Realizado em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e apoio da Hands On Human Rights, um programa que atende a crianças refugiadas venezuelanas em Roraima, no norte do Brasil, ganhou corações e mentes de pequenos estudantes campineiros.
Realizado pelo jornal Joca – especializado em informações para o público infanto-juvenil – o programa foi batizado de Mi Casa, Tu Casa, Minha Casa, Tua Casa – e promove a interação entre as crianças refugiadas e estudantes brasileiros.
De um lado, o projeto estimula a arrecadação de livros e outras publicações para o público infanto-juvenil, que posteriormente, serão levados até um dos 13 abrigos instalados em Roraima onde, segundo a ONU, vivem 6.600 venezuelanos, sendo 47% das pessoas de até 17 anos.
Cartinhas escritas à mão e enviadas em envelopes, pelos Correios, estão em espanhol
Mas há uma outra forma de interação, que vem comovendo estudantes e professores. As crianças vão trocar cartas, destas escritas à mão e colocadas em envelopes e depois enviadas pelos Correios. Mais que isso. As crianças brasileiras estão escrevendo as cartas em espanhol.
“Imagine a alegria dessas crianças venezuelanas ao verem uma carta de um coleguinha brasileiro, escrita em espanhol?”, pergunta a professora Maria Riera, uma venezuelana do Estado de Lara, mas que vive no Brasil já há quase 20 anos e que é a coordenadora do projeto no Colégio Notre Dame, em Campinas – um dos estabelecimentos de ensino engajados no programa apoiado pela ACNUR.
Ela incluiu no programa crianças das 6ª e 7ª séries – meninos e meninas entre 11 e 12 anos – e com elas tem provocado um mobilização na escola. “Acho que essas crianças nunca escreveram uma carta. Já nasceram com e-maill, wattsApp, redes sociais”, diz.
“Já temos muitos livros a serem entregues. Teve uma aluna, por exemplo, que saiu pelas livrarias da cidade pedindo contribuição. Ela ia num determinado lugar e gravava tudo, para mostrar a mobilização e o engajamento das pessoas”, conta a professora com orgulho.
“Um outro grupo, espalhou bilhetes nos elevadores do condomínio, pedindo contribuições e estimulando a participação de pais e vizinhos”, acrescentou ela. “No final de um dos bilhetes eles escreveram assim: ‘Quem puder, por favor ajude. Ass: pessoas que se importam em ajudar o próximo: crianças’. Um coisa linda, comovente”, avalia a professora.
Maria Riera conta que as cartas trazem informações sobre o modo de vida de cada um – como é lugar onde moram, hábitos do cotidiano, curiosidades sobre a cidade e essa parte do Brasil. “Eles escrevem muito sobre comida brasileira. Falam de coxinha, Carnaval, futebol”, conta. “Um deles escreveu que, quando se encontrassem, iria apresentar ao venezuelano o melhor time de futebol do Brasil – o Guarani Futebol Clube”, conta a professora.
A professora diz que o projeto é importante também por um outro aspecto. “Muitas vezes as pessoas acham que refugiados são apenas aqueles da Síria ou de outros países distantes. O projeto nos mostra que temos refugiados aqui, ao nosso lado”, advertiu a educadora. Ao todo, o Notre Dame conta com cerca de 350 alunos envolvidos no projeto.
O programa de arrecadação de livros e o prazo para o envio das cartas termina no dia 24 deste mês. A intenção é que os livros e cartas sejam encaminhados para Roraima na primeira semana de junho.
Missão
“Acreditamos que a leitura possa levar conforto a essas crianças e adolescentes, permitindo que continuem projetando seu futuro”, diz Stéphanie Habrich, diretora executiva e fundadora do Joca. “Mas os benefícios da ação vão além e também chegam aos jovens que se envolvem pelo Brasil. É uma oportunidade única de interagir com o que está acontecendo em nosso país vizinho. Ao participarem da ação, os jovens serão os protagonistas dessa missão, colocando o projeto em pé”, avalia ela
“O projeto Mi Casa, Tu Casa tira o protagonismo dos adultos, entregando-o aos jovens”
“Quem poderia mudar essa realidade não o faz. São adultos que carregam ideias fixas e preconceituosas. O projeto Mi Casa, Tu Casa tira esse protagonismo dos adultos, entregando-o aos jovens”, diz o conselheiro na Hands On Human Rights, Edgard Raoul.
“A partir do momento em que os jovens se conhecem e se entendem como seres humanos, qualquer diferença sobre nacionalidade, religião e cultura desaparece”, diz ele.
Como participar
O projeto do jornal Joca incentiva que seus leitores, escolas e outras instituições de ensino participem da arrecadação de livros voltados ao público infanto-juvenil tanto na Língua Portuguesa como da Língua Espanhola. Os livros podem ser enviados para a sede da Editora Magia de Ler, responsável pela publicação do jornal Joca.
Para facilitar o envio de respostas dos venezuelanos que quiserem trocar mensagens, serão enviados para os abrigos selos postais, papel e canetas.
O Joca ainda convida os participantes a escreverem uma dedicatória às crianças e jovens venezuelanos nos exemplares arrecadados, bem como cartas que contêm um pouco sobre os costumes e cultura de sua região, com a intenção de integrar as crianças que estão chegando ao País com as brasileiras, por meio do compartilhamento de suas experiências.
Para facilitar e possibilitar o envio de respostas dos venezuelanos que quiserem trocar mensagens, também serão enviados para os abrigos selos postais, papel e canetas.
Além disso, há uma campanha de crowdfunding, disponível no site http://conteudo.jornaljoca.com.br/mi-casa para cobrir as despesas do projeto, tais como a logística de entrega de livros e materiais para montagem dos armários-biblioteca, transporte e alimentação de equipe.
O incentivo é para que jovens de todo o país coloquem suas ideias em prática usando a criatividade – como unir a turma da escola para uma doação em conjunto, por exemplo.