Venho de uma criação simples e, tanto quanto complicada, com quatro irmãos, todos estudantes de escola pública, sem educação financeira, sem ensino técnico e sem muitos incentivos profissionais. Logo que saí do ensino médio, já estava trabalhando, mas ainda tinha dúvidas sobre qual curso técnico ou superior faria, o que, na verdade, é bem comum nessa idade: ter dificuldade para fazer esse tipo de escolha.
Os poucos alunos que se formam nas escolas, especificamente em escolas públicas, são, na maioria das vezes, incentivados por projetos escolares que mostram uma oportunidade de melhorar o futuro por meio dos estudos. Lembro-me de que a organização de programas do ensino médio da escola em que me formei convidava diversos palestrantes para falar sobre as oportunidades que teríamos no mercado de trabalho e como facilitaria se tivéssemos os estudos técnicos ou superiores, e eram sempre muito bons e esclarecedores.
Quantas pessoas próximas você já não viu perder uma grande oportunidade de emprego por falta, ao menos, do ensino médio? Quanto mais pela falta do ensino técnico ou superior. Já sabemos que não foram poucas, mas também sabemos que nem todos têm os mesmos privilégios.
Já vi adolescentes trancarem faculdades com as quais não se identificaram, abandonando a faculdade por não se interessarem mais pelo curso, e outros que até se formaram, mas hoje trabalham em uma área totalmente diferente. E está tudo bem. Vivemos em um país onde a educação não é o nosso forte, o saneamento básico não recebe os devidos cuidados, o desmatamento da fauna e flora é alarmante, a área política é cheia de corrupções e aquela frase “muitos com pouco e poucos com muito”.
Somos tão jovens e vivemos com tantas influências de sucesso, onde tudo parece um mundo perfeito: todos têm carreira de sucesso, vida financeira estável, saúde física e mental em dia, e aparentemente nada parece estar errado. Mas vou te contar um segredo: isso não é real.
Temos realidades diferentes, pessoas que já nasceram com tudo e que não vão se preocupar na hora da escolha ideal, pois sabem que, independentemente do valor, vão poder se dedicar apenas aos estudos, pois alguém vai pagar. E temos a realidade da pressão de estudar ou trabalhar, pois já não conseguem arcar com os custos cheios de um curso superior.
Em 2009, o Enem teve algumas mudanças, e junto veio a possibilidade de que as pontuações das provas pudessem ser utilizadas como mecanismo para acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e ao Programa Universidade para Todos (ProUni), o que colaborou para o incentivo de pessoas com baixa renda a prestarem vestibulares e terem mais oportunidade em uma universidade.
O que eu quero dizer, na verdade, é que tudo bem você não saber o que quer fazer, o que quer ser no futuro. Porque tudo muda, tudo está mudando, e a sua escolha também pode mudar.
Afinal, a vida é feita de escolhas e oportunidades que surgem e desaparecem. O importante é estar sempre buscando aprender, crescer e se adaptar. Então, não se preocupe demais com a decisão de hoje, pois ela pode ser apenas o primeiro passo de um caminho novo e cheio de descobertas e realizações.
Bruna Beatriz Marques, 22 anos, é de Campinas, São Paulo. Atualmente trabalha como barista, mas pretende seguir a carreira de jornalista, mas está aberta para outros caminhos. A jovem fez Academia Educar presencialmente e se pudesse mudar algo no mundo começaria por criar oportunidades iguais.