A campineira Karin Rachel Aranha Mohamed Fayz iniciou 2023 com a intenção de recomeçar a vida. Amparada por uma tia, renovou o visual, alterou seu perfil nas redes sociais e, mesmo precisando de ajuda, decidiu ajudar por meio de trabalhos voluntários. A ausência do filho, no entanto, ainda não permite um recomeço.
Uma decisão do juiz Geraldo Fernandes Ribeiro do Vale da Segunda Vara Civil de Valinhos no dia 1 de dezembro de 2022 representou uma vitória em meio a uma luta que Karin trava desde setembro para ter o filho Adam, de 4 anos, de volta. A decisão lhe concede guarda provisória do menino, levado pelo pai, o egípcio Ahmed Tarek Mohamed Fayz, para o Egito em setembro do ano passado sem o consentimento da mãe. A batalha, agora, é para que a decisão seja cumprida. O advogado Jamil Itani, que está à frente do caso, aguarda uma posição das autoridades brasileiras e internacionais para que Adam possa retornar ao Brasil.
Além do processo na vara civil, também há um inquérito aberto na Delegacia da Mulher (DDM) de Valinhos, no qual o Ahmed é acusado de sequestro e violência doméstica.
O drama de Karin começou no dia 20 de setembro, quando ela retornou ao Brasil após passar dez meses em Londres, na Inglaterra, a trabalho. Com saudade, ela esperava rever o filho Adam, que havia ficado com o pai durante todo o período. Mas o que ela encontrou foi o apartamento no Jardim São Vicente, em Campinas, onde os três moravam, vazio e destruído. Seus documentos e o dinheiro na conta bancária também haviam sumido. No dia seguinte, ela recebeu mensagens de Ahmed, afirmando que o casamento havia acabado, e vídeos dele com o filho, na cidade do Cairo, no Egito. Desde então, Karin iniciou uma batalha para ter o Adam de volta.
Desde setembro, Karin está vivendo em uma Casa de Apoio. “Fazemos um trabalho lindo de ajuda aos moradores de rua. Isso tem me ajudado na luta pelo meu Adam”, disse nesta semana Karin, que exibe um perfil rejuvenescido nas redes sociais, em substituição à imagem de tristeza exposta nos últimos meses do ano passado. “Minha tia me levou para um salão de beleza para fazer cabelo e unha, pois eu estava muito derrubada. Serviu para aumentar minha autoestima, mas confesso que sinto um vazio”, afirma.
Karin não tem notícias do Adam desde o final de setembro, quando o então marido chegou a enviar vídeos do filho para ela. Depois disso, não houve mais contato.
“Eles estão na casa dos pais dele. Já estive lá um tempo no passado. O Adam deve estar se sentindo muito desconfortável. A casa é precária. São só dois quartos para sete pessoas e mais o Adam. Eles têm ainda o costume de criar os filhos de qualquer jeito. Não sei se o Adam está se alimentando direito.”
Para ela, o filho deve estar pensando que está em um passeio. “É apenas uma criança”, justifica. Se pudesse voltar no tempo, a campineira diz que não se envolveria com uma pessoa de cultura diferente.
O outro lado
Em entrevista concedida em outubro, o egípcio Ahmed Tarek Mohamed Fayz afirma que não usou documentos falsos para sair do Brasil com a criança. O advogado Júlio César Balerini Silva, que defendia Karin no início, disse que, “de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, para a criança sair do país deve haver autorização dos genitores, ou seja, a mãe ou o pai não pode sair do país sem autorização expressa de quem fica”.
Ahmed também alega que Karin tem “desequilíbrio mental”. Afirma que “eu sempre fui o pai e a mãe do meu filho” e acusa a mulher de não ter responsabilidade com a criança.
A campineira diz que Ahmed mente. “Ele é dissimulado. Difícil entender como pude viver com uma pessoa assim durante cinco anos. A única coisa que ele queria era cidadania brasileira.”
Na expectativa de que a decisão da Justiça seja cumprida, o advogado relata encaminhamentos de ofícios à Polícia Federal, embaixadas e Interpol para que haja um cerco em torno do acusado. “Estamos em busca de ajuda política internacional”, afirma Itani. E Karen reforça o coro por uma mobilização das autoridades para que, enfim, possa recomeçar sua vida.