O mundo acompanha com atenção e preocupação a investida militar da Rússia contra a Ucrânia. Descendentes dos dois países que moram na Região Metropolitana de Campinas (RMC) vivem dias de aflição sobre o destino de suas nações e de parentes e amigos que lá estão. Mas o que nem todo sabe é que na RMC há uma cidade que guarda um elo, embora hoje distante, com os dois países em conflito.
O município de Nova Odessa, que tem uma população aproximada de 61 mil pessoas e PIB per capita de R$ 64 mil, teve em seu berço colonizador a influência de imigrantes do Leste Europeu e da Rússia, um país transcontinental situado parte na Europa e parte na Ásia. A origem desse elo com a imigração passa pelo fundador da cidade, o médico Carlos José de Arruda Botelho.
O fundamento dessa influência está ancorado em duas situações: 1) a difícil vida dos imigrantes em solo estrangeiro, vítimas de opressões religiosas e políticas e de condições econômicas precárias, o que motivou o êxodo para o Brasil; 2) a necessidade dos fundadores de cidades brasileiras de ter pessoal para o trabalho nas fazendas, um processo que “explodiu” no País com a chegada de italianos e japoneses já no século 20.
Por que russos?
Em Nova Odessa, houve uma situação peculiar. Até então, como no eixo do Brasil em desenvolvimento, a mão de obra que sustentava as lavouras e as obras era escrava. Com a abolição da Escravatura, no final do século 19, os donos de terras e colonizadores voltaram os seus olhos para as famílias europeias, que viviam situações de conflito isoladas e, depois, uma grave crise por conta do advento da Primeira Guerra Mundial.
Até então, a Itália seguia como o “maior fornecedor” de imigrantes ao Brasil. A história de formação de Nova Odessa cita em seus textos oficiais, como os disponíveis no site da Prefeitura, que o fundador Carlos Botelho, responsável por liderar o desenvolvimento do então Núcleo Colonial de Nova Odessa, percebeu que era possível atrair os imigrantes russos.
Para isso, segundo o site oficial, “instruiu o seu auxiliar e amigo Augusto Ferreira Ramos (que estava em Nova York em missão do governo), para estudar a possibilidade de canalizar parte desse movimento para o Brasil”.
No início do século passado, narram o livros de história, esses imigrantes começam a chegar a Nova York e Londres. Depois, esse ciclo começa a considerar o Brasil como opção.
O site oficial da Prefeitura de Nova Odessa informa o seguinte: “Em 2 de agosto de 1905, desembarcaram em Santos, procedentes de Southampton, trazidos pelo vapor Aragon, mais 379 judeus russos. Foram enviados para vários núcleos, entre eles o de Campos Salles e o de Nova Odessa”.
Estavam, portanto, estabelecidas as primeiras conexões dessa influência do Leste Europeu.
Experiência não deu certo
Esse primeiro movimento acabou não dando certo, pois os russos não eram afeitos a trabalhos agrícolas, a principal necessidade do Núcleo Colonial de Nova Odessa. De acordo com os relatos oficiais, esses imigrantes se dispersaram e buscaram alternativas de sobrevivência nas áreas mais urbanas.
É neste momento que acontece um outro fluxo migratório para a cidade da RMC.
“Com o malogro da primeira experiêcia com imigrantes russos, a atenção da Secretaria de Agricultura voltou-se para a possibilidade de trazer para Nova Odessa, imigrantes da Letônia, que também eram considerados “russos” e que já estavam instalados em colônias, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, explica o site oficial.
Por que Nova Odessa?
A história oficial da cidade conta que o fundador Carlos Botelho, ruralista e grande estrategista para o desenvolvimento, visitou o Leste Europeu no início do século passado. Uma foto de sua visita está retratada no botão História do site da Prefeitura. O nome Nova Odessa, portanto, é uma inspiração à cidade que visitou. De acordo com esses relatos, Carlos Botelho gostou do estilo das ruas e do urbanismo que viu, por isso decidiu usá-la com referência.
A versão de que ucranianos também ajudaram na formação de Nova Odessa é desmentida pela história oficial.
O Hora Campinas perguntou para a assessoria de imprensa da Prefeitura de Nova Odessa e a resposta foi taxativa: não houve migração ucraniana para a RMC. O site oficial que retrata a imigração ucrania para o Brasil afirma que houve duas grandes levas de imigração: mil famílias no final do século 19 e mais mil famílias no início do século 20, a maioria esmagadora para o Sul do País.
A Odessa ucraniana
A cidade europeia (algumas publicações citam-na com um “s” – Odesa) foi fundada oficialmente em 1794, depois de a Rússia ter anexado territórios anteriormente pertencentes à Turquia. Ao longo dos tempos, de acordo com a Wikipedia, formou-se uma larga comunidade judaica em Odessa, proveniente da parte ocidental do país, tornando-a a mais judia das grandes cidades do Império Russo.
No período 1921-1922 como resultado da guerra, Odessa foi assolada por uma grande fome. Na Segunda Guerra Mundial, a cidade foi ocupada por exércitos romenos e alemães e foi finalmente libertada em abril de 1944.
Odessa continua a ser um destino de férias importante. Embora o ucraniano seja a língua oficial, a língua mais usada é o russo. A cidade apresenta uma mistura de várias nacionalidades e grupos étnicos, entre eles russos, ucranianos, judeus, gregos, moldávios, búlgaros, caucasianos, alemães e coreanos, entre outros. A cidade tem aproximadamente 12 mil habitantes.