Vivemos em um tempo em que a presença parece abundante, mas o encontro é escasso. Cercados por telas, grupos e notificações, somos convidados a acreditar que estamos mais conectados do que nunca. No entanto, na escuta clínica, o que emerge com frequência é a queixa da solidão; uma solidão paradoxal, vivida em meio a muitos. A psicanálise nos oferece um olhar profundo sobre esse fenômeno: ela entende que a solidão não é apenas ausência de companhia, mas a experiência de não se sentir afetado ou reconhecido pelo outro. É o vazio que resta quando o laço simbólico (aquilo que realmente nos conecta) se enfraquece. Você pode me acompanhar nessa reflexão para não ficarmos sozinhos? Ótimo, me acompanhe, por favor e obrigado pela sua companhia, meu caro leitor, minha caríssima leitora.
Freud já observava que o sujeito é constituído na relação com o outro. Desde o nascimento, somos seres de demanda, voltados à busca de um olhar, de um gesto, de uma palavra que nos inscreva no campo do desejo.
Mas a sociedade contemporânea, marcada pelo imediatismo e pela superficialidade, estimula um tipo de laço que não passa pela alteridade. As relações se tornam funcionais, breves, utilitárias e o outro deixa de ser alguém com quem compartilhamos um espaço simbólico, para ser apenas mais um contato em uma lista. Lacan aprofundou essa leitura ao afirmar que o sujeito moderno sofre com a ausência de um “laço social consistente”.
Amizades, afetos e até experiências de intimidade passam a obedecer à lógica do descarte e da performance. O sujeito, então, perde a experiência de reconhecimento genuíno: fala, mas não é escutado; mostra-se, mas não é visto.
O resultado é uma solidão silenciosa, disfarçada sob a aparência de sociabilidade. Quanto mais contatos, menos encontros verdadeiros. A multiplicação das conexões digitais cria uma ilusão de pertencimento, mas raramente produz laços capazes de sustentar o sujeito em sua fragilidade.
A solidão, nesse contexto, não é a de quem está só, mas a de quem não encontra espaço simbólico no olhar do outro. O tratamento psicanalítico surge, nesse cenário, como um contra-discurso. Na escuta analítica, o sujeito é convidado a falar sem ser interrompido, sem ser reduzido a um personagem ou a uma função. O analista não responde com conselhos, mas com presença. É um tipo de encontro raro, que devolve ao sujeito a experiência de existir no campo da palavra. Nesse espaço, a solidão começa a se transformar, não porque o outro preencha o vazio, mas porque o sujeito aprende a habitá-lo de outro modo.
A clínica mostra que a cura não está em acumular contatos, mas em construir vínculos simbólicos.
Estar com o outro, em psicanálise, é aceitar o risco da diferença, o desencontro, a falta. É nesse reconhecimento que o sujeito reencontra sua singularidade e descobre que a solidão, quando elaborada, pode deixar de ser um sintoma de desamparo para tornar-se um espaço fértil de reencontro consigo mesmo.
Assim, em meio à multidão de contatos, a psicanálise nos lembra que o vínculo verdadeiro ainda é possível; não o que promete completude, mas o que oferece escuta, presença e palavra. É nesse intervalo, entre um eu e um outro que não se confundem, que o humano se reconhece, e que a solidão deixa de ser apenas ausência, para se tornar condição de encontro.
Thiago Pontes Thiago Pontes é Filósofo, Psicanalista e Neurolinguísta (PNL). Instagram @dr_thiagopontes_psicanalista – site: www.drthiagopontespsicanalista.com.br

 
			 
					





















