A dedicação ao próximo e à comunidade é a expressão mais elevada da existência humana. Servir não significa anular-se, mas reconhecer que nossas necessidades e as dos outros caminham lado a lado. Em um sentido mais amplo, isso revela que a vocação humana é o altruísmo: viemos para servir uns aos outros.
Servir dá sentido à vida, diminui o egoísmo e faz nossos próprios problemas parecerem menores. A verdadeira grandeza é encontrada no ato de ajudar e contribuir para um bem maior.
Essa visão de vida ganha ainda mais força quando olhamos para pessoas que encarnaram esse ideal com coragem e dedicação.
Neste contexto, vale lembrar de grandes exemplos que traduziram essa missão de vida em ação. Entre eles, destaca-se, Betinho, o sociólogo Herbert de Souza, completaria 90 anos, no último dia 3 de novembro. Ele dedicou sua existência à luta contra a fome, à desigualdade e à exclusão social no Brasil. Tive o privilégio de conhecer o criador do lema “Quem tem fome, tem pressa”, Betinho não apenas serviu, mas mobilizou milhões com sua visão de urgência e compaixão. A sua vida é testemunho de que servir é uma forma de grandeza que transforma realidades.
Fundada por ele em 1993, a Ação da Cidadania nasceu como uma ampla rede de mobilização nacional para ajudar os 32 milhões de brasileiros que, segundo o Ipea, viviam abaixo da linha da pobreza. Criada no auge do Movimento pela Ética na Política, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida tornou-se o movimento social mais reconhecido do Brasil. Betinho nos deixou como legado que a ideia de servir é construir um país mais justo.
Somos simultaneamente, aqueles que necessitam e aqueles que podem construir. A vida nos convoca a um fim maior do que supomos, e somente ajudando percebemos o quanto também dependemos dos outros para sermos quem somos.
A beleza de servir está em ver o outro feliz. Quando contribuímos de forma sincera, para a realização e o crescimento alheio, experimentamos a plenitude. É nesse envolvimento com algo maior que encontramos a verdadeira razão de existir.
O nascimento humano começa muito antes do primeiro suspiro: começa no amor, nos sonhos, na paixão, na intenção. Biologicamente, a vida surge na concepção; existencialmente, ela surge no desejo. Somos resultado de uma linhagem imensa de ancestrais, que nos antecede e molda quem somos.
Amamos e buscamos ser amados. Sobrevivemos, nos conectamos, crescemos e nos realizamos através de relações significativas. Herdamos valores dos pais, dos amigos e da comunidade, mas construímos nosso próprio sentido por meio de escolhas e liberdade.
Por fim, nascemos para servir e nascemos para o mundo. Servir quem amamos e servir à comunidade não é apenas um dever moral, mas uma regra da própria natureza humana.
E é nesse ato, simples e profundo, que encontramos grandeza, significado e plenitude. Porque, no mais íntimo de nossa existência, viver é ser. E ser, no seu sentido mais pleno, é ‘ser-vir’.
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar











