Enquanto parte da Grécia é arrasada por incêndios, os imigrantes estão sendo acusados de atear fogo em regiões do nordeste do país, o que tem incitado ao ódio racista contra eles nas redes sociais. Contudo, pelo menos duas notícias publicadas pela comunicação social grega implicando migrantes em incêndios foram desmentidas.
A fúria anti-imigrantes intensificou-se quando um grupo de paquistaneses e sírios foi acusado nas redes sociais de ter sido apanhado em flagrante ao tentar provocar um incêndio perto da cidade de Alexandrópolis, em Evros. Essa região fronteiriça da Turquia é desde sábado palco de violentos incêndios, propagados por temperaturas elevadas e ventos fortes.
Na terça-feira, um morador local transmitiu um vídeo ao vivo no Facebook mostrando imigrantes amontoados numa caravana e gabando-se de os ter apanhado por tentarem “incendiar-nos”. “Nãos os mostrem… queimem-nos!”, comentou um internauta.
O homem que divulgou o vídeo foi detido, junto com dois cúmplices. As autoridades destacaram que tais atos não seriam tolerados. Os três detidos foram acusados de incitação à violência racista pelas autoridades judiciais gregas.
Quanto aos imigrantes, eles foram acusados de entrada ilegal no país e tentativa de incêndio criminoso por um procurador do Ministério Público de Alexandrópolis.
Uma fonte governamental afirmou, entretanto, ao diário Kathimerini, que os elementos de prova disponíveis sugerem, em vez disso, que os migrantes poderão estar ligados a um incêndio acidental.
A retórica racista anda de mãos dadas com a desinformação veiculada por alguns meios de comunicação. Um portal digital de informação local noticiou na terça-feira que 20 migrantes tinham sido detidos perto de Alexandrópolis após uma troca de tiros com a polícia. As autoridades negaram.
A estação de televisão Open também fez na quarta-feira um desmentido, depois de ter relatado erradamente que dois migrantes tinham sido surpreendidos ao atear um incêndio na região vizinha de Rodopi.
O norte da Grécia foi devastado por violentos incêndios que obrigaram à retirada de mais de 14 mil pessoas, inclusive de um hospital. Diversas frentes de fogo, que se fundiram numa linha com 15 quilômetros de comprimento, reduziram a cinzas mais de 60.000 hectares de terras agrícolas e floresta.
O ressentimento contra os imigrantes é forte nas áreas fronteiriças gregas, onde locais acusam muitas vezes os requerentes de asilo de roubo e afirmam que a condução imprudente dos traficantes de pessoas representa um grave risco nas estradas.
Das mais de 20 pessoas mortas nos incêndios desta semana, 19 eram imigrantes. Dezoito pessoas, entre as quais duas crianças, foram encontradas mortas na terça-feira perto de uma aldeia situada a 38 quilômetros da fronteira com a Turquia. E um outro imigrante tinha já sido encontrado morto no dia anterior.