Um profissional de poucas palavras e muitas imagens. Augusto Gonçalves de Paiva, o Gutão, faleceu neste sábado (20), em Campinas, aos 75 anos de idade. Fotógrafo conhecido na cidade pela versatilidade de cenas e pautas, trabalhou por quase cinco décadas nos dois principais jornais impressos de Campinas, Diário do Povo e Correio Popular, onde se aposentou há cerca de dez anos.
O horário e o local do velório serão definidos na manhã deste domingo (21), segundo a Setec. Gutão estava internado no Hospital Beneficência Portuguesa, em Campinas.
A carreira de Gutão retratou a evolução do próprio jornalismo campineiro. Quando começou a trabalhar nos veículos impressos, as imagens que fazia ainda eram escolhidas a partir de um negativo e depois reveladas em papel fotográfico para apreciação dos editores. Ao final da carreira, Gutão já estava adaptado e à vontade com as cenas digitais e os variados tipos de edição que a tecnologia permitia.
Figuras icônicas de Campinas foram clicadas por Augusto de Paiva, como Gilda e Mané Fala Ó, para citar algumas. Prefeitos e políticos que construíram trajetória na cidade também estiveram sob as lentes de Gutão, uma figura reservada nas redações, mas atenta aos movimentos e disposto a fazer observações tácitas.
“Gutão era pau pra toda obra. Um profissional trabalhador e um amigão”, descreve o também fotógrafo Nelson Chinalia, que trabalhou ao lado de Augusto de Paiva por quase duas décadas no jornal Correio Popular. “Ele nunca recusava uma pauta, fotografava de tudo, sempre com dedicação”, acrescenta.
Nelson Chinalia cita como particularidade a figura reservada de Gutão. Lembra que ele não costumava confraternizar com outros fotógrafos nos bares onde os trabalhos do dia viravam resenhas e histórias para contar. E revela particularidades daquela personalidade escondida.
“Levei muito tempo para descobrir que ele era um cinéfilo silencioso, que também gostava da boa gastronomia e de fazer pautas em São Paulo, para poder explorar essas paixões que não dividida com os outros. Também apreciava muito a natureza. Sempre que ia para algum lugar, trazias frutas e verduras para a redação. Foi ele quem me apresentou a lichia”, recorda.
O também fotógrafo Leandro Ferreira, do Hora Campinas, conheceu Gutão em 1990, quando ainda era estudante de fotojornalismo. “Encontrava com ele na rua e ele me dava conselhos de como fazer as fotos, sintetizar aquela determinada imagem para a matéria. Uma pessoa amorosa, bondosa, de coração enorme. Na época eu era estudante e ele me dava até filme para que eu pudesse fotografar. Era maternal, uma pessoa do bem, acolhia todo mundo”.
Nos anos 2000, Leandro teve a oportunidade de trabalhar ao lado de Gutão no Correio Popular. Foi então que conheceu um outro lado do profissional. “Descobri que o Gutão tinha também um lado birrento, rabugento, mas era uma marca dele, uma coisa gostosa, motivo de brincadeira de todos da redação. Quantas vezes um repórter entrava pra pedir pauta, ele dizia ‘pra que fazer, não vai usar mesmo’”.
Conhecedor do jornalismo, Gutão tinha a rara percepção de saber quais textos mereciam a companhia de uma boa imagem.