A flexibilização ainda não causa o impacto esperado no setor de alimentação fora do lar na região de Campinas. Levantamento realizado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) aponta que pouco mais de um terço dos estabelecimentos trabalha no prejuízo. Dezembro de 2021 continua sendo o melhor mês de faturamento do setor nos últimos dois anos, desde que a pandemia se instalou no Brasil.
O levantamento da ouviu mais de 1,2 mil estabelecimentos sobre os resultados de fevereiro passado e constatou que 38% deles tiveram prejuízo em fevereiro. O percentual, porém, é melhor que o de janeiro, quando 43% confirmaram perdas no mês. Dezembro foi o mês de melhores resultados: apenas 31% dos bares e restaurantes relataram prejuízos. O índice de estabelecimentos que realizaram lucro em fevereiro chega a 26%, melhor que os 22% de janeiro. Em fevereiro, 34% ficaram em equilíbrio.
Para Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel, o desempenho ainda teve reflexos do pico de infecções causado pela variante ômicron no começo do ano.
“Hoje já funcionamos praticamente sem restrições na maior parte do país, mas nos preocupa o longo tempo em que uma parcela significativa dos bares e restaurantes trabalha com prejuízo. E não foi só pela queda no movimento. Outros fatores, como as parcelas dos financiamentos em atraso e a inflação dos insumos, que praticamente não foi repassada para os cardápios, influenciam no resultado dos estabelecimentos”, afirma.
O quadro faz com que 45% das empresas que estão no Simples (que representam 85% do total de respondentes) estejam com parcelas atrasadas. Destas, 69% pretendem aderir ao Relp, programa de refinanciamento. Elas têm até o dia 29 de abril para resolver pendências e viabilizar sua adesão ao programa para renegociar os débitos, estejam elas ou não inscritas na dívida ativa.
Matheus Mason, presidente da Abrasel Regional Campinas, que responde por mais de 90 municípios, diz que a pesquisa nacional vem na mesma linha do setor regional.
“O retorno dos clientes com a liberação das restrições registrou aumento nos últimos meses, mas o setor sofre forte impacto com reajustes altos das matérias-primas, combustíveis e, agora, com a alta da energia elétrica na região”, explica. “Além dessas altas, também temos contra os empréstimos do Pronampe contraídos na pandemia, que começam a vencer, com juros altos, impactando ainda mais o caixa das empresas.”
Delivery
O levantamento da Abrasel mediu a questão do delivery. Quase quatro em cada cinco (78%) estabelecimentos consultados fazem entregas de refeições – 14% disseram não fazer e 8% informaram ter começado a operar o serviço, mas desistido. Entre os que fazem, mais de um terço (35%) passou a fazê-lo após o começo da pandemia e 81% operam o delivery por meio de uma plataforma de entregas, como os aplicativos, combinada ou não a canais próprios, como site, telefone e WhatsApp. Há um domínio absoluto do iFood: 94% disseram ter entregas feitas por esta plataforma – o concorrente mais próximo, Rappi, tem apenas 11% de participação.
“O delivery foi importante durante a pandemia, tanto que houve uma adesão massiva de restaurantes ao sistema, como mostra a pesquisa. E agora continua como uma importante fonte de receita para os estabelecimentos. O que nos preocupa é a concentração dos pedidos em um único aplicativo, dependência aprofundada com a saída do Uber Eats do Brasil”, reforça Paulo Solmucci.