Um dia eu a avistei. Estava sentada no vaso pendurado na entrada de casa.
Seu olhar era doce.
Passei a observá-la. Todos os dias.
Eu abria a porta e…
Lá estava ela, fazendo ninho.
Fechava a porta.
Abria a porta no dia seguinte e …
Ela não estava, mas estava procurando pauzinhos.
Fechava a porta.
Abria a porta e …
Lá estava ela. Agora chocando.
Seu olhar era de uma doce mãe.
Abria a porta.
Lá estava ela, chocando. A família vai aumentar.
Fechava a porta.
Abria a porta.
Lá ela não estava, mas a família cresceu!
Fechava a porta.
Lá estava ela, alimentando sua prole.
Abria a porta.
Ela não estava lá.
Fechava a porta.
Abria a porta.
Ela não estava lá…
Fechava a porta.
Abria a porta.
Ela não estava lá..
Fechei a porta.
Ela não voltou.
Abri a porta. Com medo.
Os filhotes morreram. Meus olhos se encheram de lágrimas.
Fechei a porta. Com tristeza.
Não. Você e seus filhotes não morreram. Vocês foram assassinados pela maldade humana.
Resta em paz. Mas continue voando… Voa, pombinha, por esse céu que há abraçar o teu voo. Vou contigo na imensidão azul.
Ligo a TV. Vejo Gaza. Desligo a TV… Ligo a TV. Vejo Congo. Desligo a TV… Ligo a TV. Vejo a Ucrânia. Desligo a TV…
“Ah, felicidade… sobre qual trem noturno você vai viajar? Eu sei, que você vai passar, mas como sempre com pressa, não vai parar” (Felicità, de Lucio Dalla)
Gustavo Gumiero é Doutor em Sociologia (Unicamp) e Especialista em Antigo Testamento – gustavogumiero.com.br – @gustavogumiero