Quem frequentou as mais badaladas casas noturnas de Campinas e região no fim dos anos 1990 e início da década de 2000, com certeza foi recepcionado por ela ou assistiu a algumas de suas inusitadas performances. Naquela época, enquanto a tecnologia do LED ainda engatinhava, Leslie Oliveira já brilhava nos palcos com roupas de LED feitas sob medida pelo estilista e DJ César Machia. Causou inveja em outros performers e até em artistas conhecidos nacionalmente.
O tempo de trabalhar na noite como hostess e performer passou e a então artista voltou-se para uma vocação que foi descobrindo ao cuidar do avô quando estava doente. Passou por instituições de apoio a pacientes com câncer e HIV, mas foi em uma nova busca profissional, na área de produção de eventos, que se viu em apuros quando a pandemia de Covid-19 chegou no começo de 2020.
Vendo tudo parar, sem eventos e com as contas chegando, Leslie decidiu ir para as ruas de Campinas para trabalhar. Em frente à Justiça do Trabalho, ou no cruzamento entre a Avenida Aquidaban e a Rua Barão de Jaguara, ela vende balas para honrar alguns compromissos e com a esperança de que em breve possa retomar a vida que deixou para traz em março do ano passado. O Hora Campinas conversou com Leslie sobre este novo desafio em sua vida.
Hora Campinas – Quantos anos você trabalhou na noite como artista?
Leslie Oliveira – Foram mais de 20 anos. Fui hostess de muitas casas noturnas em Campinas e cidades da região como Americana. Eu também fazia performances e era muito conhecida principalmente no fim dos anos 1990 por fazer shows toda vestida com LEDs. Pela minha arte eu até levava choque, porque naquela época para acender os LEDs era preciso ligar na tomada, então minha roupa tinha uns fios enormes e as vezes esbarravam em algum detalhe em metal o que causava a descarga elétrica.
E como decidiu trabalhar na saúde?
Fui para a saúde depois ter cuidado do meu avô que desenvolveu um câncer. Ele me inspirou a cuidar de outras pessoas e passei dois anos em uma casa de apoio a portadores de HIV/AIDS e outros cinco anos no Instituto Dr. Cândido Ferreira, onde era monitora.
Antes da pandemia estava trabalhando em que área?
Estava trabalhando na produção de eventos.
Quando você percebeu que sua situação estava ficando complicada?
Quando foi tudo parando por causa da pandemia. De repente não havia shows, teatro, cinema ou qualquer outro tipo de evento. Percebi que a coisa estava séria e que minha vida ia complicar.
Antes de ir trabalhar na rua você pensou em fazer alguma outra atividade?
Tentei várias coisas, inclusive fui trabalhar na prostituição, mas não consegui, principalmente por ser uma vida muito triste e difícil, mas era a única forma de pagar aluguel e comer.
Como surgiu a ideia de vender balas?
Pesquisei algum tipo de atividade que poderia ser rentável e que não fosse tão perigosa.
Como foi seu primeiro dia?
Foi muito constrangedor e humilhante. Muitas pessoas fechavam as janelas dos carros quando eu me aproximava.
Você postou em suas redes sociais que algumas pessoas acham que seu trabalho não é digno. O que você diria para estas pessoas?
Digo que, para quem tem força de vontade, trabalho não falta e todo trabalho digno é abençoado.
Que tipo de situação você encontra no seu dia de trabalho?
Pessoas educadas, pessoas que me ignoram, pessoas que ajudam e pessoas que fingem não me ver. Nas ruas a gente vive de tudo um pouco.
Do que você mais gosta ao final de um dia de trabalho?
No final do dia o que mais gosto é quando acabo de vender minhas balinhas, ergo as mãos para o céu e agradeço a Deus.
E do que menos gosta?
Dor nas pernas (risos).
Que conselho você daria a uma pessoa que está passando um momento difícil como o seu?
Não desistir, ter força, foco e fé. Vá à luta e corra atrás que a vitória vem.
Você tem um ponto de trabalho fixo?
Trabalho de segunda a sábado na Av. Aquidaban, no cruzamento com a Rua Barão de Jaguara, bem em frente à Justiça Federal, das 9h às 15h
Se alguém quiser ajudar, qual a melhor maneira?
Se alguém quiser me ajudar pode passar no lugar onde fico e comprar. Se puder me ajudar com algum apoio pode entrar em contato pelo Whatsapp (19) 983209923.