O câncer, é um grupo extenso de doenças malignas e que apresentam em comum a multiplicação desordenada de células anormais de algum lugar do corpo. Tecnicamente é denominada de neoplasia, e recebe o nome de acordo com o órgão e tipo de células acometidas. A gravidade da doença depende da velocidade de multiplicação das células malignas e da capacidade de as lesões apresentarem metástases (no caso dos tumores sólidos), que é a invasão pelas células de tecidos ou órgãos vizinhos ou distantes.
As neoplasias podem se originar por causas internas (alterações genéticas) e por causas externas (ambientais, por exemplo). Além disto, são as doenças que podem ter sua etiologia ligada à exposição a agentes externos (químicos, físicos e biológicos), capazes de alterar a estrutura interna das células e desencadear instabilidade genética celular que é a base do processo patológico.
O câncer é a segunda maior causa de morte no mundo (caminhando para primeira) e a quantidade de casos novos diagnosticados por ano (incidência) vem aumentando ao longo do tempo. Este aumento se deve ao estilo de vida da população com maior exposição aos fatores de risco, ao envelhecimento da população, à melhoria e acesso aos meios de diagnósticos.
O risco de adoecer aumenta com a idade, tanto pelo envelhecimento natural das células que se tornam mais vulneráveis às exposições como pelo acúmulo de tempo de exposição a diversos fatores ao longo da vida. Na atualidade, o conhecimento clínico e biológico nos permitem olhar com clareza e positividade para as neoplasias.
Os enormes avanços permitiram ampliar os conhecimentos sobre os fatores de risco, prevenção, diagnóstico e tratamento aumentando os índices de controle e cura, melhorando a qualidade de vida e prolongando dignamente a vida de muitas pessoas. Saber quantas pessoas são acometidas pela doença, suas principais características e distribuição nas populações é de suma importância para aumentar o conhecimento dos diferentes tipos de neoplasias, sua evolução ao longo dos anos e assim, possibilitar o planejamento e programação das ações de saúde. Esta é a missão dos Registros de Câncer.
Os Registros de Câncer são centros sistematizados que coletam, armazenam e analisam de forma contínua todo caso novo de câncer diagnosticado de uma população definida. Os registros podem sistematizar os dados de incidência de uma população específica, sendo chamado de Registro de Câncer de Base Populacional (RCBP), ou de uma instituição hospitalar denominado registro Hospitalar de Câncer (RHC).
Estes importantes centros de informação são os que nos permitem monitorar a situação da doença e servem de base para realização das estimativas de incidência para outras localidades. Além da quantificação de casos novos, segundo variáveis demográficas e epidemiológicas, os dados coletados permitem acompanhar a tendência temporal dos vários tipos de câncer, fornecer informações para estabelecer programas de prevenção e de detecção precoce, auxiliar na análise de resultados de programas já implementados e ajudar na programação de ações e serviços necessários para o tratamento dos casos diagnosticados.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) é o órgão do Ministério da Saúde (MS) que desenvolve e coordena as ações de prevenção e controle do câncer. Dentre suas inúmeras funções, a instituição é responsável pelo apoiar tecnicamente, fomentar e incentivar os registros, bem como centralizar as bases de dados e sistematizar e disponibilizar os resultados e estimativas para todo o país.
O Brasil tem atualmente 33 RCBP implantados e em funcionamento, sendo que destes 5 estão no estado de São Paulo e um deles no município de Campinas. O RCBP de Campinas iniciou seus trabalhos em 1992 através de um convênio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e funcionou assim até 2014.
Após um pequeno período de inatividade, em 2014 a SMS através do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) assumiu a gestão do RCBP e iniciou suas atividades em 2015. O município conta também com cinco RHC (Hospital Celso Pierro, Hospital Mario Gatti, Hospital das Clínicas da Unicamp, Caism e o Centro Infantil Boldrini).
As coletas de casos de neoplasias de moradores de Campinas são realizadas em diversos tipos de instituições de saúde públicos e privados como laboratórios de patologia, clínicas de quimioterapia e radioterapia, clínicas de oncologia clínica, hospitais, entre outros. Além disto são incorporados os casos dos RHC e os óbitos do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) que tiveram como causa as neoplasias, garantindo assim uma ampla cobertura deixando as incidências encontradas o mais próximo possível da realidade.
Além da quantificação de casos novos segundo variáveis demográficas e epidemiológicas, os dados coletados permitem acompanhar a tendência temporal dos vários tipos de câncer, fornecer informações para estabelecer programas de prevenção e de detecção precoce, auxiliar na análise de resultados de programas já implementados e ajudar na programação de ações e serviços necessários para o tratamento dos casos diagnosticados.
No mundo existem mais de 700 Registros de Câncer, porém sua distribuição e cobertura não são uniformes, sendo que a Ásia e a África apresentam as menores coberturas (8 e 11% respectivamente). A International Agency for Research on Cancer (IARC) é a agência da Organização Mundial de Saúde (OMS) especializada em câncer.
Foi criada em 1965, está sediada em Lyon na França e sua missão é promover a colaboração mundial na pesquisa do câncer. Além de realizar inúmeros estudos relevantes ao combate destas doenças, a IARC centraliza as bases de dados dos registros ao redor do mundo que apresentam índices de qualidade elevados e com eles sistematiza as estatísticas mundiais do câncer.
Neste ano de 2022, o RCBP de Campinas foi incluído neste banco de dados mundial.
Esta é, sem dúvida, uma extraordinária conquista para a cidade, à sociedade e ao nosso sistema de saúde. Ampliar os conhecimentos nesta área prioritária de nossa saúde pública, auxilia no enfrentamento deste importante problema. Assim, o RCBP tem cumprido sua missão, tornando-se instrumento relevante aos gestores e trabalhadores da saúde, tanto em nível nacional como internacional.
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020;
Dra. Juliana Natívio – Responsável pelo Registro de Câncer de Base Populacional de Campinas – Devisa – Secretaria de Saúde de Campinas