É o espaço onde o sujeito pode finalmente dizer aquilo que não cabe no barulho dos bares, onde sua palavra tem valor, onde sua dor é tratada com responsabilidade e método. O inconsciente não se dissolve em álcool; ele insiste. E quanto mais se tenta silenciá-lo com atalhos, mais ele retorna como sintoma, ansiedade, irritação, compulsão, vazio. O custo real não está na sessão, mas no preço afetivo de viver sem compreensão de si. Trabalhar em análise significa recuperar a capacidade de escolha, desmontar velhos padrões, encontrar novos modos de existir e isso, sim, tem valor.
Além disso, é importante lembrar que a análise não oferece um alívio imediato, mas uma construção profunda e duradoura. Cada sessão é um passo na direção de uma vida mais consciente, responsável e menos prisioneira de impulsos que visam apenas apagar a dor por algumas horas. Quando o sujeito se permite entrar nesse processo, percebe que o verdadeiro caro era viver repetindo as mesmas respostas automáticas, acreditando que o alívio temporário poderia substituir a transformação. E quando essa ficha cai, o valor do processo terapêutico deixa de ser visto como gasto e passa a ser reconhecido como ganho.
Thiago Pontes Thiago Pontes é Filósofo, Psicanalista e Neurolinguísta (PNL). Instagram @dr_thiagopontes_psicanalista – site: www.drthiagopontespsicanalista.com.br











