Há um ano iniciou em nosso País o isolamento social como medida para conter a Pandemia do Coronavírus. No início tudo era novidade. Uns reagiram bem, até gostando da nova realidade. Outros nem tanto, ávidos desde o primeiro momento para que tudo retornasse ao normal, como era antes. Já nas primeiras semanas foi cunhada a expressão “o novo normal”, onde muitos se arriscaram numa espécie de futurologia, imaginando como será o mundo pós-pandemia. Passaram-se semanas, meses… um ano! E eis que nos vemos agora entre o medo, o cansaço, o desalento e a esperança.
A vacina chegou, mas muitas incertezas ainda nos invadem e aprisionam. Nesse cenário complexo e tumultuado em que vivemos, talvez nos ajude a seguir adiante com mais serenidade se evitarmos o que poderíamos chamar de “provisoriedade” nas nossas vidas.
É certo, por um lado, a transitoriedade de quase tudo nas nossas vidas. Aliás, ela própria um dia chegará ao seu fim. Apesar disso, cada momento da nossa existência está para ser vivido e aproveitado ao máximo, pois são oportunidades que nos permitem sermos cada vez melhores como pessoas.
As situações difíceis por que passamos talvez nos coloquem numa postura de pura expectativa. Não vivemos, mas esperamos isso passar para, então, voltar a viver. E isso reflete nos mais diversos aspectos da nossa vida. São exemplos disso: a ansiedade doentia com que aguardamos a nossa vez de tomar a vacina; devorar notícias, números, estatísticas etc. sobre a pandemia para saber se, enfim, a ciência irá derrotar o vírus; mesmo na rotina da casa, muitas vezes fica um caos – que pensamos ser inevitável – até que as coisas melhorem.
Talvez nos ajude a encarar melhor essa situação se nos empenhássemos em viver o hoje e o agora tão intensamente quanto nos for possível. É claro que desejamos ardentemente que tudo isso passe, que a doença deixe de ceifar vidas humanas, que voltemos a circular com mais tranquilidade. Mas, enquanto isso não acontece, a nossa vida não parou.
Essa postura otimista pode impregnar muitos aspectos da nossa vida. Por exemplo, organizar a casa, na medida das possibilidades, para que possamos ficar da maneira mais harmoniosa possível na situação em que nos encontramos. Talvez seja o caso de colocar uma mesa de estudos no quarto em que a filha ou o filho assiste aulas online. Talvez seja o caso de exigir mais a cooperação de todos – marido e filhos, principalmente – para cuidar da limpeza, da ordem, distribuindo as tarefas domésticas de maneira mais justa e equitativa. Talvez, ainda, seja o caso de pensarmos em momentos de descontração em casa, ou passeios que possam ser feitos sem risco, conforme as regras vigentes, para que se possa descansar, recuperar as forças, enfim, desfrutar desse tempo que nos cabe viver também intensamente.
Tal como um quadro, a nossa vida é feita de luzes e sombras. É da disposição harmoniosa de umas e outras que se extrai a beleza de pintura. Igualmente, os momentos difíceis e os aparentemente mais fáceis se alternam nessa nossa breve passagem. Assim, viver intensamente os momentos sombrios é uma maneira de contribuir diretamente para dar um sentido a nossa existência como um todo.
O que faríamos se nos dissessem que essa situação ainda há de perdurar por meses ou anos? Iríamos esbravejar? Revoltar-se? Perguntas de impacto como essa nos ajudam a repensar o sentido que estamos dando às nossas vidas. Cada minuto é precioso e digno de ser vivido intensamente. E, convenhamos, há mediocridade maior do que preencher o nosso tempo com um simples… esperar passar?
Fábio Henrique Prado de Toledo, casado com a Andréa Toledo, pai de 11 filhos e avô de 2 netas, moderador em cursos de orientação familiar do Instituto Brasileiro da Família – IBF e especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC, é Juiz de Direito em Campinas. Site: www.familiaeeducação.com.br. E-mail: [email protected]