Em que pese o comportamento irresponsável de parte da juventude, situações flagradas em festas clandestinas e encontros sociais despreocupados, o medo da Covid-19 nunca esteve tão presente para brasileiros entre 15 e 24 anos como neste momento da pandemia. É o que mostra ampla pesquisa de uma organização não governamental, a Espro. A ONG afirma que trata-se do maior levantamento sobre a influência da doença na vida pessoal e profissional desta parcela da população.
Em linhas gerais, de acordo com o levantamento, o adolescente e o jovem brasileiros vivem o pior momento da pandemia até agora. Eles nunca tiveram tanto medo de morrer ou de contrair Covid-19, e chegam aos mais altos níveis de preocupação e de tristeza desde que as medidas de isolamento social tiveram início.
O estudo realizado pela Associação de Ensino Social Profissionalizante teve início em abril de 2020 e já colheu 17.422 entrevistas, com respostas de 18 Estados, mais o Distrito Federal.
Por conta das novas cepas, conforme reforçaram desde o final do ano passado as autoridades sanitárias e os infectologistas, o perfil mais jovem passou a ser predominante nos contágios no Brasil, inclusive os com quadro mais severo da doença. Conforme avançam os grupos mais velhos de vacinação, a balança das contaminações passa a pender para quem ainda não se vacinou, no caso, os adultos mais jovens.
No Brasil, os dados da Covid-19 mostram um total de 17,4 milhões de contaminados e 486 mil óbitos. Em Campinas, segundo balanço da última sexta-feira (11) da Secretaria Municipal de Saúde, são 106 mil casos e 3.465 mortes.
Dados comprovam
O rejuvenescimento da pandemia está ancorado em números. De acordo com a Fiocruz, a Covid-19 ganhou em 2021 “novos contornos”, afetando faixas etárias mais jovens: 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos. Em março último, por exemplo, 106 jovens entre 20 e 29 anos morreram por conta da doença no estado de São Paulo, de acordo com a Pasta estadual. Foi o maior número desde o início da pandemia. Nem todos apresentavam comorbidades.
Na avaliação de especialistas, um somatório de fatores explica essa mudança de perfil na pandemia: os jovens circulam mais, seja a trabalho ou por lazer, e eles têm uma personalidade mais destemida, o que os leva a flertar mais vezes com o perigo. Além disso, é a faixa da população menos imunizada.
Pesquisa
A pesquisa mediu diferentes aspectos da vida dos entrevistados em seis momentos desde o início da pandemia – na etapa mais recente, referente a março deste ano, 3.803 adolescentes e jovens responderam o questionário. Entre os temas abordados estão informações e preocupações com a Covid-19, medidas de proteção utilizadas, bem-estar, emprego, comportamento familiar e estudos.
De acordo com a pesquisa, 89% dos entrevistados alegaram ter preocupação alta ou muito alta de ficar doente – em abril de 2020, esse percentual era de 82%. O temor em relação a amigos e parentes contraírem Covid-19 é ainda maior: 96% em março, ante 92% do início da pandemia.
O medo de morrer também tem sido um tormento cada vez maior para o jovem brasileiro: 8 em cada 10 (79%) dizem que sentem essa preocupação, outro pico desde a primeira fase da pesquisa, quando o percentual era de 70%. Em relação à morte de familiares, o temor atinge 95% dos entrevistados (ante 90% em abril de 2020).