Os efeitos colaterais da pandemia de Covid-19 vão além das sequelas causadas pelo coronavírus na saúde. É o que mostra pesquisa sobre a saúde ocular em Campinas e região metropolitana (RMC) neste período. Levantamento realizado pelo médico oftalmologista, Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, a partir do banco de dados do SIA/SUS (Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS) mostra queda de de 67,6% nas cirurgias de catarata nestes dois anos.
Na saúde suplementar, observa o especialista, a oftalmologia ocupa a terceira posição em número de consultas por causa do aumento da miopia no País e rápido envelhecimento da população. “Apesar disso, o relatório do SIA/SUS revela que de março a dezembro de 2020, 383 mil consultas oftalmológicas deixarem de ser feitas na RMC”, ressalta Queiroz Neto.
De 491,7 mil atendimentos em 2019 foi para 107,9 mil em 2020, uma queda na região de 78%, mais que o dobro dos 35% mapeados em todo Brasil.
Queiroz Neto ressalta que a cidade de Campinas respondeu por 53% dos atendimentos da RMC em 2019, ano em que foram realizadas 261,8 mil consultas oftalmológicas. Na pandemia, com a completa paralisação do setor nas demais cidades da RMC, os hospitais e clínicas da cidade fizeram todas as 107,9 mil consultas do ano passado, mais as 178 mil até agosto deste ano.
O oftalmologista afirma que a paralisação dos serviços por um período, o medo do coronavírus, o isolamento em casa e a falta de sintomas no início de muitos problemas de visão contribuíram com a redução dos atendimentos. Mas adverte a população que embora deixar de usar óculos não piore a visão, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a falta deles como a maior causa de deficiência visual no mundo.
“O pior é que mais horas no computador ou celular neste período está aumentando a miopia em crianças. Muitas não percebem a dificuldade de enxergar à distância porque só estão usando a visão de perto. A boa notícia é que hoje já existem terapias para controlar a miopia infantil”, comenta o especialista.
O levantamento no SIA/SUS também mostra que até setembro as cirurgias oftalmológicas na RMC já superaram em 9,5% o número de operações de 2019. Saltou de 7,5 mil procedimentos em 2019 para 8,2 mil depois de cair 28% no primeiro ano da pandemia.
Fila de catarata aumenta
Na contramão, a cirurgia de catarata que em 2019 respondia por 52% de todas as operações nos olhos, hoje equivale a 21%. “Pesquisa publicada na renomada revista científica The Lancet mostra que entre março e agosto de 2020 nosso sistema público de saúde deixou de fazer 1,119 milhão cirurgias. Mais de 900 mil operações são eletivas, como é o caso da catarata, primeira neste ranking”, explica Leôncio Queiroz.
O pior é que entre 2010 e 2019 o número de cegos no Brasil triplicou. Os relatórios do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), do qual Queiroz Neto faz parte, mostram que neste período o número de brasileiros cegos saltou de de 506,3 mil para 1,577 milhão e só a catarata responde por 49% dos casos de perda da visão.
Sintomas e tratamento
Os principais sintomas da catarata, detalha o especialista, são troca frequente dos óculos, ofuscamento em locais ensolarados, diminuição do reflexo no trânsito, enxergar halos ao redor da luz, perda da visão de contraste, dificuldade para enxergar à noite e necessidade de mais iluminação para ler.
O problema, observa, é que estas alterações são progressivas, nosso cérebro vai se adaptando à nova condição e por isso uma dúvida frequente em pacientes com mais de 60 anos é qual o momento certo de operar.
“Quando ocorre a dificuldade de realizar tarefas corriqueiras, é neste momento que óculos já não corrigem a catarata”, pontua. O único tratamento é a cirurgia em que o cristalino opaco é substituído pelo implante de uma lente intraocular no olho. A operação é rápida, feita com anestesia local por colírio e não requer hospitalização. No dia seguinte já é possível retomar as atividades, segundo o médico.
Prevenção
Queiroz Neto afirma que não tem como evitar a catarata porque sua maior causa é o envelhecimento, mas pode ser adiada. As principais medidas para prevenir o problema são:
– Use óculos com filtro ultravioleta nas atividades externas. A radiação UV do sol aumenta em 60% o risco da catarata
– Monitore a glicemia. O diabetes descontrolado dobra o risco de catarata.
– Durma de 6 a 8 horas. O sono é nosso melhor antioxidante.
– Controle o consumo de sal e bebidas alcoólicas.
– Evite fumar.