Morreu nesta madrugada, aos 81 anos, o ex-prefeito de Campinas, Jacó Bittar. Ele ocupou a principal cadeira do Palácio dos Jequitibás entre 1989 e 1992, na esteira da redemocratização política no Brasil e em meio à força dos movimentos sindicais dos anos 80.
Bittar sofria de Mal de Parkinson e estava debilitado em função das complicações da doença. Sua morte provocou grande mobilização nas redes sociais. Políticos, admiradores, amigos e representantes de entidades da sociedade civil publicaram mensagens de carinho a ele e à família.
Os posts exaltavam seu legado humanitário e sua coerência política ao longo da carreira. Bittar nasceu no berço petista, mas estava filiado já há muitos anos ao PSB.
O velório será das 11h30 às 15h30 na Capela do Cemitério da Saudade, em Campinas. O sepultamento está previsto para às 16h30 no Cemitério de Sousas, com homenagem dos petroleiros.
A Prefeitura de Campinas decretou luto oficial de três dias em homenagem a Jacó Bittar. O prefeito Dário Saadi divulgou uma nota lamentando a morte. “Campinas perde um dos seus principais personagens da política, principalmente das décadas de 1980 e 1990. Um dos mais destacados sindicalistas do País, Jacó foi marcante em várias conquistas para a classe sindicalista de Campinas e região. Também foi importante na fundação do Partido dos Trabalhadores. Na época em que foi prefeito, de 1989 a 1992, acabara de me formar em Medicina e fazia residência em urologia no Hospital Mário Gatti e na Casa de Saúde. Em sua homenagem, vamos decretar três dias de luto oficial em nossa cidade. Meus sinceros sentimentos à família e aos amigos”, declarou Saadi.
O prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (RMC), também se manifestou. “Foi com profunda tristeza que recebi a notícia da morte do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar. Ele deixa um legado de luta pela democracia, pelos trabalhadores e pelos que mais precisam. À família de Jacó Bittar, meus mais sinceros sentimentos”, afirmou Reis.
Líder e amigo de Lula
Jacó Bittar foi dirigente sindical. Considerado um líder, era amigo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), que o visitou recentemente. Bittar foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores ao lado de Lula e Olívio Dutra. Fundou, ainda, no início dos anos 70, em plena ditadura militar, o Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Paulínia.
À época, no auge do governo militar, tratava-se de um movimento de resistência e de contraponto à mão pesada dentro da estatal. Bittar estava entre os líderes da primeira greve na Refinaria de Paulínia (Replan).
Polêmicas na Prefeitura
Jacó Bittar foi o primeiro prefeito eleito em Campinas após a redemocratização, a partir do meio dos anos 80. José Roberto Magalhães Teixeira (PSDB), falecido em 1996 e que o antecedeu, entrou na Prefeitura quando ainda vigorava a ditadura militar.
Seu governo foi marcado por transformações internas, por forte interação com movimentos sociais e estudantis – e também por polêmicas. Seu vice, Antônio da Costa Santos (PT), assassinado em 2001, rompeu com o governo da época, e com Bittar, quando denunciou fraudes na licitação para a construção do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), uma obra do governo estadual executada em Campinas. O projeto naufragou por volta de 1995 por não atender as áreas mais populosas da cidade.
Foi em 1991 o momento de maior tensão política em Campinas durante o governo Bittar. Com a denúncia de Toninho sobre o que apontava como “cartas marcadas”, a situação de aliança entre ambos desidratou. Bittar deixa então o PT e se filia ao PSB, onde ficou até a sua morte. O VLT teve uma sobrevida de mais três anos, mas naufragou e hoje é apenas esqueleto e memória para os campineiros.
Legado
As mensagens enaltecendo a história política de Jacó Bittar foram muitas desde o início da manhã. O Hora Campinas separou algumas delas. Veja abaixo:
“Que fique registrado a vida e a luta desse líder que os servidores de Campinas tiveram. Que seu legado visionário na Administração sirva de exemplo eternamente. Sua herança jamais morrerá “, comentou o presidente do Camprev, Marionaldo Maciel.
“O velho Jacó Bittar partiu! Recebo hoje com tristeza a notícia da partida do histórico Jaco Bittar, que foi fundador do PT, da CUT, do Sindipetro Campinas e ex-prefeito de Campinas pelo PT, cuja campanha em 1988 tive o prazer de trabalhar com meus e minhas companheiros(as) do Centro de Formação e Estudos Sindicais – CEFES, do qual Jacó também foi um dos idealizadores. Grande perda para a memória de resistência e luta da classe trabalhadora. Que descanse em paz. JACÓ BITTAR, PRESENTE!”, escreveu Martinho da Conceição.
“Luto! Hoje perdemos uma grande referência de humanidade e de liderança. Jacó Bittar nos deixa hoje, no entanto seus feitos como gestor público e seus exemplos de solidariedade e compromisso com as pessoas ficam marcados na memória e no coração de todos aqueles que ele pode tocar e alcançar. Meus sentimentos a toda família Bittar, e a todos os campineiros que sentirão muito a sua falta. Deus console a todos, “postou Régis Bueno.
“Hoje o dia amanheceu cinza. Faleceu nosso grande amigo Jacó Bittar, ex-prefeito de Campinas. Jacó nos deixa hoje mas seu exemplo, seus ensinamentos e seu legado permanecem vivos, pois na vida, tudo que é importante se transforma, mas jamais se perde. Descanse em paz meu amigo”, registrou Nelson Colato.
Homenagens
Coube ao presidente municipal do PSB, Wanderley de Almeida, o Wandão, comunicar os filiados sobre a morte. Ele deixou uma mensagem longa em seu Facebook. “Como se define alguém que se tornou um símbolo? Não é possível. Há homens que passam a vida procurando um caminho, mas há outros que atravessam o tempo sem perder o rumo. Ao longo de mais de 50 anos nas trincheiras pela democracia, Jacó Bittar personificou o ideal de uma geração. Ousado, construiu um movimento político que conduziu as principais transformações sociais do Brasil, garantindo a redemocratização do País. Arrojado, revolucionou uma cidade com uma agenda moderna na educação, na mobilidade, trazendo a pauta da sustentabilidade para uma nação que se reformava, ainda nos anos 1980. Jacó de tudo nos deu exemplo. Como militante, líder e dirigente. No movimento sindical mostrou que só a luta organizada poderia garantir conquistas e direitos. Na luta política, legou-nos o valor do conceito de grupo, de coletivo, da disciplina individual perante ao todo. Uma ideia não morre. Um conjunto de ideias não morre. Essa somatória se torna um ideal, passado de geração em geração. Jacó Bittar nos deixa hoje, mas seu exemplo, seus ensinamentos e seu legado permanecem vivos. Aprendemos com ele que não se faz nada grandioso sem que se pense com grandeza. Jacó Bittar apostou no tempo e tornou-se imortal. Obrigado por tudo, por todos nós! “Há homens que lutam um dia e são bons, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis” – Bertolt Brecht.
O vereaador Arnaldo Salvetti também fez uma homenagem emocionada. “Jacó Bittar faleceu. O ex-prefeito era um homem de raras qualidades. Jacó era amigo dos amigos, solidário, generoso. Era o homem da luta, mas também do diálogo. Foi um prefeito visionário, empreendedor, que não aceitou ser engolido pelos extremos da política. Entendeu que era preciso trabalhar, servir e se relacionar com o diferente, pois era preciso construir, realizar, garantir que a população tivesse o melhor. Foi punido por isso, mas o tempo se incumbiu de mostrar que esse espírito democrático do Jacó deveria prevalecer sempre na vida pública.
Fica o legado”, redigiu.