Jogar bolinha de gude, pular amarelinha ou até mesmo resolver o cubo mágico e desafiar os colegas em uma partida de tabuleiro. As brincadeiras do passado estão de volta. Reforçado pela tecnologia, que traz imagens de antigamente na palma da mão e com um click, o saudosismo reaviva práticas e estimula novos desafios. Andar no bom e velho carrinho de rolimã, por exemplo, agora virou evento oficial.
A brincadeira, que antigamente deixava as mães malucas em função do risco de atropelamento nas ruas e dos frequentes hematomas causados pela prática, agora é organizada. O passeio de rolimã fará parte da virada esportiva de Campinas, programada para os dias 25, 26 e 27 de agosto, com expectativa de pelo menos 300 pessoas presentes na Praça Emil Rached, no Dic 6, dia 27.
O espaço, localizado na Avenida Suaçuna, já é ponto de encontro para a prática desde o ano passado, quando aficionados da região do Ouro Verde passaram a organizar os passeios. O evento foi inspirado nas mobilizações que já aconteciam desde 2018 em Valinhos, Vinhedo e Paulínia, com o apoio das prefeituras locais e a forte presença de famílias, com crianças, pais e avôs.
“Eu sempre ia nesses encontros e resolvi começar aqui em Campinas também”, conta Marshall de Oliveira, de 54 anos, que ao lado de outras cinco pessoas trabalha para não deixar a velha prática morrer.
O último encontro na região do Ouro Verde foi no dia 4 de junho e reuniu cerca de 100 pessoas, entre crianças e adultos.
Marshal conta que conheceu o carrinho de rolimã quando tinha 6 anos de idade. “Comecei a andar com o meu avô nas ladeiras de Poços de Caldas e não parei mais”, lembra. Em Campinas, onde chegou em 1980 para morar no bairro Swift, as aventuras em cima da prancha de madeira com rodas prosseguiram.
“Havia poucas ruas asfaltadas e brincávamos na terra. Ralar mão, perna e braços era normal”, lembra.
Os carrinhos, conta, eram fabricados por seu pai. “Na época, era difícil encontrar rolimã. Geralmente, a gente tinha que pegar as rodinhas dos carrinhos de feira ou daquelas motinhas tipo velotrol quando quebravam.” Aos 10 anos, ele diz que montou seu primeiro modelo com a ajuda do pai. Hoje, com a volta da prática, Marshal tem a própria oficina, no quintal de sua casa. “As pessoas começaram a procurar e eu resolvi fazer. Atualmente, estou trabalhando na montagem de cinco carrinhos.”
O aficionado afirma que seus modelos têm freios, alavancas laterais e revestimento de borracha na parte da frente para garantir maior segurança. Os materiais são de madeira ou ferro. Apesar de simbolizar um lazer, a fabricação é cansativa e cara, diz.
“Um rolimã, quando encontro, está na faixa de R$ 15 a R$ 20, e eu uso quatro para cada carrinho. A madeira que utilizo é cedro, que custa entre R$ 80 e R$ 90 o metro. Tudo isso, sem contar os parafusos e retalhos para o freio, além da tinta. Só cobro o preço de custo e há quem ache caro quando peço R$ 250”, explica.
Nos passeios, além do modelo tradicional, é comum encontrar carrinhos diferenciados, com formatos que lembram animais, carros de corrida ou antigos e super-heróis. Modelos que devem tomar conta da Avenida Suaçuna no próximo dia 27. “A Prefeitura está investindo forte na divulgação. Esperamos receber gente de várias cidades da região”, diz Marshall.