A sucessão no comando da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas tem mais um capítulo. Um ofício enviado ao prefeito Dário Saadi (Repub) reforça o movimento organizado por acadêmicos e intelectuais da cidade em defesa do nome do maestro Júlio Medaglia para suceder Victor Hugo Toro, que deixou a regência titular no último dia 31 de dezembro, após dez anos no cargo. O documento exalta as qualidades de Medaglia e enumera argumentos que, na visão dessa campanha, beneficiariam a orquestra e a cidade de Campinas como polo cultural.
O documento é assinado pelo ex-procurador do Município e ex-secretário de Negócios Jurídicos Antonio Caria Neto, em conjunto com o advogado, jornalista e historiador Jorge Alves de Lima, presidente da Academia Campinense de Letras (ACL). Lima lidera o movimento que defende o nome de Júlio Medaglia. Ele tem postado nas redes sociais seguidas manifestações, além de escrito artigos sobre o tema. O Hora Campinas publicou texto de sua autoria na edição digital desta quinta-feira (6). O Hora, também, já publicou reportagem narrando esse movimento e abordando os bastidores da sucessão.
O ofício endereçado a Dário Saadi pontua uma série de qualidades de Medaglia, e detalha o seu currículo. “Com o devido respeito e aproveitando a oportunidade, externarmos os mais sinceros parabéns pela gestão que vem imprimindo perante a Administração Pública Municipal de Campinas. Sabedores que no mês em curso, V.Exa., tem a missão de indicar o maestro para nossa querida Orquestra Sinfônica, tomo a liberdade de apresentar o currículo do renomado maestro brasileiro, de reconhecimento internacional e contatos importantes”, começa o texto.
E continua. “A indicação se mostra muito oportuna, diante da carência que vem passando nossa Orquestra Sinfônica, sendo que a indicação representa um avanço na cultura de Campinas, pois o maestro Júlio Medalha, como se vê de seu currículo, diplomou-se em regência sinfônica na Alemanha, na Meister-Klasse da Escola Superior de Música da Universidade de Freiburg, e após vários cargos inclusive na Filarmônica de Berlim”.
Processo de escolha
O assunto segue sendo discutido internamente na Secretaria Municipal de Cultura. A tendência é que a definição ocorra entre esse mês e fevereiro. A Orquestra está em recesso e a nova temporada ainda não foi definida. Essa agenda só será organizada com a definição do diretor artístico da OSMC.
O tema é espinhoso para o prefeito, já que ele se comprometeu durante a campanha eleitoral, junto com outros candidatos, a respeitar uma lista indicada pelos músicos. De acordo com a secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, a vontade dos músicos será respeitada.
“A lista dos músicos foi feita a partir de uma pesquisa realizada por eles e enviada pela Associação de Músicos da Orquestra. A lista contém 5 nomes (dois deles estrangeiros e três brasileiros ou naturalizados). Quero ressaltar que respeitamos a vontade dos músicos porque eles têm entendimento do que esperam para a regência da Orquestra”, pontuou ela em nota enviada à imprensa.
Alexandra Caprioli, no final de dezembro, disse o seguinte: “Nesse momento, estamos em processo de análise desses nomes, fazendo o contato com os indicados e conferindo documentação, currículo e dados da formação que o cargo exige. Estamos respeitando o desejo indicado pelos músicos e o que for resultado desses contatos será informado ao prefeito. É prerrogativa do prefeito a escolha do novo maestro da Orquestra”.
Dário praticamente sepulta chances
O prefeito Dário Saadi, em entrevista exclusiva ao Hora Campinas, praticamente acabou com as esperanças do movimento liderado pelo acadêmico Jorge Alves de Lima. Ele disse que respeitará a lista dos músicos, conforme compromisso assumido na campanha. Dário fez questão de exaltar, porém, as qualidades de Júlio Medaglia e sua biografia.
O ofício assinado pelo jurista Antonio Caria Neto e por Jorge Alves de Lima pondera que o prefeito avalie as virtudes de Júlio Medaglia. “Esperamos que V.Exa., analise os currículos apresentados pelos músicos da Orquestra Sinfônica de Campinas, juntamente com o ora apresentado pelos intelectuais de Campinas. Verificando o currículo que melhor atenda aos anseios da comunidade de Campinas e que muito engrandecerá a cultura municipal”, pontuam.
“Esperando ter contribuído na escolha do maestro que estará à frente da nossa conceituada orquestra, renovamos nosso compromisso de apoiar e contribuir com a Administração Municipal no que precisar”, finaliza o ofício.
Não vai desistir
Profundo conhecedor da vida e da obra do maestro Carlos Gomes, Jorge Alves de Lima entende que Júlio Medaglia poderia contribuir de forma significativa, elevando ainda mais o nome da Sinfônica e colocando-a num patamar de repercussão internacional. “Júlio Medaglia é o maestro que a Orquestra Sinfônica da terra de Carlos Gomes merece”, resume o acadêmico. O Hora apurou que Medaglia não deseja se manifestar por entender que o tema é de competência da Prefeitura de Campinas, afinal o cargo de maestro titular da Sinfônica é comissionado, de livre nomeação do prefeito Dário Saadi (Repub).
Se depender de Jorge Alves de Lima, o assunto não vai arrefecer tão cedo. “Não vou desistir”, reforça.