Quem tem acompanhado as notícias recentes não pode deixar de se assustar com as complexidades, tanto individuais quanto coletivas, que enfrentamos. Mas, ao contrário de quando estamos em um ônibus, não podemos simplesmente pedir para parar e descer, isso não é uma opção. Por isso, compartilho aqui alguns dos destaques que surgiram na mídia nos últimos dias para refletirmos e tentarmos achar caminhos ainda possíveis. E, para ampliar esse quadro, confesso que, ao ler os jornais nos últimos dias, precisei tomar até um calmante, coisa que nunca faço.
Nos Estados Unidos, com a eleição presidencial se aproximando, Donald Trump e Joe Biden representam dois desastres anunciados, um por seu histórico e o segundo pela performance sofrível em seu primeiro debate. Por razões absurdas, seus partidos não conseguem encontrar substitutos à altura, inviabilizando a existência de qualquer força alternativa. É incrível! A maior potência nuclear do mundo está sem direção.
No Brasil, também estamos entre a esquerda e a direita que se desencontram e postergam medidas fundamentais para a nação. A economia e a educação necessitam urgência máxima, mas o debate em Brasília gira em torno do banco Central, do dólar, do que os deputados querem ou devem receber para projetos pessoais.
No cenário mundial, as nações mais importantes ampliam seus arsenais bélicos de forma assustadora, antecipando uma possível Terceira Guerra Mundial, desta vez atômica. Caso ocorra, resultaria em uma catástrofe sem precedentes e no risco de nossa própria extinção. Enquanto isso, as maiores empresas do mundo exibem lucros na casa dos trilhões de dólares.
Na Europa, a Alemanha tem vivenciado momentos de tensão diplomática e a França, de Emmanuel Macron, parece correr riscos devido ao crescimento da extrema direita.
No campo comercial, uma guerra entre nações com a intenção de cortar drasticamente as relações com a China, que, por sua vez, tenta invadir as ilhas ao seu redor. Enquanto, no mesmo furor, Rússia e Venezuela parecem também querer anexar vizinhos. Na verdade, a expansão territorial de diferentes tipos de Estados parece estar virando um lugar comum neste século.
E o clima! Ah, o clima! Ele já vem emitindo muitos avisos e parece que poucos estão dispostos a olhar. Muitas pessoas em todo o mundo já estão desesperadas, sem dúvidas alguma, mas como sociedade não parece que estamos levando a sério. No início, seus alertas afetavam apenas algumas cidades, anormalidades sazonais, mas agora atingem litorais inteiros e até todo um país.
Nesta semana, o furacão Beryl passou pelo sudeste do Caribe e foi elevado à categoria 5, fenômeno “potencialmente catastrófico”. Diques em Senegal e um paredão em Gana entraram em colapso, inundando tudo que havia pelo caminho. Enquanto isso, aqui no Brasil, o estado do Rio Grande do Sul ainda lamenta suas vítimas e enfrenta um futuro incerto. Até agora, o esforço tem sido para limpar a lama, mas não há planos concretos em andamento para o futuro.
A China também emitiu, na semana passada, o alerta mais elevado para tempestades e possíveis desastres geológicos em regiões atingidas por fortes chuvas, de acordo com a agência estatal Xinhua. O alerta vermelho para tempestades é o mais grave do sistema meteorológico chinês.
Em contrapartida, o Banco Mundial propõe alternativas “baseadas na natureza”, como recuperação dos manguezais e dos recifes de coral, que anteriormente protegiam as costas e acabaram destruídos. No entanto, essas soluções parecem não resolver os desafios enfrentados.
Mesmo que o mundo tivesse parado as emissões de carbono, os mares estão com a temperatura inexoravelmente crescente. Isso significa que muitas pessoas não terão escolha a não ser fugir de regiões litorâneas ou áreas que vêm sendo alagadas frequentemente, causando uma migração em massa para territórios mais altos, criando a crise de refugiados climáticos.
Além disso, enquanto a riqueza cresce, a pobreza também se intensifica, deixando muitos jovens sem perspectivas claras. A falta de escolas que ensinam habilidades práticas e profissionais essenciais agrava ainda mais essa situação. Com uma massa cada vez maior de nem-nem-nem (nem estudam, nem trabalham e nem estão procurando emprego).
Tudo isso leva muitos casais jovens a repensarem a ideia de ter filhos. Um recente estudo publicado na revista The Lancet mostra que, até 2050, mais de três quartos dos países não terão taxas de fertilidades altas o suficientes para sustentar o tamanho da população ao longo do tempo. Até 2100, esse número aumentará para 97% dos países.
Diante de todo esse panorama tão desafiador, não podemos simplesmente parar o mundo. Precisamos agir com determinação e encontrar soluções concretas.
Chorar não resolverá nossos problemas; é hora de ter coragem e esperança em nossas ações, moldando um futuro que todos precisam e merecem. Para isso acontecer, o jornalismo deverá ser a nossa forma de conhecer a verdade e unir forças para frear essa tristeza sem fim. Espero não ter feito você procurar desesperadamente pelo seu calmante, mas sim ter jogado luz em desafios que precisamos enfrentar juntos.
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar











