Após estrear com vitória fácil por 100 a 59 sobre o Irã no último sábado (26), a Seleção Brasileira agora se prepara para enfrentar a atual campeã Espanha, nesta próxima segunda-feira (28), às 10h30 (horário de Brasília), pela 2ª rodada do grupo G da Copa do Mundo de Basquete Masculino de 2023.
O duelo, que reúne em quadra nada menos do que duas nações bicampeãs mundiais da modalidade, acontece em Jacarta, capital da Indonésia. A competição também está sendo sediada no Japão e nas Filipinas, exatamente onde o Brasil subiu ao pódio mundial pela última vez, graças ao talento de um campineiro fora de série: Marcel de Souza.
Há exatamente 60 anos, liderado dentro de quadra pela incrível dupla Wlamir Marques e Amaury Pasos, o Brasil se sagrou bicampeão mundial de basquete, derrotando todos os seus adversários, incluindo os Estados Unidos no jogo derradeiro decisivo, disputado no dia 25 de maio de 1963, no Ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. A Seleção Brasileira também havia conquistado o título mundial em 1959, no Chile.
Há 45 anos, com apenas 21 de idade, Marcel anotou o ponto decisivo que definiu a apertada vitória do Brasil por 86 a 85 sobre a Itália, pela disputa do terceiro lugar do Campeonato Mundial de Basquete de 1978, realizado nas Filipinas. A competição terminou com a Iugoslávia se sagrando campeã após triunfo sobre a União Soviética na grande decisão.
Na ocasião, faltavam apenas três segundos para o estouro do cronômetro e os italianos haviam acabado de marcar, assumindo a liderança do placar. Sem perder a esperança, o ala campineiro recebeu a bola na reposição pela linha de fundo e percorreu a quadra, saindo do garrafão de defesa até pouco à frente do círculo central, antes de saltar e arremessar de longa distância de maneira letal, garantindo a medalha de bronze para a equipe brasileira.
Com 22 pontos, ao todo, Marcel terminou como cestinha daquela partida contra a Itália, realizada no dia 14 de outubro de 1978, no Araneta Coliseum, em Quezon City, cidade mais populosa da Filipinas. Esse ginásio, inclusive, é uma das quatro sedes da atual edição do Mundial de Basquete, mas toda a fase final acontecerá em Pasay, Grande Manila. A grande decisão está marcada para dia 10 de setembro.
Mais sobre Marcel
Nascido no dia 4 de dezembro de 1956, em Campinas, Marcel Ramon Ponikwar de Souza herdou dois pais a vocação pelo esporte. Ambos desfilaram nas quadras da cidade entre as décadas de 40 e 50, mas nem eles nem qualquer outro membro da família chegou tão longe quanto Marcel, seja antes seja depois de seu enorme sucesso.
O pai Ramon de Souza, conhecido pelo apelido de Romão, jogou no time de basquete da Ponte Preta, enquanto Circê Loreto Ponikwar de Souza, conhecida como “Loira”, disputava vôlei, basquete e atletismo, onde foi até recordista em salto em altura. Além do esporte, o casal integrou a primeira turma do curso de Odontologia da PUC-Campinas, em 1949.
Formado na mesma área de seus pais, portanto em Odontologia, o filho caçula Maury de Souza, campineiro como Marcel, também seguiu o caminho do esporte e se tornou jogador de basquete profissional, chegando à Seleção Brasileira e acompanhando o irmão mais velho em momentos inesquecíveis no mais alto nível da modalidade.
Marcel de Souza defendeu a Seleção Brasileira de Basquete durante quase 20 anos. Ele estreou em 1973 e se aposentou das quadras em 1994. Ao todo, entre 1978 e 1994, ele disputou cinco edições de Mundial e quatro de Jogos Olímpicos, das quais seis ao lado de Maury de Souza, seu irmão mais novo, com seis anos de diferença.
Um ano após brilhar no Mundial de 1978, nas Filipinas, sendo responsável pela cesta que garantiu o terceiro lugar ao Brasil, Marcel de Souza atingiu o topo do mundo, não com a camisa verde e amarela da Seleção Brasileira, mas com o uniforme vermelho e branco do Esporte Clube Sírio, de São Paulo, em uma espetacular vitória na prorrogação por 100 a 98 sobre o Bosna Sarajevo, da antiga Iugoslávia, no dia 6 de outubro de 1979, pela decisão do Campeonato Mundial Interclubes de Basquete de 1979, sediado no Brasil.
O histórico duelo aconteceu no dia 6 de outubro de 1979, em pleno Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Na ocasião, graças à união entre torcidas de basquete e futebol, as arquibancadas estavam lotadas e, ao apito final, houve uma monumental invasão de quadra para a comemoração do título junto com os jogadores. O Sírio é o único time brasileiro que detém o troféu conhecido como Copa William Jones, em alusão ao então secretário-geral da FIBA, Renato William Jones.
Naquela época, ainda bastante jovem, com 22 anos, Marcel de Souza conciliava treinos e jogos com a rotina de estudos e obrigações na Faculdade de Medicina de Jundiaí. Atualmente, aos 66 anos, Marcelo trabalha como radiologista e clínico-geral em Jundiaí, cidade onde reside com a família.
O fim da década de 70, época em que eram companheiros de Sírio e Seleção Brasileira, marcou o início da parceria de sucesso de Marcel de Souza com o ícone Oscar Schmidt, considerado o maior jogador brasileiro de basquete de todos os tempos, maior cestinha da história dos Jogos Olímpicos, com 1.093 pontos – ao todo, foram 7.693 pontos com a camisa amarela. Marcel é o segundo maior cestinha da história da Seleção Brasileira, com 5.297 pontos em 392 jogos. Os dois ícones também jogaram no basquete italiano.
A famosa dupla alcançaria uma das maiores glórias do basquete brasileiro no dia 23 de agosto de 1987, data em que o Brasil conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, com uma histórica vitória por 120 a 115 sobre o anfitrião Estados Unidos, naquela que representou a primeira derrota da história dos norte-americanos dentro de seu próprio território. A extraordinária façanha completou 36 anos na última quarta-feira (23). Na época, a Seleção Brasileira era comandada pelo treinador Ary Vidal e a equipe também contava com Maury de Souza. Emoção em dobro para a família!