Além dos impactos no meio ambiente e na saúde dos moradores, o incêndio de grandes proporções que atingiu uma mata em Jaguariúna entre quinta (26) e sexta-feira (27) causou desequilíbrio na fauna local. Aves fugindo enquanto as labaredas consumiu as árvores podiam ser vistas ao longe. região é muito comum ver tucanos, pica-paus, maritacas e periquitos. A vegetação muito provavelmente abrigava pequenos primatas, capivaras, tatus e cobras. Neste sentido, uma força-tarefa está sendo montada para avaliar a extensão desses danos e para averiguar se há bichos a serem resgatados. Balanço divulgado na tarde desta sexta-feira indica que as chamas atingiram três fazendas do entorno, além da mata nativa. Este espaço é conhecido como mata da Fazenda Santa Úrsula ou Mata do Celso. No total, foram 1,5 milhão de metros quadrados desvastados, o equivalente a 200 campos de futebol aproximadamente.
Numa avaliação preliminar, técnicos não obtiveram relatos de animais de grande porte mortos. A suspeita é que eles fugiram pelos corredores naturais que se formam na mata ciliar ao longo do Rio Jaguari. O maior foco do incêndio ocorreu numa reserva particular dentro da área onde fica a unidade da AmBev. Por ser um área privada, essa ação de análise da fauna ainda segue em suspenso, no aguardo de aval para entrada de técnicos. Não houve evacuação de funcionários da fábrica, segundo a Defesa Civil.
É possível que a área atingida pelo fogo também abrigava lobos-guará e onças pardas.
O Hora Campinas apurou que um plano de ação será instituído na cidade nos mesmos moldes do implantado no Parque Estadual do Juquery na Grande São Paulo. Parte da reserva ambiental desse parque foi consumida pelas chamas nos últimos dias. Lá, a fauna foi monitorada e animais em situação de vulnerabilidade, resgatados.
A mobilização para salvar os animais e dar abrigo a eventuais feridos envolve técnicos da Prefeitura de Jaguariúna, por meio do Departamento de Zoonoses, da Defesa Civil da cidade, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e da Faculdade de Jaguariúna (FAJ). Informações do Conselho Estadual de Medicina Veterinária, que indica protocolos de socorro aos bichos, serão utilizadas.
O Zoo Bosque Municipal de Pedreira e a Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente da cidade se colocaram à disposição de Jaguariúna para ajudar e abrigar eventuais animais resgatados.
A reportagem do Hora Campinas esteve na manhã desta sexta-feira (27) na área atingida pelo fogo. Ainda havia troncos de árvores queimando e fumaça saindo das cinzas. Uma enorme extensão de pastagem foi consumida pelas chamas. Siriemas perdidas em meio à alta temperatura circulavam pelo que restou da vegetação. Até cachorros de fazendas vizinhas estavam desorientados. Imagens áereas cedidas pelo Corpo de Bombeiros mostram o tamanho da destruição.
Fogo foi controlado na madrugada
O incêndio de grandes proporções que devastou uma área de mata nativa entre a quinta-feira (26) e esta sexta-feira (27) só foi controlado nesta madrugada, por volta das 5h. O fogo assustou os moradores e gerou momentos de tensão de quem mora nas imediações dos focos. O receio era de que as chamas alcançassem o trecho residencial. “Nunca tínhamos presenciado algo nessas dimensões”, lamentou Fernanda Tesche, diretora da Defesa Civil de Jaguariúna. A devastação foi geral: ela atingiu a mata nativa que circunda a AmBev e a unidade da Motorola, além de pastagens das fazendas do entorno.
De acordo com Fernanda, Jaguariúna contou com o reforço das unidades dos bombeiros militares de Campinas e Mogi Guaçu para enfrentar o incêndio. Eles assumiram o controle da operação, segundo ela. Os bombeiros municipais de Jaguariúna, num total de oito funcionários, deram apoio à operação. Até os motoristas da sua equipe colaboraram.
Brigadistas das empresas AmBev e Motorola também integraram a força-tarefa, segundo a diretora da Defesa Civil. Havia uma expectativa na cidade de que os funcionários da AmBev seriam evacuados da fábrica, em função das grandes labaredas e da alta temperatura do fogo. Mas isso não se confirmou, segundo Fernanda. “As brigadas da AmBev e da Motorola são muito eficientes e muito competentes. Eles trabalharam até o último minuto”, ressaltou a diretora. As áreas de seguranda das empresas também se envolveram para ajudar na coordenação.
A força-tarefa para apagar o incêndio
A operação que conseguiu debelar o incêndio em Jaguariúna contou com mais de 50 profissionais, entre bombeiros municipais e da Defesa Civil da cidade (num total de 11), bombeiros militares de Campinas e Mogi Guaçu (12) e a brigada da AmBev (30 membros). Oito viaturas foram utilizadas na ação, das quais três caminhões-pipa com capacidade para aproximadamente 10 mil litros cada. Eles davam suporte para abastecer as viaturas de mobilização e circulação.
Veja o histórico da reportagem
Quem mora em Jaguariúna viveu na tarde e noite desta quinta-feira (26) uma sensação de aflição e angústia por conta de um grande incêndio que consomiu uma mata próxima à unidade da AmBev. Desde a tarde, as labaredas indicavam focos sem controle.
O incêndio aconteceu numa área perto de residências e chácaras localizadas nas imediações do Rio Jaguari. A princípio, as chamas atingiam a vegetação do outro lado da margem. Mas o manancial é muito estreito e os moradores temiam que as labaredas de uma copa mais alta atingissem a outra margem, tornando o incêndio ainda mais perigoso. Além deste foco de incêndio próximo à AmBev, a cidade registrou outros em vários bairros da cidade.
A queimada de grandes proporções gerou ainda um fenômeno crítico. Sem vento, a fumaça derivada do fogo formou uma espécie de nevoeiro. Essa névoa de fuligem “engoliu” partes mais baixas de bairros como o Novo Jaguari, Berlim e Nova Jaguariúna. Muita gente saiu de suas casas para observar o incêndio. Parte registrou fotos e vídeos.