A Lavagem das Escadarias da Catedral agora é Patrimônio Cultural Imaterial de Campinas. O registro da tradicional cerimônia ocorreu nesta quinta-feira (24), após assinatura do prefeito Dário Saadi. Ele conduziu a reunião de apreciação do pedido de registro da cerimônia pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Os conselheiros aprovaram por unanimidade o pedido de registro que considerou para este reconhecimento: a história, a ancestralidade e o fato desta celebração, que ocorre há 37 anos em Campinas, conservar a tradição de ritos afro-brasileiros.
A cerimônia da Lavagem das Escadarias simboliza a reparação e superação das injustiças derivadas do racismo. “Deixa a história para a gente aprender com ela e seus erros. E vamos, a partir de hoje, reconhecer e valorizar toda a comunidade negra. A lavagem é fundamental, não só pelo reconhecimento de uma questão cultural, mas a afirmação de uma cultura que muitas vezes foi perseguida, esquecida e que a gente tem que valorizar”, disse o prefeito.
A lavagem das escadarias ocorre anualmente no Sábado de Aleluia. Ela deve voltar a ser presencial em 2023.
Desejo da comunidade
O reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial é um desejo da comunidade. Mãe Dango e Mãe Corajacy são idealizadoras e detentoras desta manifestação cultural.
Emocionada, Mãe Dango disse que participar deste momento é legitimar um processo de luta.
“Estar em frente a este Conselho tem um simbolismo muito grande. É uma legitimidade da luta, do protesto que se torna um bem imaterial”, afirmou.
Mãe Dango, hoje com 70 anos, começou a lavagem aos 33 anos junto a Mãe Corajacy. “Quero agradecer este dia tão maravilhoso. Que Oxalá abençoe a todos.”
Entre as manifestações afro-brasileiras em Campinas, a Lavagem das Escadarias é a que congrega mais representantes dos movimentos culturais negros, como a capoeira, os tambores, o jongo e o samba de bumbo, e das religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda.
Também homenageia a padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, trazendo o espírito sincrético da cerimônia. O pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Catedral Metropolitana de Campinas, Caio Augusto de Andrade, participou da cerimônia e também, entre os convidados, estava Edna Lourenço, da Associação dos Religiosos de Matrizes Africanas da Região de Campinas.
Desde 2013, Campinas passou a reconhecer os bens culturais relacionados às práticas culturais imateriais por meio da Lei Municipal nº 14.701, regulamentada pela resolução 131/2014.