– Eu quero liberdade, Pai! Só isso! – bradou a filha adolescente após ele ter negado um pedido para ir a uma festa.
– Você está certa, filha! Aliás, que bom que queira liberdade! Eu também a quero. Aliás, duvido de quem não a queira de verdade. Sem ela não somos seres humanos – argumentou o pai.
– Então por que não me deixa fazer o que eu quiser? – protestou ela, receosa agora com o rumo que poderia tomar a conversa.
– Porque liberdade não é fazer somente o que dá na telha! Isso seria mau uso da liberdade, o que é libertinagem – sentenciou o pai.
– Ah é! Você sempre fala isso! E o que é libertinagem? A minha liberdade é para eu fazer o que você quer?! E quando não faço o que você quer, então é libertinagem… É isso mesmo? – Disse a filha fitando o pai com ares de vitória por tê-lo colocado numa situação que, para ela, não teria saída.
Mas o mais velho não se abateu e respondeu com outra indagação:
– E o que é liberdade para você?
A adolescente, sem refletir, respondeu o que ela e a quase totalidade das pessoas do nosso tempo pensam sobre o assunto:
– Liberdade é poder fazer o que eu quiser, sem ter de ficar obedecendo a ordens suas, da mamãe e das outras pessoas o tempo todo. Eu sei que ninguém pode fazer o que quer a qualquer hora, e é por isso que a liberdade é relativa. Mas somente é plenamente livre quem pode sempre fazer o que quer. Quer saber?! – prosseguiu ela – não quero ouvir a sua resposta – e saiu batendo portas…
Mais tarde, a garota confidenciou com uma amiga mais velha, a discussão que tivera momentos antes com o pai. A resposta daquela merece as nossas reflexões:
“Você diz que liberdade é poder de escolher o que faremos ou não faremos a cada momento. De fato, a liberdade traz em si o livre arbítrio de decidir diante de cada situação. Porém, essas escolhas vão como que aniquilando a nossa liberdade. Se escolho fazer um curso universitário, renuncio, naquele momento, a todas as outras carreiras que não aquela. Se escolho me casar, renunciou a vida de solteira. Se escolho ser mãe, renunciou muitas coisas que a maternidade há de me privar. A nossa vida vai sendo construída com essas escolhas LIVRES. Com o passar dos anos, as possibilidades vão se tornando menores. Aos 60 anos, por exemplo, não podemos mais escolher ser mãe, e os homens já têm a absoluta certeza de que não serão jogadores de futebol. As nossas escolhas anteriores nos colocam numa situação de vida que excluem outras possibilidades e – partindo do seu conceito de liberdade – aniquilam a própria liberdade, pois não há mais tantas opções”.
Depois de uma pausa breve, prosseguiu:
“Depois de irmos escolhendo as rotas a percorrer nesse intrincado emaranhado de ruas e avenidas que compõem a nossa vida, depois de irmos fazendo o que ‘dá na telha’, chegará um trágico momento em que não teremos mais escolha nenhuma: agora só resta um túmulo gelado… É para isso que quer a sua liberdade? Quer simplesmente poder decidir entre caminhos que, ao final, não levam a lugar algum? A vida se reduz a escolhas sem sentido que podem ser feitas antes do último suspiro?”
A adolescente ficou perplexa e não ousava perguntar nada. Mas a amiga veio em seu socorro:
“É por isso que a liberdade não é só poder escolher a cada momento. De fato, a liberdade traz consigo esse poder de eleição. Mas é muito mais. É um dom que nos é concedido e pelo qual podemos caminhar por conta própria para o nosso fim, para o seguimento da nossa missão. Livre não é quem faz o que quer, como se as escolhas fossem neutras, mas quem sabe escolher dentre as inúmeras opções as que conduzem ao fim último desse caminhar. Boas serão, portanto, as escolhas que nos conduzem ao cume, onde um Pai nos aguarda ansiosamente para uma eterna felicidade. Assim, a liberdade não será algo que se aniquila com o tempo, mas que nos conduz ao AMOR, em cuja posse seremos plenamente LIVRES”.
Fábio Henrique Prado de Toledo, casado com a Andréa Toledo, pai de 11 filhos e avô de 2 netas. Moderador em cursos de orientação familiar do Instituto Brasileiro da Família – IBF. Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC, é Juiz de Direito em Campinas. Site: www.familiaeeducação.com.br. E-mail: [email protected]