Muito além de eventos midiáticos como Jogos Olímpicos de Inverno, Super Bowl e All-Star Game da NBA, um dos grandes momentos esportivos deste mês de fevereiro foi a inédita conquista continental de Senegal no futebol masculino.
Os Leões de Teranga, como é conhecida a seleção do país, faturaram o troféu da Copa Africana de Nações no último dia 6, com vitória nos pênaltis por 4 a 2 sobre o Egito, após empate em 0 a 0 no tempo normal, em jogo disputado em Yaoundé, capital de Camarões, país-sede do torneio.
O primeiro título africano da história sexagenária da nação senegalesa coroou o atacante Sadio Mané, que marcou três gols e foi o eleito melhor jogador da competição. Na grande final, ele até perdeu um pênalti no início do jogo, mas converteu a cobrança decisiva da disputa a partir da marca da cal, levando a melhor sobre o craque egípcio Mohamed Salah, seu companheiro de ataque no Liverpool. Atual campeão europeu e mundial com o Chelsea, melhor jogador do mundo em sua posição em 2021, o goleiro Édouard Mendy defendeu uma das penalidades na final e apareceu na seleção da Copa Africana.
Astros do futebol inglês, Mané e Salah já têm dois novos encontros marcados para os dias 25 e 29 de março, quando Senegal e Egito disputarão uma vaga na Copa do Mundo de 2022, que será disputada em novembro, no Catar.
No dia seguinte à conquista, com o decreto de feriado nacional, emocionantes imagens da festa do povo senegalês nas ruas da capital Dakar viralizaram na internet e impressionaram o mundo inteiro. O grito estava engasgado na garganta.
“Foi uma alegria total para mim e para o povo senegalês. Era o desejo de um país inteiro. Fiquei aqui torcendo e gritando”, revelou o meia-atacante Papa Faye, que possui contrato com a Ponte Preta até o fim de maio.
As comemorações pelo histórico triunfo de Senegal extrapolaram as fronteiras da África, espalharam-se pelo mundo e se estenderam até mesmo à cidade de Campinas, onde o jovem meia-atacante pontepretano Papa Faye, de 25 anos, vibrou com a glória de seu país de origem.
“Foi uma final com bastante intensidade entre duas grandes nações do futebol africano, que se conhecem muito bem e já se enfrentaram várias vezes. Foi um título muito merecido para Senegal, que mostrou vontade de ganhar, atacando desde o início e com mais chances de gol do que o Egito, que estava mais se defendendo e jogando no contra-ataque”, comentou Papa Faye, no dia seguinte à final, em entrevista à RFI, a Rádio França Internacional, com emissão para países africanos.
Até 2015, o auxiliar técnico das categorias inferiores de Senegal era o ex-jogador Aliou Cissé, volante e capitão de Senegal na Copa do Mundo de 2002, quando a equipe africana escreveu história e chegou até as quartas de final em sua primeira participação. Há sete anos, Cissé é o treinador da seleção principal de Senegal, tendo conduzido o futebol do país de volta ao Mundial após 16 anos, em 2018, e ao recente título inédito da Copa Africana de Nações.
Com passagem pelas categorias de base da seleção de Senegal, Papa Diene Faye foi convocado para o Campeonato Mundial Sub-20 de 2015, na Nova Zelândia, mas entrou em campo somente nos minutos finais da derrota por 3 a 0 para Portugal, pela fase de grupos. A equipe senegalesa chegou às semifinais, mas perdeu para o Brasil com uma goleada por 5 a 0. Os brasileiros terminaram como vice-campeões da competição, perdendo o título para a Sérvia.
Naquela época, Papa Faye ainda jogava no futebol local de Senegal, mas não demorou a ser contratado pelo AS Salé, de Marrocos. Com problemas de salário atrasado, ele acabou deixando a equipe, mas continuou no país do norte africano e passou a treinar em uma academia de desenvolvimento de jogadores chamada Ginga Foot, em Casablanca.
Lá, Papa Faye conheceu e chamou a atenção do treinador brasileiro Rodrigo Álvaro Theodoro, formado nas categorias de base da Ponte Preta nos anos 90, na mesma época em que o ex-atacante Lucas Pereira, que se tornou empresário depois de pendurar as chuteiras. Por indicação de Theodoro, Pereira começou a agenciar Papa Faye e viabilizou um intercâmbio esportivo para o jogador no Brasil, por meio de parceria com a Macaca.
Com o sonho de construir uma carreira no futebol brasileiro, Papa Faye chegou a Campinas em outubro de 2019, passou por três meses de avaliação na Ponte Preta e foi contratado em definitivo pelo clube alvinegro em janeiro de 2020.
O meia-atacante senegalês estreou oficialmente no dia 12 de março de 2020, na vitória por 3 a 0 sobre o Afogados-PE, no estádio Moisés Lucarelli, pela Copa do Brasil. Apenas cinco dias depois, houve a paralisação de quatro meses do futebol brasileiro em decorrência da pandemia de Covid-19, que exigiu rigorosas medidas sanitárias.
Fora de seu país natal e longe da família, Papa Faye precisou deixar o alojamento no Majestoso e residir temporariamente com seu empresário Lucas Pereira, que o acolheu na casa onde morava com a noiva, em Campinas.
Entre março de 2020 e março de 2021, Papa Faye disputou sete partidas com a camisa da Ponte Preta, sempre saindo do banco de reservas e sem nenhum gol marcado. Ao todo, ele jogou 82 minutos pelo time profissional da Macaca.
Com a volta do futebol brasileiro a partir da adoção de protocolos, inicialmente sem público nos estádios, Papa Faye ganhou novas oportunidades na Série B de 2020 e no Campeonato Paulista de 2021, mas depois disso não entrou mais em campo com a camisa da Ponte Preta. Em abril do ano passado, Papa Faye teve o vínculo renovado com a Ponte Preta, mas na sequência foi emprestado ao São Bento para ganhar mais ritmo de jogo e experiência.
Neste ínterim, no início de junho, ele conseguiu viajar a Senegal para matar a saudade da esposa, dos pais e dos irmãos, além de conhecer a filha, Mama Fatou, que havia nascido durante a pandemia. Alguns dias após retornar ao Brasil, Papa Faye sofreu um enorme baque: a precoce morte de Lucas Pereira, aos 39 anos, em decorrência de complicações da Covid-19.
Apesar da morte de seu empresário Lucas Pereira, Papa Faye seguiu adiante no futebol brasileiro. Pelo São Bento, emprestado pela Ponte Preta, o jogador disputou nove jogos da última Série D, sendo cinco como titular, e três partidas da Copa Paulista, com um gol marcado.
De volta à Ponte Preta em janeiro deste ano, após o fim do empréstimo de seis meses à equipe de Sorocaba, Papa Faye realizou pré-temporada com o restante do elenco alvinegro, mas chegou a ficar alguns dias afastado dos treinos por ser um dos jogadores infectados no surto de Covid-19 que atingiu a equipe. Fora da lista de inscritos do Campeonato Paulista, ele possui contrato com a Ponte Preta até o próximo dia 30 de maio, mas o futuro é incerto no clube.