O caso envolvendo o desvio milionário de dinheiro público que deveria ter sido investido em projetos de pesquisa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) teve mais um desdobramento nesta semana. A ex-servidora acusada do esquema teve seu nome incluído na lista da Interpol. Ela é considerada foragida.
Acusada de desviar mais de R$ 4 milhões destinados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) a projetos de pesquisas da Unicamp, a ex-funcionária comprou R$ 100 mil em moeda estrangeira para fugir do Brasil, segundo investigação do Ministério Público (MP).
A compra de moeda estrangeira se deu dentro do contexto de um plano de fuga para a Europa, de acordo com o MP. Seu paradeiro é ignorado.
A ex-servidora foi demitida após a descoberta do desvio milionário. Uma auditoria iniciada em 2023 comprovou a fraude. Pesquisadores e professores também estão na mira da investigação.
A Justiça aceitou denúncia por crimes de peculato e lavagem de capitais contra a ex-servidora. Ela se tornou ré. A Fapesp é uma agência de fomento à pesquisa científica.
A denúncia contra a ex-servidora foi apresentada pelo promotor de Justiça Fernando Vianna.
Ele aponta que a acusada, no período de 2017 a início de 2024, praticou os crimes de peculato por 27 vezes e de lavagem de capitais por ao menos 189 vezes.
Os professores contemplados pelo financiamento de pesquisa recebem recursos públicos em conta bancária criada para essa finalidade. A servidora, então vinculada à Funcamp (Fundação de Desenvolvimento da Unicamp), trabalhava na facilitação dos trâmites entre pesquisadores e agência. Na posse dos valores repassados pela Fapesp, a denunciada os desviava, em proveito próprio, para sua conta bancária.
A ré teve seu pedido de prisão preventiva decretado durante as investigações.
Resposta da Unicamp
Em nota ao Hora Campinas, a universidade pontuou as seguintes questões:
A Unicamp recebeu, em 5 de maio, manifestação do Ministério Público datada de 30 de abril, com a apresentação de novos indícios relacionados ao caso, além de ofício assinado às 15h31, solicitando a instauração de sindicância administrativa. Importante destacar que a Universidade tomou conhecimento da manifestação e dos documentos mencionados apenas na referida data.
A Unicamp solicitou ao Ministério Público o envio das cópias das folhas citadas. A Universidade já recebeu o material, que está sendo analisado e enviará resposta dentro do prazo de 30 dias estabelecido.
A Unicamp apurou os fatos internamente por meio da instauração de sindicância administrativa, na qual foram ouvidos diversos servidores e analisados documentos pertinentes. Ao final dos trabalhos, a Comissão de Sindicância recomendou a adoção de medidas administrativas voltadas à melhoria dos escritórios de apoio, concluindo pelo arquivamento do processo.
Importante esclarecer que os recursos em questão são oriundos da FAPESP. Nas ações movidas por docentes contra a FAPESP, a Unicamp e a FUNCAMP, as decisões de mérito têm sido favoráveis à Universidade, com a condenação dos docentes ao ressarcimento dos valores à fundação. Assim, até o momento, não há risco concreto ao patrimônio público da Unicamp.
Cabe ressaltar que a apuração conduzida pela Universidade se restringe à esfera disciplinar. Até a última manifestação do então reitor, professor Antonio José de Almeida Meirelles, em 16 de abril, não haviam sido apresentadas novas provas que justificassem a abertura de novo processo de sindicância mais específico. No entanto, conforme registrado na própria decisão do reitor, seria necessário aguardar o avanço do Inquérito Policial instaurado e das ações judiciais em curso contra a Universidade para eventual reavaliação do caso.
Nesse sentido, a Unicamp reitera que não houve qualquer omissão por parte do ex-reitor na condução do caso, tendo ele determinado a apuração dos fatos e instaurado sindicância administrativa.