“Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar”. O verso é de Amadeu Thiago de Mello, ou simplesmente Thiago de Mello, poeta e tradutor amazonense que faleceu nesta sexta-feira (14) de causas naturais, aos 95 anos. O corpo do poeta será velado no Centro Cultural Palácio Rio Negro, no centro de Manaus.
O governador Wilson Lima e o prefeito de Manaus David Almeida, decretaram luto oficial de três dias pelo falecimento do poeta. Em setembro do ano passado, a 34º Bienal de São Paulo homenageou Thiago de Mello.
Considerado um dos poetas mais influentes e respeitados do país, reconhecido como ícone da literatura da Região Norte do Brasil, Thiago de Mello tem obras traduzidas para mais de 30 idiomas. Foi adido cultural do Brasil na Bolívia e no Chile.
Preso durante o regime militar, exilou-se no Chile, onde encontrou no escritor Pablo Neruda um amigo e colaborador. Morou também na Argentina, em Portugal, na França e na Alemanha, antes de retornar ao país onde nasceu, com o fim da ditadura.
Outra grande contribuição de Thiago de Mello para a literatura brasileira é a obra intitulada Os Estatutos do Homem, que dedicou ao amigo Carlos Heitor Cony. Nos últimos versos do poema, Thiago cita: “A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente. Como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem”.
Veja alguns trechos dos poemas de Thiago de Mello
“Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.”
“Não importa que doa: é tempo de avançar de mão dada com quem vai no mesmo rumo, mesmo que longe ainda esteja de aprender a conjugar o verbo amar.”
“O silêncio da floresta é sonoro: os cânticos dos pássaros da noite fazem parte dele, nascem dele, são a sua voz aconchegante.”
Vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar. Vale a pena não dormir para esperar a cor do mundo mudar. Já é madrugada, vem o sol, quero alegria, que é para esquecer o que eu sofria. Quem sofre fica acordado defendendo o coração. Vamos juntos, multidão, trabalhar pela alegria, amanhã é um novo dia.
Que o pão encontre na boca o abraço de uma canção construída no trabalho. Não a fome fatigada de um suor que corre em vão.”
“Como sei pouco, e sou pouco, faço o pouco que me cabe me dando inteiro. Sabendo que não vou ver o homem que quero ser.”