Outro dia, na academia, reencontrei uma pessoa que preparei para uma prova oral há dezenove anos. Na época, ela sonhava em se tornar juíza e já havia sido reprovada duas vezes. Chegou até mim buscando clareza e presença para aquela etapa tão decisiva. Trabalhamos o conteúdo da fala, o tom de voz, a postura, a intenção por trás de cada resposta. Ela passou. Mas o que realmente me marcou naquela experiência foi algo que ia muito além da técnica. Foi o momento em que ela compreendeu sua própria relevância. Ela entendeu que não estava apenas ali para responder perguntas, mas para mostrar quem era, o que representava e o valor que poderia entregar. Essa consciência mudou tudo.
Esse reencontro, tantos anos depois, me fez refletir sobre o que realmente sustenta uma marca pessoal forte. Porque não se engane, marca pessoal não se resume a uma boa aparência, a vestir-se de forma estratégica ou a manter uma presença constante nas redes sociais.
Tudo isso tem seu lugar, claro, mas vem depois. Antes de qualquer estratégia, vem algo mais profundo: a clareza sobre quem você é, o que representa e o impacto que gera nas pessoas à sua volta. Essa clareza é o que chamo de base da marca pessoal. É o alicerce invisível que dá força à sua presença, que define o tom da sua fala e que faz com que as pessoas se lembrem de você não apenas pelo que faz, mas pela experiência de estar com você.
Marca pessoal é, em essência, a percepção que as pessoas constroem a seu respeito a partir de tudo o que você comunica. Está nas palavras, nas atitudes, nas decisões e nos valores que você expressa, mesmo quando não diz nada. É o que os outros comentam quando você sai da sala, o que fica no ar depois de uma conversa, o que ecoa do seu nome quando alguém o menciona em outro ambiente. Por isso, fazer a gestão da própria marca com intencionalidade é um dos maiores diferenciais de qualquer profissional. Não importa a área em que você atua.
Todos nós temos uma marca pessoal, queira ou não. A grande pergunta é se você tem sido estratégico sobre ela. Lembro de uma cliente que me disse certa vez: “Todo mundo deveria passar por um processo assim, porque a gente passa a se enxergar de um jeito que muda tudo.”
E é exatamente esse o ponto. Antes de ajustar a oratória ao público, antes de pensar na presença digital, antes mesmo de escolher a roupa ou a imagem de perfil, vem a relevância. Tudo começa na consciência de que você tem algo único a oferecer. Que sua história, seus aprendizados, seus valores e sua forma de se comunicar carregam potência. Quando essa consciência desperta, você começa a cuidar da sua marca de um lugar mais verdadeiro, mais maduro e menos preocupado com a aprovação dos outros. Você passa a agir não pelo medo de errar, mas pela confiança no que tem para contribuir. E isso muda tudo, porque uma comunicação sustentada pela relevância é naturalmente inspiradora.
Se você chegou até aqui, talvez já sinta vontade de olhar para si com mais curiosidade e intenção. Esse é o primeiro passo. Reflita sobre o que o torna diferente, sobre o valor que sua presença agrega e sobre as experiências que só você pode oferecer.
A relevância já está em você. O que falta, muitas vezes, é apenas clareza para reconhecê-la. E é essa clareza que constrói uma marca pessoal verdadeira, estratégica e inesquecível. Porque, no fim das contas, o segredo dos profissionais que se tornam memoráveis é simples: eles sabem quem são, vivem com propósito e deixam que sua comunicação reflita exatamente isso.
Cecília Lima é fonoaudióloga, especialista em Oratória e Comunicação para Líderes. Há 20 anos, dedica-se a guiar líderes a colocarem suas ideias com confiança, clareza e assertividade, conquistando a influência que precisam para crescerem na carreira e na vida. Conheça:@cecilialimaoratoria