Final de ano é uma época difícil para as pessoas internadas em hospitais. A necessidade de conviver com um problema de saúde em um ambiente marcado por sensações de dor se soma à ausência da família. Para tentar amenizar o vazio, uma rede de hospitais de Campinas buscou alternativas. E a alimentação ganhou espaço.
A elaboração de um cardápio dirigido aos pacientes com itens típicos de final de ano foi a maneira encontrada pelos hospitais Vera Cruz e Casa de Saúde para tornar a vivência da internação mais leve.
A nutricionista Amanda Cantatori explica que a elaboração não descartou as restrições alimentares dos pacientes, mas incluiu elementos capazes fazê-los recordar a data. “Elaboramos um cardápio que possa contemplar todas as dietas alimentares e ser celebrativo”, explica. “E também enviamos as refeições com etiquetas de identificação temáticas”, conta.
Daniele Cambuí, também nutricionista, esclarece que o ambiente hospitalar sugere uma baixa ingestão de alimentos. E o grande desafio está em proporcionar uma gastronomia diferenciada que possa, não só ficar na memória dos pacientes, como ser aliada no combate à desnutrição intra-hospitalar, um problema que preocupada os agentes de saúde.
“Teremos um jantar especial, como ceia de Natal com radicchio, parmesão e mostarda, arroz com nozes e peru, farofa de frutas secas com castanhas-do-Pará, cenoura baby para equilibrar o prato, além de mousse de damasco. Na dieta leve, será servido uma sopa natalina de feijão branco com couve e bacalhau”, detalha Daniele.
O almoço também será marcante. “O menu terá frutas secas nas saladas, risoto de limão siciliano, ragu de cordeiro e torta holandesa, e serviremos uma sopa ‘divertida’ com peito de peru para pacientes com dieta leve” completa.
Desnutrição intra-hospitalar
Dados da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (Braspen) justificam a preocupação da nutricionista em proporcionar uma experiência diferente ao paladar dos pacientes: entre 20 e 60% dos adultos hospitalizados podem ter desnutrição intra-hospitalar, quadro mais alarmante em idosos e pacientes críticos. Para evitar o problema, Daniele ressalta a importância de identificar os casos durante a internação e estabelecer a conduta nutricional mais apropriada para cada paciente.
“Grande parte da população que interna tem perda de peso e massa muscular, e o desafio da equipe de nutrição é evitar que isso aconteça”, afirma. Segundo a nutricionista, a situação pode acarretar complicações, como pior resposta imunológica, atraso no processo de cicatrização, risco elevado de complicações cirúrgicas e infecciosas, maior probabilidade de desenvolvimento de lesões por pressão, aumento no tempo de internação e do risco de mortalidade.