O sociólogo e supervisor de ensino de Campinas Antonio Donizeti Leal lançará neste final de semana o livro “Trajetórias e Resistência: Análise da construção da identidade em jovens em situação de rua”.
O lançamento ocorre neste sábado (18), durante o 1º Festival Literário de Campinas, o Flic@, que se estenderá até este domingo (19), na Estação Cultura.
Atualmente, Donizeti atua na Fundação para a Educação Comunitária (Fumec) e no Centro de Educação Profissional de Campinas (Ceprocamp).
A obra é resultado da dissertação de mestrado em Educação, defendida no Departamento de Ciências Sociais na Educação (Decise) na Unicamp, em 2000, mas só agora está sendo publicada.
Donizete conta que a pesquisa de campo foi feita durante dois anos, inicialmente com os educadores sociais que atuavam na Praça da Sé, em São Paulo, para que conhecesse a metodologia aplicada no contato com os jovens.
Em Campinas, o trabalho foi desenvolvido em conjunto com a Pastoral do Menor, acompanhando a atuação de quatro educadores sociais, em espaços diversos, como a rua (centro de Campinas) ou em condição de abrigamento.
A trajetória dos jovens em condição de rua, no município de Campinas, e como eles constroem suas identidades, segundo estratégias de sobrevivência e resistência mesmo invisibilizados e tratados como objeto são o fio condutor da publicação.
Mas o autor trabalha também questões conceituais como “o que é ser jovem em condição de rua”. Apoiado em um repertório teórico denso e consistente, o sociólogo verifica a adequabilidade dos conceitos teóricos em sua pesquisa de campo.
“O tema necessita de reflexões urgentes, sobretudo em razão do agravamento das desigualdades sociais, reforçadas pela pandemia da covid-19”, acredita.
Crescimento da população de rua
De acordo com Donizeti, o motivo principal por escolherem as ruas perpassa pelas questões socioeconômicas, mas também pela desorganização familiar, pelas práticas autoritárias e muitas vezes violentas vividas tanto nas ruas como nas instituições públicas, que causam reiteradamente a sua exclusão social.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no Brasil, a população que vive nas ruas cresceu 38% entre 2019 e 2022, atingindo 281,4 mil.
O autor aponta algumas razões para que o jovem opte por viver nas ruas. “As causas são múltiplas: o aumento da pobreza, o desemprego, a fome, a violência nas ruas e dentro da família, a precariedade da moradia e o uso de substâncias psicoativas estão entre elas”, observa Donizeti.
De acordo com ele, as entrevistas e a observação ativa possibilitaram apreender como os jovens se apresentam e representam suas identidades em diferentes contextos. “Procurei assumir uma postura metodológica, dando voz a esses jovens, sempre com respeito e cuidado, e buscando lugares onde eles se sentissem seguros.”
O autor identifica dois movimentos importantes dos jovens em estudo, os processos da “circulação” e da “viração”. “Pela condição de marginalidade social, os jovens exercitam a ‘viração’, isto é, precisam esmolar, fazer bicos, furtar, se prostituir, vivendo vários personagens na forma de ‘identidades/máscaras’, como estratégias de sobrevivência”, explica.
Outra questão relevante do trabalho é a passagem dos jovens pelas instituições, tanto acolhedoras como repressoras, onde também há um processo de “adequação” (“viração”) a cada espaço.
Serviço:
1º Festival Literário de Campinas – Flic@
Lançamento do livro “Trajetórias e Resistência: Análise da construção da identidade em jovens em situação de rua”.
Preço: R$ 50,00
Dias e horários: 18/11 (sábado) e 19/11 (domingo), das 9h às 21h
Local: Estação Cultura
Entrada gratuita
Programação completa do Flic@: https://portal.campinas.sp.gov.br/sites/flica