Autor de pautas polêmicas e conservadoras, o vereador Nelson Hossri (PSD) mais uma vez lança mão de uma proposta que deve gerar discussões acaloradas na Câmara Municipal de Campinas. Nesta semana, ele protocolou um Projeto de Lei que proíbe a realização de eventos e reuniões que, segundo o vereador, “fazem apologia ao consumo de drogas ilícitas, causadoras de dependência física e/ou psíquica”. Combater a chamada “Marcha da Maconha” está entre os alvos.
“Esse projeto nem precisa de justificativa”, alega Hossri. “Infelizmente, vivemos tempos sombrios nos quais alguns agentes públicos e formadores de opinião defendem a legalização de drogas. Certamente, ignoram o mal que fazem à sociedade”, completa o vereador.
Hossri ressalta o livre direito à manifestação previsto na Constituição, porém acredita que o objetivo de eventos como a “Marcha da Maconha” é fazer apologia ao seu uso, sem propor uma discussão sobre a legalização ou não das drogas.
“É um erro acreditar que a legalização é o caminho para combater a criminalidade. Pelo contrário. Olha o caso da Holanda, que viu os crimes e degradações aumentarem. No Uruguai, a guerra do tráfico potencializou, e na Califórnia é um caso de saúde pública sério”, comparou Hossri.
O vereador garante ter conhecimento de anos na área de dependência química para justificar sua posição. “O argumento de que a maconha é mais leve não se sustenta. Quem tem propensão à dependência química vai sofrer muito com qualquer experiência com drogas. É preciso combater qualquer estímulo ao uso”, ressaltou.
Controvérsia
O vereador Paulo Bufalo (Psol) criticou o projeto de lei. Para o parlamentar, a pauta levantada por Hossri se contrapõe ao direito constitucional de livre manifestação, o que descredencia um vereador a legislar sobre o tema. Bufalo também levantou outras questões para justificar sua posição.
“Trata-se de um debate que vai além da questão em si levantada pelo projeto de lei. Envolve também ciência, saúde pública e mobiliza a sociedade numa discussão que vai desde a utilização da cannabis medicinal (medicamento derivado da planta da maconha) até a descriminalização da maconha”, argumentou Bufalo.
O vereador também considera a pauta desnecessária diante dos problemas existentes em Campinas e criticou a postura do adversário político. “Nunca vi esse vereador tomando uma iniciativa ou fazendo uma crítica aos movimentos golpistas que aconteceram na cidade e no país”, afirma, referindo-se às manifestações de bolsonaristas contrários ao resultado das eleições presidenciais que culminaram na invasão à sede dos três poderes em Brasília no dia 8 de janeiro. “Ele, aliás, incentivou esse tipo de manifestação.”